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O contato do governo brasileiro com Nicolás Maduro, inicialmente planejado para esta quarta-feira, tem mais pendências do que indicações de que se realizará. Foi pedido por Maduro na semana passada, mas, desde então, o governo brasileiro empilhou condições.
A primeira é que, além de Lula, participem também os chefes de Estado da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Andréz Lopez Obrador. A segunda condição é que também haja um contato com o candidato da oposição Edmundo González. E, finalmente, a terceira é que a situação na Venezuela não se radicalize.
A participação dos três presidentes neste telefonema depende da conciliação de agendas. A segunda condição não apresenta dificuldades desde que González se mantenha em liberdade. O risco de que ele viesse a ser preso foi levantado nesta segunda quando a Corte Suprema venezuelana convocou-o. González decidiu não comparecer, mesma decisão dos demais candidatos. Será, provavelmente, reconvocado.
Pesa ainda, na definição da agenda, o material apresentado pelo Conselho Nacional Eleitoral à Suprema Corte. O governo brasileiro analisa informações recebidas sobre seu conteúdo bem como o estudo conduzido pelo pesquisador da Universidade de Michigan, Walter Mebane, sobre as atas disponibilizadas pela oposição.
O pesquisador, que é um dos maiores especialistas em detecção de fraude eleitoral por modelo estatístico, não encontrou evidências, a partir das atas da oposição, de que a eleição tenha sido fraudada. Das 23.532 mesas com atas publicadas pela oposição, em apenas duas vê chance de fraude. Dessa forma, os números apresentados pela oposição, com 81,7% das urnas apuradas, de 7.156.462 votos para González e 3.241.461 votos para Maduro também não seria um resultado passível de fraude.
Ainda pesa sobre os rumos a serem tomados pela trinca de países mais envolvidos na negociação, a posição flutuante do governo americano. O Itamaraty identifica dissonâncias entre a posição do assessor de segurança nacional, Jake Sullivan, e o secretário do Departamento de Estado, Antony Blinken.
Enquanto Sullivan, interlocutor do assessor da Presidência, Celso Amorim, pautou o telefonema entre o presidente americano, Joe Biden, e Lula, que respaldou a aposta nas atas eleitorais, Blinken reconheceu a vitória de González. Quem conduziu as negociações com a Venezuela nos tratados de Catar e Barbados foi Sullivan. Desde a conversa entre Biden e Lula, porém, pelo menos dois porta-vozes da Casa Branca já deram declarações pelo reconhecimento de González.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, tem mantido contato com chanceleres do continente e da Europa, mas não falou com Blinken desde que a crise com a Venezuela escalou. Entre os contatos diários de Vieira estão os chanceleres do México, Alicia Bárcena, da Colômbia, Álvaro Leyva, e da Espanha, José Manuel Albares.
O chanceler brasileiro também já falou com o chefe da diplomacia europeia, Joseph Borrell, que se mantém afinado com a ideia de que o reconhecimento do resultado depende da publicação das atas eleitorais. Mélanie Jolly, chanceler canadense, completa o rol de chefes da diplomacia que buscam uma posição coordenada sobre a Venezuela.
Nesta segunda-feira, o Brasil obteve a permissão da Venezuela para assumir a custódia das embaixadas argentina e peruana. Quatro diplomatas brasileiros deixaram Brasília para esta missão. A residência do embaixador argentino, expulso do país, onde estão hospedados os sete aliados da líder da oposição, María Corina Machado, tem a segurança e a manutenção providas por contratados locais da chancelaria argentina.
Fonte: Valor Econômico