Por Cristiana Euclydes, Kariny Leal, Augusto Decker e Álvaro Campos
Valor — São Paulo e Rio
25/03/2024 10h58 Atualizado há 9 horas
As empresas listadas na B3 distribuíram R$ 76,68 bilhões em proventos no primeiro trimestre de 2024, um recorde histórico, segundo levantamento da plataforma Meu Dividendo. A Petrobras manteve-se na liderança e pagou R$ 17,89 bilhões em proventos no período.
Com um cenário incerto após anunciar a retenção de dividendos extraordinários, a Petrobras pagou 28% mais proventos de janeiro a março de 2024 do que no mesmo período do ano passado. O levantamento considera o que foi pago pelas empresas nos três primeiros meses do ano, independentemente de quando o provento foi anunciado.
O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, diz acreditar que o recorde nos proventos reflete uma melhora na situação financeira das empresas. “Em 2022 as companhias sofreram bastante, muitas não esperavam uma alta tão forte dos juros e tinham se endividado na época da pandemia, quando as taxas ainda estavam baixas. Então 2022 foi um ano difícil de reorganizar as dívidas. Mas em 2023, já começamos a ver uma casa um pouco mais arrumada.”
Para Cruz, a dúvida para os próximos trimestres é o comportamento das estatais. “Ninguém sabe responder se vai haver uma mudança inesperada. A presidente do Banco do Brasil já disse que vai manter a política de pagamentos, mas quanto à Petrobras, ainda não se sabe”, disse.
No caso da Petrobras, a expectativa é que a empresa se atenha neste ano à regra mínima do pagamento de dividendos ordinários, que é de 45% do fluxo de caixa livre menos investimentos, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Esperamos R$ 4,33 por ação referentes ao exercício de 2024, cerca de R$ 56,6 bilhões. Mantendo o petróleo a US$ 80, a companhia tem tudo para seguir sua dívida bruta abaixo de US$ 65 bilhões e assim seguir distribuindo os proventos dentro da regra.” Para 2025, o analista ainda considera “distribuições razoáveis”. Segundo as estimativas, a Petrobras deve distribuir R$ 51,9 bilhões no total, R$ 3,98 por ação.
Já o Itaú Unibanco pagou aos acionistas R$ 16,62 bilhões em proventos no 1 trimestre, alta de 204% em base anual. Em março o banco liberou um dividendo extraordinário de R$ 11 bilhões sobre o resultado de 2023. Na teleconferência de resultados, o CEO, Milton Maluhy Filho, afirmou que o Itaú continuará pagando um “payout” (distribuição do lucro) mínimo de 30% e ao longo do ano vai observar as variáveis, mas mantendo um índice de capital mínimo de 12%. “É bem possível que tenhamos de novo dividendo extraordinário”, disse.
No levantamento, a Vale ficou em terceiro lugar, com R$ 12,43 bilhões, alta de 29% ante o primeiro trimestre de 2023. A Itaúsa ocupou o quarto lugar, ao distribuir R$ 6,46 bilhões em proventos, alta de 235% em base anual, seguida pelo Banco do Brasil, que pagou R$ 3,6 bilhões em dividendos, avanço de 7%, e pelo banco Santander, que distribuiu R$ 3,01 bilhões em proventos, alta de 76%.
Dos maiores pagadores de proventos nesse primeiro trimestre, apenas BB Seguridade apresentou queda, de 33%, no total de proventos pagos, que somou R$ 2,52 bilhões, de acordo com o levantamento. Por fim, a WEG distribuiu R$ 1,8 bilhão em dividendos, alta de 32%.
Os dados mostram que as oito empresas foram responsáveis por 84% de todo o provento distribuído no primeiro trimestre do ano. Se em montante houve evolução, o modelo de desembolso teve variação em relação aos trimestres anteriores. O percentual dos proventos pagos no formato de juros sobre capital próprio (JCP), que vinha em curva ascendente por conta do risco de mudança nas regras, recuou no primeiro trimestre de 2024, com 39% do total dos proventos distribuídos nessa modalidade ante 42% no mesmo período de 2023.
“Ao que tudo indica, essa queda na proporção de JCP versus dividendos é momentânea. Isso porque é comum, na apresentação de seus informes de encerramento anual, que as empresas anunciem a distribuição de dividendos para seus acionistas, compartilhando assim, parte dos lucros auferidos ao longo do ano anterior”, afirma Wendell Finotti, CEO da plataforma Meu Dividendo.
O prazo médio no pagamento dos proventos registrado nos primeiros três meses de 2024 se mantém alto e representa desvalorização significativa dos montantes em um momento ainda de juros altos, segundo o levantamento.
Fonte: Valor Econômico

