A aquisição pela Pfizer da empresa de biotecnologia Seagen, por US$ 43 bilhões, no ano passado, ressaltou o quão quente o campo se tornou
Por Dow Jones — Nova York
20/02/2024 15h15 Atualizado há um diaPresentear matéria
As empresas farmacêuticas estão gastando bilhões de dólares para desenvolver medicamentos que possam atacar o câncer como mísseis teleguiados.
As terapias conhecidas como conjugados anticorpo-fármaco (ADC, do inglês, “antibody-drug conjugation”), que ajudam a administrar a quimioterapia diretamente nos tumores, têm recebido a maior parte da atenção e estão mais avançadas: a aquisição pela Pfizer da empresa de biotecnologia Seagen, por US$ 43 bilhões, no ano passado, ressaltou o quão quente o campo se tornou.
Mais silenciosamente, um conceito conhecido como radiofármacos também está ganhando terreno. Nos últimos meses, o interesse nesse segmento levou a um aumento nas negociações. A ideia é semelhante à dos ADCs, já que o paciente recebe um tratamento antigo — neste caso, se trata de uma partícula radioativa em vez de medicamentos quimioterápicos — mas está ligado a uma molécula que pode perseguir células tumorais. A tecnologia está numa fase mais incipiente, mas um aumento consistente de investimentos de capital de risco e das aquisições por parte de grandes empresas farmacêuticas significam que ela poderá muito bem tornar-se uma parte fundamental da luta contra o câncer na próxima década.
A radiação tem sido um dos pilares do tratamento do câncer, com mais da metade dos pacientes recebendo alguma modalidade do tratamento. Um procedimento típico envolve o uso de máquinas para enviar feixes de radiação de alta energia, que podem penetrar profundamente no corpo para matar células cancerígenas. As desvantagens da radiação externa são que ela pode afetar os tecidos saudáveis circundantes e é limitada a cânceres mais localizados.
As empresas farmacêuticas vêm mexendo com a radioterapia há muito tempo, mas o campo tem enfrentado dificuldades comerciais. O interesse cresceu quando a empresa farmacêutica suíça Novartis fez duas aquisições multibilionárias a partir de 2017. Pluvicto, uma terapia que a Novartis obteve em uma dessas aquisições, foi aprovada pela Administração de Alimentos e Medicamentos americana (FDA, na sigla em inglês) em 2022 para um tipo de câncer de próstata avançado e, no ano passado, gerou US$ 980 milhões em vendas. Analistas consultados pela Visible Alpha esperam que a medicação alcance US$ 3 bilhões em vendas até 2027.
O sucesso da Novartis e o crescente interesse em terapias de precisão estimularam os concorrentes a examinar mais de perto a tecnologia. No final do ano passado, a Eli Lilly adquiriu a Point Biopharma por US$ 1,4 bilhão, e a Bristol-Myers Squibb concordou, em dezembro, em comprar a RayzeBio por US$ 4,1 bilhões, poucos meses após a abertura do capital da startup. Em especial, a declaração de procuração da RayzeBio mostrou que duas outras empresas fizeram ofertas significativas. Isso é um bom presságio para outras empresas de biotecnologia na área, e explica por que as ações da Fusion Pharmaceuticals e da Perspective Therapeutics dispararam nos últimos meses.
O maior desafio dos radiofármacos é a sua cadeia de suprimentos. Os isótopos radioativos são produzidos em reatores ou geradores nucleares especiais e, depois, enviados para uma linha de produção onde são ligados a um composto direcionado às células. O produto, então, precisa ser testado e embalado antes de ser enviado às clínicas. Velocidade e precisão são extremamente importantes, porque o material radioativo do medicamento se decompõe em poucos dias.
Devido às complexidades da cadeia de suprimento, os recentes acordos entre a Eli Lilly e a Bristol concentraram-se, parcialmente, em obter acesso à capacidade de produção e acesso a isótopos, cujo fornecimento é limitado, disse Zhiqiang Shu, analista de biotecnologia da Laurion Capital Management. Ele explicou ainda que, embora os medicamentos atualmente aprovados pela Novartis utilizem isótopos emissores de beta, a próxima onda de inovação radiofarmacêutica provavelmente se concentrará em isótopos emissores de alfa, que são mais concentrados e, portanto, ideais para terapias direcionadas.
Fonte: Valor Econômico