Por Fernanda Guimarães e Rita Azevedo — De São Paulo
06/09/2023 05h03 Atualizado há uma hora
Com o retorno das férias no Hemisfério Norte, as empresas brasileiras que ainda não captaram neste ano estão fazendo fila para acessar o mercado externo de dívida em setembro. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, são esperadas operações de até seis companhias ao longo do mês, com um volume estimado que poderá somar até US$ 7 bilhões.
Nesta primeira semana de retorno da pausa, o mercado mostrou estar mais aquecido. O frigorífico JBS, por exemplo, levantou ontem US$ 2,5 bilhões, superando a estimativa inicial de US$ 1 bilhão por conta da elevada demanda, ajudando a aumentar as estimativas para o mês. O volume da emissão foi o maior de uma companhia brasileira desde pelo menos 2017, início da série histórica da Anbima. As ordens chegaram a quase US$ 8 bilhões, segundo fontes.
Ainda no Dia do Trabalho nos Estados Unidos, na segunda-feira, o frigorífico Minerva anunciou aos investidores sua intenção de captar até US$ 1 bilhão em uma operação a ser precificada até quinta-feira. A expectativa de taxa no mercado é de 8,5% a 9%. Os recursos serão usados para custear a compra de ativos da concorrente Marfrig. A última emissão da companhia foi em 2021, cuja taxa foi de 4,375%.
Dentre os outros nomes que devem vir a mercado neste mês estão CSN e o próprio Tesouro Nacional, que prepara sua primeira oferta de títulos “verdes”. Conforme fontes, outra emissão deverá ser anunciada até o início da próxima semana.
Antes de JBS e Minerva, oito brasileiras já tinham lançado dívida nos Estados Unidos no primeiro semestre do ano. Os números vieram dos chamados emissores frequentes, caso de Petrobras, Vale, Cosan, Embraer e Braskem, que levantaram, no total, US$ 6,6 bilhões, se excluindo da conta a emissão da holding da Gol. Assim, se o volume de setembro se confirmar, ele poderá ser maior do que o total das emissões de toda a primeira metade do ano.
“O momento é positivo para as operações, considerando a redução da volatilidade dos Treasuries e o fato dos spreads das empresas brasileiras terem caído, se aproximando do menor nível no ano”, diz Caio de Luca, chefe do mercado de dívida no Bank of America no Brasil (BofA). “As companhias que necessitam de volume de recursos para financiar projetos grandes ou para aquisições encontram agora o momento externo aberto.”
Com o custo de captação mais ajustado, as empresas devem aproveitar para virem a mercado, se aproveitando da possibilidade de captarem valores mais altos, a prazos mais longos. A JBS, por exemplo, emitiu duas séries com prazos de dez e 30 anos.
No primeiro semestre, muitas empresas pausaram os planos de emissão, por considerarem as taxas cobradas altas, especialmente se comparadas às suas últimas operações em um contexto de juros baixíssimos em todo o mundo. Agora, parte delas decidiu retomar as conversas com investidores com os chamados “non-deal road show”, sem o compromisso de concretizar a venda dos papéis.
Se as expectativas para o mês se concretizarem, o volume de emissão de “bonds” se aproximará ao registrado no ano passado, que foi considerado baixo para esse mercado, visto que muitas empresas tinham antecipado suas captações em 2021.
Um fator que pode influenciar o volume de captações no ano é a melhora do mercado interno, após um início do ano conturbado. Com isso, é possível que algumas companhias prefiram captar recursos por aqui, diz Samy Podlubny, chefe da área de dívida do UBS BB. “A janela de setembro no exterior, mesmo movimentada, pode ser um pouco menos intensa do que o previsto por causa do mercado local, que tem apresentado boas condições na maior parte das vezes.”
O gestor de crédito privado da Legacy, Leonardo Ono, afirma que, para as empresas com estruturas de hedge, a captação externa não está mais em um nível proibitivo, embora veja como mais atrativo para as companhias que têm acesso ao instrumento, emissões isentas, como as debêntures de infraestrutura. Ono afirma que tem olhado mais as oportunidades no mercado local do que emissões externas, no momento. “Dado o cenário incerto, para o investidor local, quando se transforma o rendimento em reais, não está tão atrativo”, afirma.
Prova de que o mercado local para títulos incentivados está atrativo para as empresas, uma fonte afirma que algumas companhias colocaram na mesa a possibilidade de captar com esses títulos e usar os recursos para recomprar dívidas em dólar. (Colaborou Nayara Figueiredo)
Fonte: Valor Econômico

