A estada de sete horas e meia do presidente dos EUA, Joe Biden, em Tel Aviv sinalizou o apoio total dos EUA a Israel, mas não conseguiu outro objetivo fundamental: conquistar a aceitação de governantes dos países árabes.
Em meio aos sinais cada vez mais fortes de que o conflito pode estar saindo de controle, Biden deixou claro que os EUA protegerão seu aliado e enviou uma mensagem a seus rivais na região, como o Irã, para que fiquem fora do conflito. Com um porta-aviões dos EUA na área e outro a caminho, Biden prometeu um novo pacote de “apoio sem precedentes” a Israel.
Ele também tentou acalmar as preocupações sobre o aprofundamento da crise humanitária em Gaza enquanto Israel prepara uma invasão por terra para eliminar o Hamas, depois que os ataques do grupo em 7 de outubro mataram 1.400 israelenses. Biden anunciou ter chegado a um acordo com o Egito para que 20 caminhões com ajuda humanitária fosse autorizados a entrar na Faixa de Gaza. Mas caminhões carregados com toneladas de ajuda continuavam bloqueados na fronteira. Autoridades israelenses disseram que só permitiriam a entrada de suprimentos em Gaza se tivessem certeza de que não seriam desviados para o Hamas, que os EUA e a União Europeia (UE) classificam como grupo terrorista.
A dificuldade de Biden para conseguir a aquiescência árabe à ofensiva israelense aprofundou-se na terça-feira, depois da explosão letal do hospital Al-Ahli. O presidente dos EUA ficou do lado de Israel, que atribuiu o ataque a um lançamento malsucedido de um míssil pelo grupo palestino Jihad Islâmica.
“Sua visita de hoje foi vista como um apoio muito claro ao governo israelense, sem ressalvas”, disse Sarah Parkinson, professora de Ciências Políticas e Estudos Internacionais na Johns Hopkins University. “Isso está desgastando as relações na região rapidamente.”
O que deve provocar irritação na região não é apenas a decisão de Biden de aceitar a versão de Israel, mas também a forma como o fez. Ao dizer que o “outro lado” foi responsável pela explosão, o presidente dos EUA alinhou-se de forma ainda mais direta com Israel.
“Para muitos na região, isso não soa como uma decisão baseada em fatos, mas como uma decisão política”, disse Parkinson. “E isso põe muitos aliados dos EUA em posição incrivelmente difícil.”
Biden afirmou que proporia esta semana ao Congresso um pacote “sem precedentes” de ajuda a Israel. Autoridades informaram que a Boeing está acelerando a entrega a Israel de kits de sistemas de orientação por GPS para bombas.
Mas Biden fez uma advertência aos líderes israelenses enquanto planejam sua resposta. “Embora vocês sintam essa raiva, não se deixem consumir por ela. Depois do 11 de Setembro, estávamos enfurecidos nos EUA. E enquanto buscávamos justiça, e a conseguimos, também cometemos erros”, disse.
Ele partiu para Washington com garantias apenas limitadas sobre os suprimentos de ajuda que poderiam entrar em Gaza, algo que cria o risco de agravar ainda mais as tensões entre Israel e seus vizinhos. Biden anunciou que os EUA vão enviar o equivalente a US$ 100 milhões em ajuda humanitária, mas que ela será tanto para Gaza como para a Cisjordânia.
Com a maioria dos suprimentos de alimentos e medicamentos suspensos, a situação em Gaza torna-se mais desesperadora a cada dia.
Fonte: Valor Econômico

