Por Fabio Murakawa e Marta Watanabe, Valor — Brasília e São Paulo
20/09/2023 16h19 Atualizado há 16 horas
Em encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em Nova York, nesta quarta-feira (20), que é preciso tirar proveito de questões como transição climática, energética e da inteligência artificial. Ele apontou esses elementos como pilares de uma proposta concreta comum lançada pelos dois países para garantia do trabalho digno e dar esperança à sociedade.
Em sintonia com Lula no encontro, Biden ressaltou que, quando os trabalhadores organizados estão na lei, todo mundo fica melhor. “Todo mundo se beneficia, o país se beneficia”, disse.
O presidente americano ressaltou que as duas maiores democracias do hemisfério ocidental estão defendendo os direitos humanos no mundo, inclusive os direitos dos trabalhadores.
Brasil de volta à democracia
Lula, por sua vez, voltou a falar de espaços ocupados por setores extremistas, com a democracia correndo cada vez mais perigo. Isso, observou ele, aconteceu no Brasil, na Argentina e em vários outros países.
“Nós voltamos à democracia no Brasil, já fizemos todas as alianças políticas que tínhamos que construir”, disse. “É muito importante que os EUA, a América do Norte, vejam o que está acontecendo no Brasil nesse momento histórico de transição ecológica e mudança de matriz energética.”
“Iniciativa Global Lula-Biden”
Os dois presidentes participaram de cerimônia de lançamento da “Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI”, em Nova York (EUA), pacto em defesa de melhores condições de trabalho nos dois países. A proposta, pelo “trabalho digno”, vem sendo conversada há meses pelos dois governos.
No último dia 16 de agosto, Lula e Biden conversaram por telefone para tratar dos preparativos para o lançamento desta quarta-feira, às margens da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Estreita colaboração”
Segundo nota divulgada pelo Planalto, Brasil e Estados Unidos pretendem trabalhar “em estreita colaboração com parceiros sindicais do Brasil e dos EUA, e a Organização Internacional do Trabalho (OIT)”. Eles pretendem envolver outros países parceiros na iniciativa para “fomentar um desenvolvimento inclusivo, sustentável e amplamente compartilhado com todos os trabalhadores”.
Um dos alvos são os aplicativos cujas relações com os trabalhadores vêm sendo alvo de críticas de Lula desde sua campanha à Presidência, no ano passado. Segundo o Planalto, a iniciativa visa “promover novos esforços para capacitar e proteger os direitos trabalhistas de trabalhadores e trabalhadoras nas plataformas digitais”.
Além disso, os dois países pretendem trabalhar para “ampliar o conhecimento público sobre os direitos trabalhistas e oferecer oportunidades para que os trabalhadores e trabalhadoras se capacitem para defender seus direitos”.
Outros objetivos de Brasil e EUA são “reforçar o papel central dos trabalhadores e trabalhadoras, garantindo que a transição para fontes limpas de energia proporcione oportunidades de bons empregos para todos e todas”. E ainda “estabelecer uma agenda centrada em aumentar a importância dos trabalhadores e trabalhadoras em instituições multilaterais como o G-20, a COP-28 e a COP-30”, informou o Planalto.
Proposta conjunta sobre trabalho pode ser levada ao G20
No encontro com Joe Biden, Lula disse ainda que a aproximação entre Brasil e Estados Unidos permite elaborar um plano de trabalho para oferecer à juventude perspectiva de emprego decente e mais qualificado.
Mudanças como transição climática e inteligência artificial, disse Lula, precisam ser considerados para isso. “Nunca tinha visto um presidente americano falar tanto e tão bem dos trabalhadores”, disse Lula, sobre Biden.
“Uma combinação perfeita porque eu venho do mundo do trabalho e acho que o trabalho está muito precarizado, o salário está muito aviltado, com trabalhadores trabalhando mais e ganhando menos.”
A proposta que começa a ser discutida com os Estados Unidos, disse ele, pode ser levada ao G20 e é importante para o Brasil, os Estados Unidos e o mundo.
Crescimento econômico e crise climática
Biden destacou o avanço no trabalho em conjunto através da parceria para a Cooperação Atlântica, promovendo o crescimento econômico inclusivo.
O presidente americano também destacou o trabalho em conjunto para enfrentar a crise climática. “Mobilizamos centenas de milhões de dólares na Amazônia e em ecossistemas cruciais na América Latina.”
Relações sindicais
Biden tem tentado se aproximar do sindicalismo americano e vem adotando políticas para fortalecer com os sindicatos dos EUA. Ele concorre à reeleição em 2024 e fez o lançamento de sua campanha, em julho último, em um evento organizado por líderes sindicais na Pensilvânia.
Lula, por sua vez, iniciou sua vida política nas greves dos operários no ABC Paulista, na década de 1970.
Fonte: Valor Econômico

