O presidente chinês, Xi Jinping, reuniu-se nesta quinta-feira (16) com o líder russo, Vladimir Putin, em Pequim, e concordou em reforçar ainda mais as relações comerciais em meio à crescente pressão do Ocidente. Eles também prometeram trabalhar juntos contra o que consideram uma pressão “destrutiva e hostil” dos EUA e aprofundar os laços que têm sustentado a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Numa conferência de imprensa, Xi descreveu a essência da relação como “firme apoio aos interesses essenciais e principais preocupações de cada um”.
Apontando para o aumento do comércio bilateral para um recorde de US$ 240 bilhões no ano passado, Xi saudou a “cooperação geral mutuamente benéfica” e disse que os dois lados podem reforçar ainda mais os laços em áreas como pesquisa científica e as cadeias de abastecimento industrial.
“Hoje, nossa cooperação nos assuntos mundiais é um dos principais fatores estabilizadores na arena internacional”, disse Putin. “Juntos, defendemos os princípios de justiça e uma ordem mundial democrática que reflita as realidades multipolares fundamentadas no direito internacional.”
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Putin e Xi acusaram os EUA de planejarem a instalações de sistemas de mísseis em todo o mundo, quer seriam “uma ameaça direta à segurança da Rússia e da China”, segundo declaração conjunta.
Putin está na China na primeira viagem ao exterior desde que assumiu seu quinto mandato presidencial na semana passada, indicando a importância da relação com Xi para permitir a Moscou resistir a sanções sem precedentes dos EUA e dos seus aliados devido à invasão da Ucrânia pela Rússia. Putin busca mais apoio de Pequim e também mostrar aos russos que ainda tem amigos poderosos.
Os líderes afirmaram que “prevenir o confronto militar direto entre as potências nucleares é a tarefa prioritária”, mas criticaram os Estados nucleares que “invadem os interesses vitais uns dos outros”, expandindo alianças militares perto das suas fronteiras, uma crítica à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental) na Europa e liderada pelos EUA e os esforços para forjar parcerias de segurança na região Ásia-Pacífico para conter a China.
Xi disse que a China está “pronta para trabalhar com a Rússia como um bom vizinho, amigo e parceiro com confiança mútua”, informou a emissora estatal CCT após o encontro dos dois. A China estava preparada “para consolidar a amizade entre os dois povos nas próximas gerações”, acrescentou.
Ao lado de Xi numa cerimônia para assinar acordos sobre o aprofundamento da cooperação bilateral — em áreas que vão desde energia e exercícios militares até inteligência artificial e exploração espacial —, Putin observou que 90% do comércio entre a Rússia e a China já é liquidado em yuan e rublos.
“Isto significa que podemos dizer que o nosso comércio e investimentos estão efetivamente salvaguardados da influência de países terceiros”, disse Putin, numa referência aos EUA e ao papel dominante do dólar a nível mundial.
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Putin acrescentou que Moscou e Pequim concordaram em intensificar os laços bancários e aumentar a utilização de sistemas nacionais de pagamentos. Detalhes desses acordos não foram divulgados.
Um alto funcionário dos EUA disse que Putin e Xi enviaram “um claro sinal para toda a República Popular da China de que não há problema em avançar a todo vapor em todo o comércio com a Rússia e isso é preocupante”.
“Consideramos inaceitável que as empresas chinesas ajudem Putin a travar esta guerra contra a Ucrânia e se a China pretende apoiar a paz na Europa, não pode continuar a alimentar a maior ameaça à segurança europeia”, disse essa autoridade. “Esta não é uma posição só dos EUA. Você também ouve isso dos nossos parceiros do G7 [grupo das sete maiores economias ricas], da Otan e da UE.”
Embora Rússia e China tenham registrado um enorme aumento no comércio após a eclosão da guerra na Ucrânia, há sinais de que Pequim recuou ligeiramente depois de os EUA terem avisado que poderiam ter como alvo empresas chinesas que ajudam a financiar a máquina de guerra do Kremlin.
As exportações da China para o seu vizinho caíram em março e abril, depois que os EUA ameaçaram punir bancos chineses afirmam que estariam ajudando a Rússia a contornar as sanções.
Putin aterrissou na capital chinesa ao amanhecer, enquanto as tropas russas continuavam avançando no nordeste da Ucrânia, aproveitando a situação de vantagem em um conflito que se tornou cada vez mais desconfortável para Pequim. Xi tem se abstido de criticar a invasão, mas enfrenta uma pressão cada vez maior dos EUA e da Europa para reduzir o apoio à máquina de guerra de Moscou.
A recepção de Putin em Pequim foi calorosa, embora menos efusiva do que em visitas anteriores. Ele foi recebido com tapete vermelho no aeroporto e saudado por uma banda militar, após seu comboio passar pela Praça da Paz Celestial.
Ao lado de Putin, Xi destacou que ele também viajou a Moscou logo após ser reeleito como presidente da China para seu terceiro mandato, em 2023. Ele falou sobre a “amizade eterna” entre os dois países, mas não repetiu a declaração de uma amizade “sem limites”, que foi proclamada durante uma visita anterior de Putin, pouco antes da invasão da Ucrânia.
A China tem sido uma parceira crucial para a Rússia e ajudado o país a resistir às sanções impostas, após a invasão da Ucrânia, fornecendo produtos de uso duplo, civil e militar, para sustentar a ofensiva, e um canal diplomático para aliviar o isolamento global de Putin.
Fonte: Valor Econômico

