/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/E/3/8jMHokSkulzUjXbPAgPg/foto14emp-101-lilly-b6.jpg)
Os próximos anos têm tudo para serem movimentados no setor dos medicamentos análogos ao GLP-1, de tratamento para diabetes tipo 2 e obesidade, com a expiração da patente da molécula semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy. A patente está prevista para ser quebrada nos primeiros meses de 2026 no Brasil, um dos primeiros mercados em que isso deve acontecer, assim como a China.
A Novo Nordisk, farmacêutica que descobriu a semaglutida, já vê a concorrência se movimentando neste sentido. A Biomm fechou acordo com a indiana Biocon para comercializar um biossimilar no país e a Hypera já anunciou que pretende lançar seu próprio medicamento, “assim que a patente cair”. Outra farmacêutica que entrou na disputa dos emagrecedores foi a EMS, que deve lançar o primeiro “Ozempic brasileiro” (Olire e Lirux), que usa liraglutida – a irmã mais velha da semaglutida. Em contrapartida, a Novo Nordisk anunciou redução nos preços (até 20% mais baratos, até R$ 1,7 mil) em parceria com a Eurofarma para ampliar a distribuição do Ozempic pelo país, sob outra marca.
A Eli Lilly, do Mounjaro – principal concorrente do Ozempic -, diz não se preocupar com tais movimentações. Nabil Daoud, vice-presidente de grupo da Lilly International e gerente-geral de mercados em crescimento, vê o Brasil ainda pouco explorado. Uma a cada três pessoas têm obesidade (segundo o World Obesity Atlas 2025, da Federação Mundial da Obesidade), e 16,6 milhões de pessoas vivem com diabetes tipo 2 no Brasil (dados da Federação Internacional de Diabetes).
“A Lilly acolhe a concorrência incremental. Hoje, é um mercado enorme, e apenas uma proporção muito pequena dos pacientes está tendo acesso a esses medicamentos. Então, acreditamos que sempre que um medicamento perde a patente, e mais concorrentes entram, isso ajudará a expandir o mercado e provavelmente terá um crescimento ainda mais rápido de acesso a essas moléculas”, disse Daoud ao Valor.
Mounjaro é a aposta da Lilly para crescer em cinco vezes até 2030 no Brasil, mercado que se espera que chegue ao top 5 entre os principais da farmacêutica americana devido ao crescimento acelerado. “No ranking de mercado farmacêutico, o Brasil está sempre entre o sétimo e o oitavo em termos de tamanho de vendas, mas está crescendo muito mais rápido que muitos outros mercados estabelecidos. Tem potencial para se tornar um dos cinco ou seis maiores no mundo.”
Daoud garante, porém, que Mounjaro já alcançou a liderança de mercado no Brasil – mesmo que tenha chegado às farmácias brasileiras em maio deste ano. Enquanto isso, o Ozempic chegou em 2019 e ganhou fama a partir de 2023, com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar obesidade.
O país também é um dos principais campos de pesquisa da americana. A qualidade dos pesquisadores e a velocidade de recrutamento de pacientes, juntamente com a diversidade da população brasileira, são de “valor inestimável” para a Lilly no desenvolvimento de medicamentos. Até 2027, são esperadas as chegadas de 14 novos medicamentos no país, para tratamentos de diversas doenças.
A tirzepatida tem vantagens sobre o outro princípio ativo em questão, pois atua em dois hormônios: tanto GLP-1 quanto GIP, enquanto a semaglutida atua apenas no primeiro. Estudos apontaram que os efeitos da tirzepatida são superiores na redução de peso, mas a molécula pode causar efeitos colaterais gastrointestinais mais intensos.
Em meio à disputa pelas vendas das canetas emagrecedoras, a Eli Lilly começa a abrir caminho para seu próximo passo com o orforglipron, um agonista do GLP-1 oral, de dose única diária, que pode ser tomada a qualquer hora do dia, sem restrições de alimentos e água. É uma molécula pequena, não injetável (uma pílula), o que torna mais fácil escalar a produção e distribuição. A Novo também tem seu próprio comprimido, o Rybelsus, versão oral da semaglutida.
O medicamento oral orforglipron demonstrou resultados satisfatórios na fase 3 dos testes clínicos, alcançando uma redução de peso de 10,5% (cerca de 10,4 kg) no período de um ano e meio. O composto foi descoberto pela Chugai Pharmaceutical Co., Ltd. e licenciado pela Lilly em 2018.
“A expectativa é que o orforglipron ofereça opção oral adicional para pacientes, com potencial para perda de peso substancial e maior disponibilidade”, disse Daoud, que não comenta expectativas de preços do novo medicamento. Atualmente, Mounjaro tem preço sugerido entre R$ 1,7 mil e R$ 2,4 mil, dependendo da dosagem.
Porém, a novidade vai demorar para chegar ao Brasil. A intenção é submeter a documentação necessária para aprovação até o fim do ano para Anvisa (Brasil), FDA (Estados Unidos) e EMA (Europa). O processo de revisão regulatória da Anvisa pode levar de 12 a 18 meses adicionais em comparação com outros países, e até 30 meses em um processo normal (18 meses em um acelerado), segundo Daoud. Isso significa que os pacientes brasileiros recebem medicamentos em média um ano depois dos pacientes nos Estados Unidos.
Fonte: Valor Econômico