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Os eleitores franceses confiam mais no Reunião National (RN), de extrema direita, do que em qualquer outro partido para gerir a economia do país e as contas públicas, apesar de sua falta de experiência de governo e de seus planos de gastos e de cortes de impostos não incluírem formas de financiamento.
Os números de uma pesquisa da Ipsos, feita para o “Financial Times”, mostram a dura batalha diante da aliança de centro de Emmanuel Macron, chamada Ensemble, até as eleições de 30 de junho. A estratégia da campanha da aliança está centrada em convencer o eleitorado de que dar o poder a um governo de esquerda ou de extrema direita destruiria a economia da França e, em última análise, exigiria aumentos drásticos nos impostos.
Realizada entre 19 e 20 de junho, a pesquisa mostrou que 25% dos entrevistados têm mais confiança no RN, de Marine Le Pen, para tomar as decisões corretas em questões econômicas, em comparação com os 22% que confiam mais na Nova Frente Popular (NFP) de esquerda e dos apenas 20%, na aliança de Macron.
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O RN ficou em primeiro lugar em melhorar o padrão de vida, combater a inflação e reduzir impostos. De forma notável, também ficou em primeiro lugar na redução do desemprego, um grande sucesso da presidência de Macron, durante a qual o desemprego caiu para o menor nível em 15 anos, para depois voltar a aumentar um pouco em 2023.
De forma também surpreendente, 23% dos entrevistados dizem confiar mais no RN para reduzir o déficit público e a dívida. A aliança de Macron e a NFP, que têm amplos planos de impostos e gastos, ficaram empatadas com 17%.
Os dados parecem corroborar a mensagem que os técnicos da campanha de Macron dizem ouvir nas ruas: tendo já tentado todo o resto, os eleitores estão dispostos a dar uma chance ao RN.
“Essa dinâmica está, sem dúvida, ligada à estratégia de ‘normalização’ do RN, mas também à decepção causada pela esquerda sob o presidente François Hollande e, depois, pelo macronismo, e às dificuldades da esquerda em apresentar uma oposição a Macron que seja crível e coerente”, disse Mathieu Gallard, pesquisador da Ipsos.
“Neste contexto, o RN é visto como um partido que é, se não competente, no mínimo, não é menos competente que outras formações políticas.”
Uma pesquisa da Elabe para a BFM TV e o jornal “La Tribune Dimanche” publicada no sábado (22) também mostra que o programa econômico do RN é visto mais positivamente que os da esquerda e da aliança de Macron. Por outro lado, constatou que 62% dos entrevistados não consideram o programa do RN crível, em comparação com os 36% que o consideram.
Apesar dos apelos de seu próprio campo para ficar fora da campanha e, assim, não torná-la um simples plebiscito sobre sua presidência, Macron divulgou uma carta ao povo francês na noite de domingo, defendendo seu histórico e conclamando-os a rejeitar os extremos e votar nos moderados. “Esta terceira via é a melhor para o nosso país”, disse Macron. Ele também insistiu que permaneceria como presidente até 2027.
A extrema direita participou da eleição presidencial de 2022 com políticas cujos custos foram estimados, de forma independente, em € 100 bilhões por ano. Nos últimos dias, Jordan Bardella, presidente do RN e seu candidato a primeiro-ministro, encolheu essas promessas e disse que primeiro faria uma auditoria das contas públicas.
Ainda assim, o partido está comprometido em cortar de imediato os impostos sobre o valor agregado da energia e dos combustíveis e em reverter o aumento da idade da aposentadoria aprovado por Macron, de 64 para 62 anos. Só essas duas políticas poderiam custar de € 20 bilhões a € 30 bilhões por ano, segundo analistas.
Economistas advertem que os planos do RN carecem de propostas sérias para geração de arrecadação. Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que os planos do RN são “fiscalmente irresponsáveis”. “Presentes custam dinheiro. O dinheiro não está lá, pelo menos não no programa.”
Os aliados de Macron tentam se apresentar como o único partido crível para governar e retratar os oponentes como imprudentes.
A experiência de poder do RN consiste em governar duas pequenas cidades no Sul da França.
“Sete anos de trabalho podem ser destruídos por sete dias de [más] decisões […] não sucumbam ao canto da sereia do RN”, disse Bruno Le Maire, ministro de Economia da França, a um grupo de líderes empresariais franceses na semana passada.
O governo também atacou as credenciais econômicas da NFP, um grupo que inclui o partido de extrema esquerda França Insubmissa, os Socialistas de centro-esquerda, os Verdes e os Comunistas.
Na sexta-feira, a NFP delineou novos planos de gastos que custariam € 150 bilhões nos três anos até 2027, financiados em grande parte por fortes aumentos de impostos sobre os ricos e as empresas. O bloco de esquerda sustenta que seus planos não aumentariam o tamanho do déficit.
O primeiro-ministro do país, Gabriel Attal, que lidera a campanha da aliança governista composta por três partidos, disse que os planos da esquerda equivalem a um “espancamento tributário”. Blanchard disse que os impostos poderiam ser “quase confiscatórios por natureza”.
Em um sinal da importância das eleições não apenas para a França, mas para suas relações com a União Europeia, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, disse à emissora de TV ARD no domingo que “esperava que fossem bem-sucedidos na eleição os partidos que não fossem [o de] Le Pen, por assim dizer”, em uma rara intromissão em questões políticas da França.
Por sua vez, o governo de Macron, que simboliza a continuidade política, deu margem para ataques à forma como administra a economia, ao ter permitido um aumento no déficit francês para 5,5% do Produto Interno Bruto, o segundo maior da região do euro. A dívida está em 110% do PIB.
A inflação também assolou a reputação do governo quanto à melhora nos padrões de vida, sendo que as pesquisas da Ipsos mostram isso como sendo uma prioridade para os eleitores.
De acordo com 32% dos consultados, esse é o fator mais importante na decisão do voto, em comparação com os 20% que citam a economia e as contas públicas. Nesse tema, 30% dos eleitores confiam mais no RN, em comparação com os 29% na NFP e apenas 16% na aliança de Macron.
Gallard disse que os resultados são “realmente catastróficos para o partido presidencial, que aparentemente não tem força real para apresentar”.
Em termos de intenções de voto para o primeiro turno, a Ipsos projeta o RN com 35,5%, a NFP, com 29,5%, e os centristas em queda, com 19,5%, em linha com outras pesquisas recentes. As projeções recentes sobre a distribuição dos assentos sinalizam que a França ruma a um Parlamento sem maioria, com o RN como o maior partido.
A pesquisa consultou 2 mil pessoas, que são eleitores registrados com 18 anos ou mais.
(Tradução de Sabino Ahumada)
Fonte: Valor Econômico

