A economia dos Estados Unidos cresceu em um ritmo anualizado de 1,4% no período de janeiro a março, o menor crescimento trimestral desde o segundo trimestre de 2022, informou nesta quinta-feira (27) o governo americano — uma ligeira melhora em relação à estimativa anterior. Os gastos do consumidor, porém, cresceram apenas 1,5%, abaixo da estimativa inicial de 2%, num sinal de que os juros altos podem estar afetando a economia.
O Departamento do Comércio havia estimado anteriormente um crescimento de 1,3% do PIB — a produção total de bens e serviços da economia — no primeiro trimestre. O crescimento do PIB no período marcou uma forte retração em relação ao ritmo vigoroso de 3,4% dos últimos três meses de 2023. Mesmo assim, o relatório desta quinta-feira (27) mostrou que a desaceleração de janeiro a março foi causada principalmente por dois fatores — um aumento das importações e uma queda nos estoques das empresas — que podem oscilar de trimestre para trimestre e não refletem necessariamente a saúde implícita da economia.
As importações afetaram em 0,82 ponto porcentual o crescimento do primeiro trimestre. Os estoques mais baixos subtraíram outro 0,42 ponto porcentual do PIB.
Os investimentos das empresas compensaram essa redução, com o governo informando que eles cresceram num ritmo anual de 4,4% no primeiro trimestre, mais que sua estimativa anterior de 3,2%. Mais investimentos em fábricas e outras construções não residenciais, e também em softwares e outros tipos de propriedade intelectual, ajudaram a reforçar esse aumento.
Depois de crescer num ritmo anual sólido de mais de 3% no segundo semestre de 2023, os gastos do consumidor desaceleraram bastante no trimestre passado. Os gastos com eletrodomésticos, móveis e outros produtos caíram a uma taxa anual de 2,3%, enquanto os gastos com viagens, refeições em restaurantes e outros serviços cresceram 3,3%.
Chris Zaccarelli, diretor de investimentos da Independent Advisor Alliance, classificou a redução nos gastos do consumidor de um “motivo para preocupação”. Os consumidores respondem por cerca de 70% da atividade econômica dos EUA.
“A economia continuou resiliente no primeiro trimestre”, disse Gregory Daco, economista-chefe da consultoria EY. Mas “o crescimento da demanda do setor privado diminuiu, motivada por uma maior prudência dos consumidores. É importante frisar, porém, que a economia não está retraindo, com os investimentos corporativos mantendo um ímpeto moderado”.
Muitos economistas acreditam que o crescimento vai se fortalecer neste segundo trimestre. Mas um modelo de previsão da Oxford Economics — baseado nas estatísticas econômicas divulgadas até agora — aponta, em vez disso, para um crescimento morno de 1,3% neste trimestre.
A economia dos EUA, a maior do mundo, revelou-se surpreendentemente resiliente diante dos juros mais altos. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano), aumentou sua taxa referencial de juro 11 vezes em 2022 e 2023, para o patamar mais alto em 23 anos, para tentar conter o pior surto inflacionário em quatro décadas. A maioria dos economistas acreditava que as taxas de financiamento ao consumidor muito mais altas que resultaram dos aumentos dos juros pelo Fed, jogariam a economia em uma recessão.
Mas isso não aconteceu. A economia continuou crescendo, embora em um ritmo mais lento, e os empregadores continuaram contratando. Em maio, o país criou 272 mil empregos (um número excelente), embora a taxa de desemprego tenha aumentado pelo segundo mês consecutivo, mas para um número ainda baixo de 4%. Ao mesmo tempo, a inflação geral, conforme medida pelo principal indicador de preços do governo, caiu de um pico de 9,1% em 2022 para 3,3%, porém, ainda acima da meta do Fed, de 2%.
O estado da economia certamente será um tema central do debate presidencial desta quinta-feira (27) entre o presidente Joe Biden e o candidato presumível do Partido Republicano, Donald Trump. Embora a economia permaneça saudável pela maioria dos indicadores e a inflação esteja bem abaixo de seu pico, muitos americanos afirmam estar frustrados porque os preços em geral continuam bem acima de seus níveis pré-pandemia. Os aluguéis mais caros e os preços dos mantimentos são fontes específicas de descontentamento e Trump tem procurado atribuir a culpa a Biden, numa ameaça à tentativa de reeleição do presidente.
Uma medida da inflação no relatório do primeiro trimestre sobre o PIB mostrou que as pressões sobre os preços aumentaram no começo de 2024. Os preços ao consumidor subiram 3,4% em um ritmo anual, contra 1,8% no quarto trimestre de 2023. Excluindo-se os custos voláteis dos alimentos e da energia, o chamado núcleo da inflação cresceu num ritmo anual de 3,7%, acima dos 2% registrados em cada um dos dois trimestres anteriores.
Diante das pressões inflacionárias ainda elevadas, as autoridades do Fed sinalizaram este mês que reduzirão a taxa básica de juro apenas uma vez em 2024, abaixo da previsão anterior de três cortes. A maioria dos economistas espera o primeiro corte para setembro, com um possível segundo em dezembro.
O relatório desta quinta-feira (27) foi a terceira e última estimativa do governo sobre o PIB do primeiro trimestre. O Departamento do Comércio emitirá sua primeira estimativa sobre o desempenho econômico deste segundo trimestre em 25 de julho.
Veja aqui o relatório completo do BEA.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/x/f/BTP7EETgKz5qyV51yYLg/ap24159607115500.jpg)
Fonte: Valor Econômico

