Por Agências Internacionais
14/12/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
Os novos casos de covid-19 estão se espalhando rapidamente pela China, inclusive na capital Pequim, e provavelmente aumentarão ainda mais nas próximas semanas e meses, com o súbito abandono da política de covid-zero há uma semana. A nova onda de covid já lota hospitais e ameaça trazer mais interrupções ao crescimento da segunda maior economia do mundo.
Importantes indicadores da China, que serão divulgados amanhã, deverão mostrar uma piora da economia em novembro, quando o país ainda adotava lockdowns, testes em massa e quarentenas rígidas. Isso a coloca em uma posição vulnerável em meio a uma confusa transição para normalização da vida cotidiana após três anos de rígidos controles.
A mudança súbita da política deixou muita gente perplexa e um aumento das infecções “certamente será inevitável”, escreveu Zhang Wenhong, um dos principais especialista em saúde do país, em artigo publicado na “Caixin”. Segundo ele, essa nova onda de covid poderá demorar entre três a seis meses para ser totalmente controlada.
Até 60% da população da China poderá ser infectada no pico da primeira onda, teria dito Feng Zijian, o ex-vice-diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, em 6 de dezembro.
Depois de um grande pico inicial, a China provavelmente verá uma segunda e terceira ondas bem mais fracas, escreveu Zhang, citando a experiência de outros países.
Uma das preocupações de economistas e especialistas em saúde é que as autoridades chinesas não adotaram medidas para lidar com a inevitável sobrecarga para o sistema de saúde que acompanha o aumento de casos e de mortes, especialmente entre a grande população de idosos subvacinados.
“Se a maioria das pessoas for infectada em apenas alguns meses, o sistema médico será visivelmente afetado”, escreveu Zhang no artigo, que também foi publicado na conta no WeChat do Hospital Huashan, onde é chefe do departamento de doenças infecciosas. Juntamente com outros especialistas, ele pediu que o governo tome medidas para enfrentar o aumento de casos e alertou hospitais e fornecedores de medicamentos para que tenham estoques em reserva.
“Se pudermos atrasar a curva geral de infecções entre os idosos – mesmo por um mês ou dois -, a barreira imunológica de toda a população ficaria mais forte”, escreveu Zhang, instando os mais velhos a tomarem a vacina o quanto antes. “Os recursos médicos serão mais adequados após o pico da primeira onda e os idosos em casas de repouso terão recursos de tratamento mais abundantes.”
Em Pequim, o aumento de casos está levando muitos a se isolar em casa e estocar medicamentos. Os shoppings reduziram o horário de funcionamento por causa da queda no tráfego de pedestres. Os serviços de entrega foram interrompidos porque os trabalhadores infectados são impedidos de pegar a estrada, segundo relatos em plataformas de mídia social.
Padrões semelhantes surgem em outras grandes cidades, como Xangai e Guangzhou, onde muitos começaram a evitar reuniões em público desde que as autoridades abandonaram a abordagem de covid-zero há uma semana.
O aumento nas infecções levou o governo a adiar uma importante reunião de política que deveria começar esta semana em Pequim, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Não há cronograma definido para que a Conferência Central de Trabalho Econômico seja remarcada, disseram essas fontes.
Além do presidente, Xi Jinping, participam dessa reunião, que define o rumo da política para a economia chinesa para o próximo ano, membros do Politburo, governadores provinciais e dirigentes de agências governamentais e instituições financeiras.
Já há sinais daquilo que o presidente do Goldman Sachs Group, John Waldron, prevê que será uma reabertura “acidentada”, que poderá contribuir para os riscos ao crescimento global. A Nomura International alertou que a China enfrentará um período doloroso, pois parece não estar bem preparada para a inevitável e grande onda de novos casos de covid-19.
Julian Evans-Pritchard, economista da consultoria Capital Economics, disse que levará algum tempo para os chineses aprenderem a conviver com o vírus e poderá levar de três a seis meses para a atividade econômica retornar a “algo parecido com a normalidade”. “Mesmo que o afastamento da política de covid-zero venha a beneficiar a atividade econômica no médio prazo, isso não proporcionará um alívio imediato e os próximos meses ainda serão muito desafiadores”, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico

