Por Arthur Cagliari e Victor Rezende — De São Paulo
03/02/2023 05h01 Atualizado há 5 horas
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Depois de operar boa parte da sessão de ontem abaixo de R$ 5, no menor nível desde junho de 2022, o dólar recuperou parte das perdas contra o real. A mínima do dia, de R$ 4,9417, acabou ficando para trás e, ao longo da tarde, a moeda americana ganhou fôlego para fechar cotada a R$ 5,0444, em queda de 0,32%.
Os sinais duros emitidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central foram o principal fator a movimentar o câmbio no pregão de ontem. Com o Copom mais conservador e a leitura de uma comunicação mais suave do Federal Reserve (Fed), o dólar chegou a cair mais de 2% no início do dia, mas exibiu recuperação à tarde. A mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Congresso Nacional, em especial, gerou algum ruído no comportamento dos ativos locais e fez o dólar se afastar das mínimas.
“Enquanto o Copom foi mais duro em seu comunicado, o Fed mostrou ser mais ‘dovish’ [suave]. Tudo isso só favoreceu o movimento no Brasil pela manhã”, diz Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital.
O movimento do câmbio indica um nível de instabilidade alto na sessão de ontem. Da mínima à máxima do dia, o dólar caminhou quase R$ 0,11, o que contrasta com a queda da volatilidade implícita do real nos últimos dias.
“O resultado das nossas análises sempre acabou favorecendo o real. Ao olhar hoje [ontem], claramente o principal ‘input’ foi o Copom, mas nitidamente por algumas questões técnicas vimos que o dólar caiu de maneira muito agressiva durante a manhã e subiu bem devagar ao longo da tarde”, diz Gustavo Menezes, gestor macro com foco em câmbio da AZ Quest.
“O contraste entre o Copom e os outros bancos centrais, que já começam a sinalizar uma pausa nas altas de juros, coloca o real em posição favorável. Esse tem sido o tom da nossa posição em real”, afirma Menezes. O gestor ressalta que o ambiente tem sido ruidoso e que há algumas “pedras no caminho”, como a questão fiscal e as discussões sobre metas de inflação, mas revela que a AZ Quest mantém em sua carteira posições relevantes compradas em real.
Para Menezes, o cenário atual, de proximidade do fim do ciclo de aperto monetário em economias avançadas e a manutenção de um discurso mais duro do Copom mostra que “o ambiente positivo para o real começou”. “Só precisamos ver se esse cenário é sustentável e se vai continuar nos próximos meses, mas vemos um caminho positivo para o real.”
Na medida em que o cenário de dólar fragilizado tem se estendido e a taxa de juros mais alta também se prolonga no Brasil, como indicou o Copom, a moeda americana deve se manter fraca contra o real no curto prazo, afirma, também, Daniel Tatsumi, gestor de moedas da Ace Capital. “Não é tanto pela valorização do real, mas mais pelo dólar fraco. Vejo espaço para ficar no atual patamar de R$ 5 ou até mais baixo.”
Tatsumi lembra que os rendimentos dos Treasuries de longo prazo, que estavam acima de 4% até novembro, agora já rondam os 3,3%. “Cada vez fica mais claro que o pico foi atingido e isso é muito relevante para o dólar”, afirma. Ele, além disso, nota que houve uma mudança no setor de energia, que, no ano passado, gerou termos de troca favoráveis para os Estados Unidos. “Com essa melhora [nos preços de energia], o dólar faz o caminho contrário.”
A entrada de fluxo estrangeiro no Brasil foi outro movimento que, na avaliação do profissional da Ace Capital, ajuda a explicar a melhora do câmbio. Dados do BC mostram que o fluxo cambial está positivo em US$ 4,2 bilhões no ano até o dia 27 de janeiro. E, na avaliação de Tatsumi, a entrada de dólares no país tende a ser mais forte. “Agora no começo do ano, a safra de soja pesa bastante a favor da exportação. Então, até os meses de abril e maio, a parte comercial do fluxo cambial deve vir bastante forte”, afirma.

