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O pagamento de dividendos em 2024 já está no mesmo nível de todo o ano passado, contrariando uma expectativa menos otimista que se tinha no fim de 2023. A economia teve um desempenho melhor que o esperado, levando a resultados mais consistentes das companhias. Apesar da polêmica em relação aos dividendos, a PetrobrasCotação de Petrobras acabou ficando do lado dos acionistas na destinação de proventos. O montante pago aos acionista entre janeiro e setembro já é quase 30% maior, na comparação anual, mesmo com o número de pagadores diminuindo, dada a paralisação de novos entrantes no mercado de capitais.
Segundo levantamento da fintech Meu Dividendo, entre janeiro e setembro, as empresas abertas brasileiras pagaram R$ 222,18 bilhões em proventos, entre dividendos, juros sobre capital próprio (JCP) e outras formas de remuneração aos acionistas, bem acima dos R$ 171,8 bilhões pagos no mesmo período do ano passado. Em todo o ano 2023, as empresas brasileiras retornaram R$ 224,2 bilhões aos detentores de ações.
O valor, entretanto, segue abaixo de 2022 – R$ 247 bilhões no período analisado e R$ 319 bilhões no ano fechado – e dificilmente chegará ao mesmo nível até o fim do ano, por conta das condições extraordinárias naquele momento, principalmente no caso de duas das maiores pagadoras de proventos em volume da bolsa brasileira, PetrobrasCotação de Petrobras e ValeCotação de Vale.
Wendell Finotti, fundador da Meu Dividendo, lembra que o último ano da presidência de Jair Bolsonaro foi marcado por um lucro recorde e uma distribuição de dividendos agressiva para apoiar as contas do governo. No caso da ValeCotação de Vale, a economia de seu principal cliente, a China, também não é mais tão próspera. “Mas a gente pode verificar também a diminuição da bolsa, sem IPOs [aberturas de capital] e com empresas fechando capital, recomprando suas ações”, afirma.
Apesar do crescimento do montante na comparação com o ano passado, o número de pagadores diminuiu. Foram 189 empresas que distribuíram proventos entre janeiro e setembro – 8% a menos que as 206 em 2023.
A maior companhia da bolsa brasileira ainda é o alicerce desses pagamentos. Os quase R$ 70 bilhões pagos pela PetrobrasCotação de Petrobras são mais que o dobro desembolsado pelo segundo maior pagador em volume no ano, o Itaú Unibanco, com R$ 27 bilhões.
“Acho que o cenário de PetrobrasCotação de Petrobras não é o mesmo de 2022 e 2023, mas é um cenário que segue sólido. O receio, especialmente antes da gestão Prates [Jean Paul Prates, que presidiu a companhia até maio], era a possibilidade da desvinculação dos dividendos da gestão de caixa”, explica Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Houve uma mudança de regra, mas foi um ajuste muito suave. A lógica de remuneração do investidor com geração de caixa foi mantida e a Magda [Chambriad, atual presidente da PetrobrasCotação de Petrobras] não pretende mudar isso. ”
Outra empresa historicamente boa pagadora, a ValeCotação de Vale, não repete o desempenho dos últimos anos, mas espera-se que faça mais algum anúncio de pagamento ainda este ano. A companhia, entretanto, deve ter um resultado mais contido no terceiro trimestre, segundo analistas, quando os preços do minério de ferro estiveram pressionados, dada a menor demanda e o excesso de oferta na China.
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“O que mais pega siderúrgicas e mineradoras é a China. As notícias recentes de lá fizeram com que o minério de ferro se beneficiassem bastante. Se tivermos um minério nesse nível maior, podemos ter um benefício maior de dividendos [para os próximos trimestres]”, destaca Victor Natal, estrategista-chefe de ações para pessoa física do Itaú BBA, lembrando dos anúncios realizados pelo governo chinês para estímulo à economia.
Para além das duas gigantes, as expectativas de dividendos, dizem os analistas, não escapam de setores já tradicionalmente conhecidos pelo bom retorno aos acionistas: bancos, energia e outras companhias financeiras. “Quando você pega o resultado das empresas, temos dados bem resilientes. Acho que, de forma bem geral, não tivemos nenhuma grande mudança que fez que uma empresa que pagou bons dividendos o ano passado, mudar o que pagará este ano”, defende Arbetman, da Ativa.
Mas pensando em novos setores que podem se tornar interessantes do ponto de vista de proventos, a perspectiva não é tão clara, uma vez que demandaria uma mudança na estratégia das empresas.
“É bastante difícil colocar [setores novos que podem pagar dividendos]. Disso deriva a percepção de que companhias mudarão o seu estilo. Quando uma companhia começa a pagar dividendo? Quando ela percebe que a taxa de retorno dos projetos novos é baixa, e por conta disso, ela começa a crescer menos, o caixa fica represado [com a redução nos investimentos] e ela começa a distribuir. E isso embute uma maturação das companhias e uma maturação dos mercados”, afirma Natal, do Itaú BBA.
Arbetman, da Ativa, lembra que o setor de shoppings passa por um processo de maturação e consolidação que pode levar a se tornar um bom pagador de dividendos no futuro. Outro destaque, segundo ele, é a inclusão de algumas construtoras nas carteiras de dividendos.
Pensando nos últimos meses do ano, para quem se interessa em investir pensando em dividendos, Finotti, da Meu Dividendo, lembra que muitos setores ainda devem anunciar proventos nos últimos meses do ano e que cerca de 19% dos dividendos pagos por ano se concentram em dezembro. “Temos uma grande aposta em JCPs vindos do setor financeiro, a ValeCotação de Vale também tem uma alta probabilidade de anunciar proventos para pagamentos até novembro. Temos uma série de possibilidades.”
A “corrida” dos JCPs, entretanto, não deve ser tão intensa quanto em 2023, quando o receio na mudança de regra sobre a taxação do provento levou a um crescimento significativo nos pagamentos no segundo semestre do ano passado.
Por outro lado, o estrategista do Itaú BBA pondera que a construção de uma carteira de ações não deve focar apenas no retorno com dividendos, mas sim na valorização dos ativos. “Temos que pensar primeiro no capital sendo protegido e rentabilizado e só então procurar empresas que distribuem dividendos”, completa Natal.
Fonte: Valor Econômico

