O debate sobre o corte de depósitos compulsórios pelo Banco Central (BC) tem mais chances de avançar com a presença de Gabriel Galípolo na presidência da autoridade monetária, na avaliação de uma fonte ouvida nesta quinta-feira pelo Valor.
“O Gabriel é um cara mais aberto, menos ‘by the book’, mais leitor de conjuntura”, diz a fonte. “Se as condições deixarem, ele certamente pensará nisso, claro que acompanhando as posições dos técnicos do BC.”
Indicado pelo governo federal para assumir a presidência da autoridade monetária, Galípolo é atualmente diretor de política monetária do BC. No começo de outubro, ele teve o seu nome aprovado pelo Senado para substituir Roberto Campos Neto, cujo mandato na presidência do BC acaba no fim deste ano.
Os depósitos compulsórios são arrecadados pela autoridade monetária por meio de alíquotas cobradas sobre recursos captados pelas instituições financeiras. Eles servem tanto como um “colchão” de liquidez para o sistema bancário em momentos de crise quanto para regular a oferta e a demanda por crédito.
Em agosto, esses recursos estavam em R$ 674 bilhões, segundo a série histórica do BC. Em março de 2020, somavam R$ 354,9 bilhões. Na ocasião, pouco antes de medidas de estímulo adotadas durante a pandemia, a autoridade monetária vinha colocando em prática uma agenda estrutural de redução desses recursos.
O debate sobre o corte de compulsórios teve início ainda no ano passado, envolvendo técnicos da equipe econômica do governo federal, integrantes do Departamento de Regulação do BC e representantes tanto de instituições financeiras quanto do setor imobiliário.
Integrantes da equipe econômica defendem que a liberação de compulsórios fortaleceria o funding do crédito imobiliário, principalmente em um momento em que os recursos da caderneta de poupança voltados para essa finalidade vêm diminuindo. Entre dezembro de 2020 e setembro deste ano, esse estoque recuou de R$ 801 bilhões para R$ 764 bilhões.
Conforme publicado pelo Valor em abril, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) calculava que a redução de 5 pontos percentuais dos compulsórios sobre poupança liberaria no curto prazo R$ 37 bilhões de funding para o financiamento imobiliário.
A vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal, Inês Magalhães, também já defendeu publicamente em mais de uma ocasião o corte dos compulsórios. Na terça-feira, a Caixa, responsável por 68% do financiamento imobiliário no país, anunciou uma série de restrições para novas concessões de empréstimos para o setor – justamente por causa das dificuldades de funding. Os financiamentos feitos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), por exemplo, serão limitados a imóveis de até R$ 1,5 milhão.
Procurado, o BC afirmou que não comenta o assunto.
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Fonte: Valor Econômico

