O mercado elevou a aposta em um corte de juros mais agressivo do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de 0,5 ponto percentual, após a divulgação de dados que mostraram uma queda expressiva no volume de vagas de emprego em aberto nos Estados Unidos.
O dado refletiu no mercado de Treasuries, títulos do Tesouro americano – com o rendimento do título com vencimento de dois anos próximo de ficar abaixo da taxa do título de 10 anos -, algo que não ocorre de forma consistente desde que a curva se inverteu, em junho de 2022.
Ao fim da sessão, a taxa da T-note de 2 anos recuou de 3,873% no fechamento de terça-feira para 3,762%, enquanto a da T-note de 10 anos cedeu de 3,836% a 3,759%.
O primeiro e principal catalisador para o movimento nos Treasuries foi o relatório Jolts, que exibiu uma queda das vagas em aberto nos EUA, a 7,673 milhões em julho. O número veio abaixo das previsões do mercado e aponta para um mercado de trabalho cada vez mais desaquecido, em um momento em que o foco dos investidores e do próprio Fed sai da inflação e se volta à saúde do emprego.
“De modo geral, a mensagem do Jolts é bastante clara: o mercado de trabalho está esfriando gradualmente e, embora não esteja ‘quebrado’, é um grande ponto de interrogação saber onde ele estará nos próximos seis meses a um ano sem ajuda do Fed”, diz o diretor executivo e economista sênior do banco canadense CIBC, Ali Jaffery.
De olho nisso, o mercado voltou a precificar uma probabilidade elevada de que o Fed inicie o ciclo de corte de juros com uma redução de 0,5 ponto no dia 18. Segundo levantamento do CME Group com base nos futuros dos Fed funds, a chance de um corte mais agressivo é de 45%, contra 55% para o corte de 0,25 ponto.
Já as bolsas de Nova York tiveram um dia de movimentos amenos, após a forte queda dos principais índices acionários de Wall Street na véspera. O índice Dow Jones encerrou a sessão em leve alta de 0,09%; o S&P 500 recuou 0,16%; e o Nasdaq caiu 0,30%.
Refletindo um banco central focado na atividade e no mercado de trabalho, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, defendeu que não se deve esperar a inflação atingir a meta de 2% antes de começar a cortar os juros. “Considerando as circunstâncias atuais – redução do poder de compra e um mercado de trabalho em desaceleração -, eu reajustei o meu foco, que desde de o início de 2021 estava centrado na inflação, para incluir também o mercado de trabalho”, disse.
O Livro Bege, relatório que compila avaliações de contatos do banco central no setor privado, também deu sinais de enfraquecimento da economia americana. Segundo o documento, nove dos 12 distritos do Fed relataram atividade estável ou em queda. Na divulgação anterior, apenas cinco distritos não haviam observado crescimento da atividade.
O mercado, agora, aguarda novos dados do mercado de trabalho, em especial o “payroll”, que será conhecido amanhã e que deve ajudar a definir o rumo dos juros nos EUA.
Fonte: Valor Econômico

