Por Felipe Laurence, Valor — São Paulo
07/09/2022 16h03 Atualizado há 2 horas
A crise energética que abate a Europa não vai deixar as empresas brasileiras que atuam no continente ilesas, diz o Santander. O perigo de racionamento de energia, com a Rússia limitando cada vez mais o acesso ao seu gás natural, pode causar uma recessão econômica com efeitos nas operações dessas companhias.
“Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que, no pior cenário possível, com interrupção total do fornecimento de gás, o Produto Interno Bruto (PIB) consolidado da Europa pode cair até 3%”, diz Aline Cardoso, estrategista institucional de ações para Brasil no Santander, ao Valor.
Ela explica que há três dimensões de empresas brasileiras que atuam na Europa. Existem as que têm parte do seu faturamento atrelado ao mercado europeu, que vendem produtos ao continente. Outras são as que também produzem lá, incorrendo em custos de energia, por exemplo. E por fim, controladoras de empresas brasileiras.
“As companhias brasileiras com receitas na Europa sofrem por conta da queda na demanda e a recessão econômica, enquanto as que têm custos veem os gastos com energia aumentando de forma robusta”, comenta Aline Cardoso. Já as controladoras, aponta, podem decidir monetizar operações no Brasil para cobrir gastos.
Levantamento inédito
O levantamento feito pelo banco e enviado em primeira mão ao Valor mostra que Iochpe-Maxion, Tupy,Braskem, WEG, Embraer, Natura &Co, Klabin e São Martinho estão entre as empresas brasileiras com maior exposição de receitas e custos na Europa. “São empresas que têm entre 15% a 30% de receitas e/ou custos no mercado europeu.”
Cardoso aponta que empresas que têm somente receitas no continente, sem impacto de custos, ainda podem se aproveitar de uma situação de ganhos de participação e de preços caso um racionamento afete operações de concorrentes no bloco. “Isso pode mitigar parte da queda dos volumes no balanço financeiro”, destaca.
Já as empresas com exposição alta a custos no continente enfrentam uma situação mais desafiadora. “A Iochpe-Maxion tem 30% das receitas e 30% dos custos na Europa, a Tupy tem 10% dos custos no continente, e são empresas que fabricam implemento para outros setores, vão sentir essa crise”, diz a analista do Santander.
O banco afirma que a capacidade de importação de gás natural da Europa não consegue mitigar totalmente a perda do gás russo, o que pode criar uma situação, no pior cenário possível, de interrupção no fornecimento de gás para indústrias a fim de manter o das residências.
No caso de empresas brasileiras que têm controladoras na Europa, as incertezas no continente podem afetar seus balanços. Cardoso cita o caso da Iberdrola, dona da Neoenergia, que pode aumentar dividendos pagos ao controlador ou até mesmo pensar em negociar o ativo, caso a situação energética na Europa se agrave.
“Essas grandes holdings são empresas muito alavancadas, o aumento nos custos e a redução no fluxo de caixa livre pode afetar sua capacidade de cumprir com obrigações, o que acaba tendo efeitos nas operações dessas companhias aqui no Brasil”, comenta a analista.
Quem, na contramão, pode se beneficiar
Uma das empresas que podem se beneficiar, principalmente no longo prazo, é a Aeris. A fabricante de pás para turbinas eólicas tem participação de 5% nas receitas e 20% dos custos na Europa, destaca Cardoso. “Com a busca por novas fontes de energia, a Aeris pode ver ganhos de mercado”, comenta.
A analista do banco espanhol diz que o setor agrícola pode se destacar, com fabricantes de insumos que atuam na Europa, como a Yara, já reduzindo produção de fertilizantes. “Vemos empresas como Adecoagro, Jalles Machado e Cosan se beneficiando deste cenário”, comenta.
Quem não ganha
Companhias que lidam com commodities metálicas, como Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Vale e Gerdau, não devem se beneficiar da crise, uma vez que seus produtos estão com preços em queda em meio à redução na demanda do continente, afirma o Santander.
Fonte: Valor Econômico

