Por Anaïs Fernandes, Valor — São Paulo
15/03/2023 13h00 Atualizado há 20 horas
Apesar de ter como cenário-base um novo arcabouço fiscal que conte com algum controle de despesas, o Itaú Unibanco não trabalha com um horizonte de estabilização da dívida pública.
“O Brasil tem uma dívida elevada para um país emergente. Para estabilizar a dívida, tem que voltar a gerar resultados primários e, para tanto, precisa ou aumentar impostos ou reduzir outros gastos”, observou o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, em conversa com jornalistas nesta quarta-feira (15). “A gente não acha que vai fazer esse ajuste, por isso espera que a dívida siga crescendo.”
A expectativa do Itaú é que a relação dívida bruta e PIB passe de 72,9% em 2022 para 76,1% em 2023 e 79% em 2024.
No debate público, existem diversas propostas para o novo arcabouço fiscal, observou Mesquita. “Todas acabam levando a uma melhora do resultado primário, mas insuficientes para deter o crescimento da dívida”, disse.
“A trajetória do crescimento da dívida é algo com que a gente deve se acostumar para os próximos anos”, afirmou.
Mesquita destacou três “critérios interessantes” para um arcabouço fiscal: simplicidade, previsibilidade e impositividade.
No cenário-base do Itaú, segundo Mesquita, haverá uma regra que discipline o crescimento do gasto. “Não vai ser chamada de teto, mas vai ter um efeito parecido, mas também não vai ser um crescimento zero. Vai ser um crescimento modesto acima da inflação. Isso é o que a gente acha mais provável, é o que o Brasil consegue, dado o tamanho da dívida, a carga tributária”, disse.
Mesquita também afirmou que a equipe tem dúvidas em relação à chance de aprovação da reforma tributária como tem sido ventilada. “Tem iniciativa do governo, ele quer que seja aprovada, tem o Bernard Appy [secretário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda] que entende muito disso para tocar, mas agora a gente começa a ver as questões setoriais”, disse Mesquita, citando notícias recentes de críticas da bancada do agronegócio, por exemplo, à alíquota de 25% para um imposto sobre valor agregado (IVA).
“Pode haver um avanço na direção de simplificar sem chegar a uma unificação completa”, apontou Mesquita.
Fonte: Valor Econômico

