Por Marta Watanabe, Marsílea Gombata e Marcelo Osakabe — De São Paulo
02/09/2022 05h02 Atualizado há 3 horas
O resultado do PIB acima do esperado levou a uma série de revisões para cima das projeções de crescimento para 2022, com apostas já superando os 3% para o ano que vem. A mudança de cenário atingiu, em menor medida, também as previsões para 2023.
O cenário mais otimista para o ano que vem é do Bank of America, que revisou sua projeção para o PIB de 2,5% para 3,25%. A previsão supera a estimativa mais alta do boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira, que é de avanço de 3,13% em 2022.
David Beker, chefe de economia no Brasil e de estratégia para a América Latina do BofA, destacou, em relatório, que o desempenho melhor que o esperado no PIB de abril a junho (alta de 1,2%) veio antes mesmo da redução do ICMS de setores como energia, da elevação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e dos cortes nos preços dos combustíveis, que devem ter impacto positivo no resultado da segunda metade do ano. “Aquela grande desaceleração que esperávamos no segundo semestre não vai acontecer. Estamos com um ‘momentum’ muito positivo”, afirmou Beker.
O Goldman Sachs, por sua vez, aumentou a estimativa para a expansão da economia neste ano de 2,2% para 2,9%, dado o avanço mais forte do PIB no segundo trimestre, revisões para cima do resultado dos dois trimestre anteriores, da melhora de indicadores de confiança e da perspectiva de transferências fiscais mais altas para o setor privado no segundo semestre deste ano. Para 2023, o banco elevou a previsão de 0,7% para 0,9%.
A estimativa é que setores de serviços ainda afetados pela covid-19 se recuperem ainda mais nos próximos meses e estímulos fiscais adicionem 0,7 ponto percentual no PIB, afirmou, em relatório enviado a clientes, Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do banco.
“No futuro, contudo, a inflação elevada, o impacto defasado do recente aperto monetário e financeiro, condições de crédito cada vez mais exigentes, alto nível de endividamento das famílias, desaceleração contínua da economia global (e potencial suavização dos preços das commodities e dos termos de troca), e a incerteza política pós-eleitoral, provavelmente adicionarão ventos contrários crescentes à atividade econômica”, argumentou.
Já o J.P. Morgan elevou a sua previsão para 2022 de 1,8% para 2,6%, apostando num ‘PIB mais forte na segunda metade do ano, na esteira dos estímulos adicionais à economia e à alta na renda disponível, principalmente por causa da queda do preço dos combustíveis”, diz o banco, em relatório. Para 2023, os economistas do J.P. Morgan esperam agora uma contração de 0,1%, ligeiramente melhor que a queda de 0,2% projetada anteriormente.
A MB Associados alterou a sua projeção para o crescimento da economia em 2022 de alta de 1,6% para uma expansão de 2%. Para o ano que vem, foi mantida a estimativa de crescimento de 0,5%. Para Sergio, Vale, economista-chefe da MB, uma variação acima de 2% neste ano dependerá especialmente do último trimestre de 2022
Para o ano que vem, Vale considera ainda que os impactos acumulados dos ajustes fiscais e monetários serão relevantes no ano que vem, mesmo com algum efeito carregamento estatístico maior que possa ter esse ano. Um crescimento maior em 2023 somente será possível com um governo bastante forte e rápido nos ajustes e especialmente com uma reforma tributária mais ampla, que estimularia rapidamente novos investimentos, diz Vale.
A consultoria Capital Economics foi outra que também revisou as previsões para este ano, após a alta maior que a esperada para o PIB do segundo trimestre. A estimativa passou de 2% para 2,5%.
William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, argumentou, contudo, que o ritmo deve diminuir no segundo semestre de 2022. “As taxas de juros altas domésticas pesarão no crescimento do crédito e na demanda doméstica. E os preços de commodities devem cair novamente, piorando os termos de comércio do Brasil”, afirmou. Esse cenário fez a Capital Economics revisar o crescimento do PIB de 2023 de 1,3% para 0,8%.
A BRCG também modificou suas estimativas para este ano e o próximo. A projeção para 2022 passou de 1,6% para 2,2%. Para 2023, a previsão foi revisada de queda de 0,1% para alta de 0,1%.
Como ainda não há dados do terceiro trimestre de 2022, diz o economista Livio Ribeiro, sócio da BRCG, a opção foi de revisão cuidadosa, considerando que o carregamento estatístico para o ano após a divulgação do resultado do segundo trimestre é calculada em 2,6%. Isso significa que, se o PIB ficar estável na segunda metade do ano, a economia avançará 2,6% em 2022. “Não será nenhuma surpresa se, em pouco tempo, tivermos números acima de 2,5% para 2022.” Para 2023, a herança estatística pode ajudar, dependendo da estrutura do segundo semestre deste ano, diz Ribeiro.
Fonte: Valor Econômico

