Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro, Valor — Brasília e São Paulo
26/04/2023 11h46 Atualizado há 12 horas
Diante da deterioração do cenário do mercado de crédito no país, a avaliação do Banco Central (BC) é que a desaceleração da taxa de crescimento do saldo dos empréstimos está “em linha” com o desempenho da economia e com o ciclo de aperto monetário. Ainda que sustente avanço de dois dígitos no acumulado em 12 meses, com 12% até março, o ritmo vem se reduzindo mês a mês.
Os dados de crédito são importantes para as decisões futuras de política monetária porque o BC incluiu uma desaceleração mais forte do que a esperada nos empréstimos bancários como um fator de risco que poderia fazer a inflação cair abaixo dos valores projetados.
Em março, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) estavam divididos no diagnóstico sobre a desaceleração de crédito — se ela estava ocorrendo da forma esperada ou não, dado o nível de juros. Uma parcela dos membros do colegiado acreditava que estava mais forte do que a antecipada, mas concentrada em algumas linhas de crédito.
O estoque dos empréstimos registrou alta de 15,6% em 2020, de 16,3% em 2021 e de 14,0% em 2022 — em junho do ano passado, a taxa de crescimento chegou ao pico de 17,8%. “O que a gente tem visto é uma desaceleração nos últimos nove meses. Por volta de junho de 2022, diversas séries registraram o pico [de crescimento] e de lá para cá vêm desacelerando, está consistente com o desempenho da economia”, disse o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha. Ele ressaltou que o Produto Interno Bruto (PIB) se reduziu em 0,2% no quarto trimestre do ano passado.
Rocha observou que, com base na projeção do BC para 2022 de crescimento de 7,6%, a tendência é que o ritmo de crescimento do saldo permaneça em trajetória de desaceleração nos próximos meses. Sobre o efeito da crise das Americanas no crédito, ele disse que o efeito foi pontual, apenas nas linhas em que a empresa era mais exposta, como antecipação de fatura e desconto de duplicatas.
“O desconto de duplicatas cresceu bem em março, a 7,5%, mas por fatores sazonais. Não dá para dizer que chegamos ao fundo do poço no desconto de duplicatas, temos os dados só de um mês. Vamos precisar de mais dados para saber se o episódio [Americanas] foi superado”, disse o técnico.
O rombo na varejista, segundo os dados do BC, impactou de forma mais evidente as antecipações de faturas de cartão, e o efeito ficou menos visível em desconto de duplicatas e na captação de títulos privados. Além disso, o saldo para micro e pequenas empresas, segmento que havia sido afetado pela crise das Americanas, voltou a subir no mês, com alta de 0,5%. Em fevereiro, a modalidade apresentou queda de 0,6%.
Rocha ressaltou, ainda, que houve migração nos últimos meses de linhas mais baratas para modalidades mais caras, mas que em março o movimento foi oposto, com avanço de empréstimos com juros menores. Segundo ele, contudo, não é possível afirmar que se trata de uma tendência.
No rotativo do cartão de crédito para pessoa física, uma das linhas mais caras, houve queda de 3,2% no saldo, mas o parcelado aumentou 5,7% em março. “Os valores absolutos [das modalidades] foram similares, houve migração do rotativo para o parcelado”, avaliou. Na linha, a taxa média de juros ficou em 430,5%, maior nível desde março de 2017. “É preciso que as pessoas evitem cair nessa modalidade”, ressaltou o técnico.
“O cenário que nós temos para o crédito é de um crescimento para março, mas com desaceleração [na taxa de crescimento em 12 meses] nos saldos e redução das concessões [dessazonalizadas] para o mês”, destacou Rocha. Na série ajustada, as concessões, que são novos empréstimos, caíram 1,0%. Ele explicou que a dessazonalização retira efeitos efeito de eventos específicos do período ou do número de dias úteis.
Mesmo com a piora no cenário, a inadimplência ficou estável em relação a fevereiro, mas se manteve em patamar elevado, especialmente no segmento de crédito livre para as famílias, que fechou o mês a 4,1%, maior nível desde maio de 2017.
Fonte: Valor Econômico

