Por Cristiane Agostine, Adriane Castilho, Luísa Martins e Renan Truffi — De São Paulo e Brasília
17/10/2022 05h02 Atualizado há 9 minutos
O primeiro debate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) na noite deste domingo (16) foi marcado por ataques e trocas de acusações sobre a pandemia, corrupção, “fake news” e pobreza. Lula procurou desgastar Bolsonaro ao explorar a falta de vacinas e os problemas da gestão federal para combater a covid-19. Em contrapartida, o presidente destacou o esquema de corrupção do “petrolão” durante a gestão petista. Em comum, os dois candidatos se comprometeram a não aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), se eleitos. E chamaram um ao outro de “mentiroso”, ao longo do debate.
Partiu do próprio Bolsonaro mencionar a polêmica sobre um vídeo removido das redes sociais ontem, em que ele relatou uma visita a adolescentes venezuelanas na periferia de Brasília e usou a expressão “pintar um clima”. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu o uso de edições do vídeo pela campanha de Lula. O presidente citou a decisão de Alexandre de Moraes como uma evidência de que ele era vítima de “fake news”.
Lula abordaria o tema adiante. “Você deve dormir com a consciência muito pesada. Quem te conhece sabe o que você fez”, disse. Neste momento, os dois se aproximam, ambos segurando papéis, e Lula parece mostrar uma foto a Bolsonaro, afastando-se em seguida.
Lula afirmou que Bolsonaro era responsável pelo maior número de fake news da campanha presidencial. “Meu adversário teve 36 processos de fake news, isso faz parte do cotidiano dele.”
O debate sobre corrupção esquentou no terceiro bloco. Questionado sobre o esquema de corrupção da Petrobras revelado pela Operação Lava-Jato- cujo responsável, o senador eleito Sérgio Moro (União Brasil-PR) estava no debate a convite de Bolsonaro- Lula limitou-se a dizer que o caso só teria sido apurado porque nos governos petistas a Polícia Federal (PF) tinha liberdade para investigar.
Bolsonaro aproveitou a deixa e afirmou que Lula enterrou R$ 90 bilhões com obras de três refinarias que nunca foram concluídas. “Dinheiro que você enfiou no ralo e dividiu com seus amigos”, disse o presidente.
Em outro momento do debate, Bolsonaro, voltou a enfatizar o tema da corrupção e insinuou que houve uma suposta entrega de recursos do governo Lula para Venezuela. O petista, no entanto, rebateu e puxou o debate para o tema do salário mínimo, afirmando em seguida que o atual governo não concede reajuste com ganho real há três anos.
O petista tentou vincular Bolsonaro ao Orçamento secreto, e o presidente disse ter vetado. “Eu jamais daria dinheiro para essa turma, nunca comprei voto de ninguém. Eu até queria que o orçamento estivesse nas minhas mãos, eu faria melhor uso”, afirmou.
Questionados sobre os planos para o Supremo Tribunal Federal, os dois candidatos disseram que não pretendem mexer na configuração da Corte. Lula afirmou ser contra o aumento de ministros do Supremo e lembrou que isso aconteceu durante o regime militar. Em resposta, Bolsonaro acusou o PT de já ter trazido essa ideia no passado.
Além disso, o candidato do PL se comprometeu em não sugerir um aumento do número de ministros do Supremo. Apesar disso, em seguida, Bolsonaro acusou o STF de viabilizar a elegibidade de Lula para a disputa presidencial deste ano.
No início do debate, Lula partiu para ofensiva ao perguntar, de forma incisiva, quantas universidades e escolas federais Bolsonaro havia criado. O presidente se esquivou de responder. Na sequência o petista o confrontou sobre suas atitudes durante a pandemia. “O senhor debochou, riu, simulou pessoas morrendo engasgadas. Não há história de alguém que brincou com a pandemia e a morte da forma como o senhor brincou”, disse o petista.
Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce, que é comprovadamente ineficaz. Ele acusou o petista de “agradecer a natureza’ pela proliferação da vírus.
Lula voltou a carga: “O senhor recebeu proposta de vacina muito cedo e não quis comprar vacina porque não acreditava na pandemia. Você tratava como uma ‘gripezinha’”, disse Lula. Além disso, o petista lembrou que Bolsonaro decretou sigilo sobre seu próprio cartão de vacinação.
Na sequência, Bolsonaro usou o tema da segurança pública para atacar Lula e o questionou sobre o motivo de não ter transferido presos para presídios federais, de segurança máxima. O presidente afirmou que houve um suposto acordo com Marcos Camacho, o Marcola, chefe do PCC, durante governo estadual de Geraldo Alckmin, vice na chapa do petista. Em resposta, Lula disse que quem entende de criminoso é Bolsonaro, que teria relações com milicianos. E indagou: “Eu criei cinco penitenciárias de segurança máxima em meu governo. Quantas o senhor criou?”, indagou.
Bolsonaro disse que o petista tinha “tanta afinidade com bandido que recebe quatro de cada cinco votos de presidiários”, e que suas ações nas favelas do Rio de Janeiro “não tinha nenhum policial ao seu lado, só traficante”. Lula retrucou: “Quando eu era presidente, o pessoal falava para eu ter cuidado, pois Bolsonaro é amigo dos milicianos, mas eu ia, porque eu acredito no povo. Tinha vizinho seu que tinha cem armas dentro de casa, e esse não era do Complexo do Alemão”, afirmou o petista.
O ex-presidente se descuidou ao cuidar do tempo que tinha e deixou Bolsonaro ficar com mais de 5 minutos no fim do debate, sem ter direito à réplica. O presidente voltou a bater no Bolsa Família, programa de transferência de renda que foi criado na gestão petista. Bolsonaro defende que Lula poderia ter pago mais para os beneficiários, mas não quis.
Lula conseguiu um direito de resposta e usou o tempo para lembrar das suspeitas envolvendo a família Bolsonaro, com a compra de ao menos 51 imóveis em dinheiro vivo. “ Você continua descaradamente mentindo. O povo não quer alguém que compre 51 imóveis, não quer mais rachadinha. O petista citou ainda gastos milionários do atual presidente no cartão corporativo.
Fonte: Valor Econômico

