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O franco suíço e o iene devem ser as moedas que mais irão se valorizar ante o dólar no ciclo de afrouxamento monetário do Federal Reserve (Fed). O euro e a libra, ao contrário, deverão se enfraquecer ante o dólar, avalia o novo executivo-chefe de investimentos do banco suíço Lombard Odier, Michael Strobaek. Em entrevista ao Valor, ele disse que o banco central americano deve iniciar seu ciclo de flexibilização nesta semana com um corte de 0,5 ponto percentual por estar “atrás da curva”.
Segundo ele, com o Banco Nacional da Suíça (SNB, na sigla em inglês) tendo pouco espaço para cortar juros e o Banco do Japão (BoJ) gradualmente aumentando suas taxas, o afrouxamento monetário em marcha no resto do globo, principalmente nos EUA e zona do euro, deve beneficiar as duas moedas. Strobaek projeta que, depois de dois anos em níveis historicamente baixos e com o BoJ relutante em normalizar sua política monetária, o iene ficou sem um catalisador para se recuperar. “Mas agora, com o Fed perto de iniciar o afrouxamento monetário e o BoJ começando a normalizar sua política, a moeda deve se valorizar do atual nível de cerca de 145 ienes por dólar para perto de 135 no período de 12 meses”, disse.
Para o CIO, que assumiu suas funções em novembro do ano passado, o caminho para um iene mais forte será volátil, porque a moeda é mais sensível aos rendimentos dos Treasuries dos EUA e também a saídas de capital. O Japão tem um déficit comercial devido a sua dependência do mercado internacional, incluindo preços voláteis de commodities.
Já o franco suíço permanece fortalecido e em um valor justo, segundo ele. O economista explica que, normalmente, em economias pouco abertas como a suíça, um desequilíbrio na balança comercial pode indicar que a moeda está valorizada demais. “O que não é o caso da Suíça, pois o franco está forte e a balança comercial do país segue sólida devido ao alto valor de suas exportações, como produtos farmacêuticos, que são menos sensíveis ao câmbio”, afirma. Com compras de franco por exportadores em volume acima das vendas dos importadores, não há muita saída de capital. Segundo ele, o maior vetor de fluxos de capital para fora do país é o próprio banco central, o SNB, que entre 2009 e 2011 fez várias intervenções de venda de franco e que, devido a um balanço de ativos maior que 100% do PIB suíço, deve repetir essas ações. A expectativa é que o dólar atinja a marca de 0,88 franco em três meses e a de 0,84 franco em 12 meses.
O enfraquecimento do euro e da libra esterlina se deve, segundo ele, ao fato de que, neste ciclo de redução de taxas, os juros devem terminar mais altos nos EUA do que na zona do euro e na Inglaterra. Outro fator de pressão nas duas moedas é o cenário na China, que quando registrava crescimento econômico expressivo impulsionava as moedas europeias. “Hoje o ambiente é menos promissor, com a China em desaceleração e as autoridades não adotando medidas de estímulo mais agressivas”, disse.
Segundo ele, parte da queda do índice DXY – que mede a relação do dólar com uma cesta de seis moedas de países desenvolvidos, incluindo euro e libra – no último mês se deve a uma maior expectativa de vitória dos democratas nas eleições presidenciais de novembro nos EUA. Dependendo de quem vencer, o impacto nas moedas será diferente. Uma vitória republicana, para Strobaek, seria negativa para o euro, que cairia do atual nível de US$ 1,10 para um intervalo entre US$ 1,01 e US$ 1,06. Já uma vitória democrata seria negativa para o dólar, porque implicaria uma redução maior dos juros, com o euro ficando em um intervalo entre US$ 1,08 e US$ 1,13. No caso da libra, a expectativa é que recuaria da marca de US$ 1,31 hoje para US$ 1,23 em um ano.
Strobaek considera que a economia americana fará um pouso suave. “Apesar dos dados mais fracos de mercado de trabalho recentes, os EUA estão longe de uma recessão.” Ele avalia, contudo, que o Fed ficou um pouco atrás da curva ao não cortar os juros em julho, cometendo o mesmo erro do início do ciclo de aperto monetário, quando demorou para elevar as taxas.
“O payroll de agosto exclui os cenários mais extremos de risco de recessão, com a taxa de desemprego caindo para 4,2% e a participação da força de trabalho ficando estável. A taxa de pedidos de demissão em 2,1% e as demissões em 1,1% ficaram em linha com tendências anteriores à pandemia, o que indica que não existe um estresse particular no mercado de trabalho americano”, afirma. O relatório do mercado de trabalho mostrou criação de 142 mil vagas, ante expectativa de 161 mil.
Strobaek avalia que, considerando a mudança de foco do Fed em direção ao mercado de trabalho anunciado em Jackson Hole e o fato de que vários dirigentes já mostraram intenção de cortar juros na reunião de julho, segundo a ata, um corte de 0,5 ponto seria apropriado. “Uma alternativa seria um corte de 0,25 ponto vir acompanhado de uma forte orientação de que haverá novos cortes nas próximas reuniões”, disse.
Ele acredita que os riscos de recessão nos EUA continuam limitados. “Embora o crescimento esteja desacelerando, o consumo segue resiliente”, disse. Ele espera que, após a decisão desta semana, o Fed faça cortes de 0,25 ponto nas próximas reuniões de 2024 e em 2025, com a taxa de fim de ciclo ficando em 4,25% no caso de vitória de Donald Trump e em 3,5% se Kamala Harris ganhar.
Fonte: Valor Econômico
