Por Ana Beatriz Bartolo, Victoria Netto e Victor Meneses — De São Paulo
29/11/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
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As companhias brasileiras apertaram outra vez os cintos e conseguiram uma ligeira melhora nos resultados operacionais no terceiro trimestre, apesar da redução na receitas de vendas no período.
Levantamento feito pelo Valor Data com 407 empresas não financeiras com dados públicos mostra que elas somaram vendas de R$ 883 bilhões no trimestre – o equivalente a US$ 176 bilhões no fim de setembro -, queda de 1,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. O que fez a diferença foram os custos, 2,4% menores no trimestre – cerca de R$ 16,8 bilhões de economia.
As despesas operacionais gerais, administrativas e com vendas também caíram, 1,8%, para R$ 105,8 bilhões.
Com esse esforço, o lucro antes dos efeitos do pagamento de juros e variações cambiais desse conjunto de empresas cresceu 3,1% em um ano, para R$ 107,1 bilhões, 12,1% da receita, avanço de 0,6 ponto percentual na chamada margem operacional ante o mesmo intervalo de 2022.
É um ganho tímido, ainda mais quando se considera que a base de comparação é muito fraca – no terceiro trimestre de 2022, um período de inflação e juros (mais) altos quando os custos subiram mais que a receita, o lucro operacional caiu 14% em relação a 2021.
Os números não incluem Petrobras e Vale, que, pelo tamanho, tendem a distorcer a análise. Das 407 empresas que fazem parte da amostra, 268 têm ações negociadas, com valor de mercado perto de R$ 2,5 trilhões. A petroleira e a mineradora, as duas maiores empresas da B3, valem juntas cerca de R$ 808 bilhões, 24% do total do valor da amostra.
Se o operacional foi bem, o lado financeiro deixou a desejar. As despesas líquidas com câmbio e juros da amostra cresceram 35%. O resultado foi uma redução do lucro líquido em 4,2% no período, para R$ 44,3 bilhões.
“Os resultados operacionais surpreenderam, com as empresas segurando vendas e compondo margens com controle de custos”, diz Wesley Barnabé, gerente de pesquisa do BB Investimentos.
As empresas estão mais eficientes, acredita Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora. Elas conseguiram repassar o custo para o consumidor e se tornaram mais enxutas na parte de despesas gerais e administrativas e na cadeia de insumo, com margens estáveis ou melhores na comparação anual.
Entre os destaques de setoriais, Peretti coloca transporte e construção civil, principalmente as empresas expostas ao segmento de baixa renda. “O orçamento deste ano para o Minha Casa Minha Vida permitiu que as construtoras conseguissem vender a preços um pouco mais atrativos os empreendimentos. O maior acesso ao programa também contribui para esse momento operacional melhor.”
Os resultados operacionais surpreenderam, com retenção de vendas e margens” — Wesley Barnabé
De julho a setembro, a área de incorporação nacional da MRV&Co, que abrange as marcas MRV e Sensia, voltou ao azul. Na teleconferência de resultados, o diretor-presidente, Rafael Menin, disse que a reversão de prejuízo mostra que o negócio está no caminho certo.
O estrategista de pessoas físicas do Itaú BBA, Victor Natal, diz que entre os destaques positivos aparece o setor de educação, que superou as expectativas do banco em termos de lucro.
“O que vimos foi um número maior de matrículas e as companhias mostrando resultados de acordo com suas projeções, o que é bastante relevante”, diz. “O setor de educação é muito sazonal, e os trimestres ímpares, que são períodos de matrículas, costumam ser melhores.”
Do lado negativo, os analistas apontam para o setor de siderurgia e o setor de papel e celulose, embora os números tenham vindo dentro das expectativas conservadoras fixadas. Já o setor de varejo trouxe resultados díspares, com variações de acordo com a área de atuação, na avaliação dos analistas.
“Existe ainda pressão de rentabilidade em bens duráveis e em supermercados, que têm mais dificuldade de recompor inflação nos resultados. Em shoppings, a elevação de vendas por metro quadrado foi uma mensagem superpositiva para o mercado, porque significa estabilidade ou alguma melhora na ocupação”, avalia Barnabé, do BB Investimentos.
A operadora de shoppings Multiplan, por exemplo, registrou alta na receita e no lucro, beneficiada não apenas pelo desempenho operacional mas também pela reorganização de ativos pelo qual passa o setor, com companhias maiores se desfazendo de imóveis e ativos menos rentáveis. Os analistas consideraram o desempenho robusto.
“A Multiplan continua aumentando sua receita de locação, de serviços e estacionamento, que contaram com alavancas de eventos do setor de cinema e ajustes de tarifas, respectivamente”, diz o relatório assinado por Georgia Jorge e André Oliveira, do BB Investimentos. “ A companhia ainda reportou elevação de margens acima de nossas expectativas.”
Fonte: Valor Econômico

