Por Matheus Schuch — De Brasília
22/07/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o corte de 10% da Tarifa Externa Comum (TEC), a taxa de importação de produtos provenientes de fora do Mercosul, ajudará a combater a inflação. A fala foi reproduzida durante a cúpula do Mercosul, que ocorre no Paraguai.
Foi a primeira vez que Bolsonaro não compareceu ou participou ao vivo do encontro. Ele enviou um vídeo, que foi transmitido durante a reunião.
No início do encontro de líderes do bloco, o Itamaraty chegou a informar que o Brasil seria representado apenas pelo ministro de Relações Exteriores, Carlos França. Mais tarde, porém, decidiu-se pela reprodução de um vídeo do presidente. A fala durou pouco mais de 3 minutos.
Bolsonaro defendeu que o entorno regional é prioritário, junto à expansão do fluxo comercial, para tornar o bloco mais preparado para desafios mundiais. A revisão horizontal da TEC, aprovada na véspera, já era defendida pelo governo brasileiro e foi exaltada pelo presidente.
“O Brasil tem atuado para que o Mercosul tenha papel importante no enfrentamento dos atuais choques externos. Por isso, defendemos a redução da TEC, o que dará importante contribuição no combate à inflação”, pontuou.
Aprovado durante a cúpula, o acordo de livre comércio entre Mercosul e Cingapura foi fechado depois de quatro anos de negociações, as quais desaceleraram durante a fase mais aguda da pandemia. Mas elas foram retomadas com velocidade nos últimos meses. É o primeiro tratado do gênero entre o bloco sul-americano e seus parceiros na Ásia.
O texto do acordo passará agora por uma revisão jurídica, como é de praxe, antes de ser assinado. Para entrar em vigência, precisará de aprovação dos Congressos de todos os países.
O acordo elimina as tarifas de importação sobre cerca de 90% do intercâmbio bilateral. Segundo revelou o Valor, na parte não tarifária o acordo com Cingapura poderá contemplar os compromissos mais amplos já assumidos pelo Mercosul em três áreas: facilitação de investimentos, abertura de serviços e regras para comércio eletrônico.
A intenção do governo brasileiro é que Cingapura sirva de porta de entrada para produtos brasileiros e do Mercosul no Sudeste Asiático e no Pacífico, uma das regiões mais dinâmicas da economia global atualmente. Cingapura tem uma robusta infraestrutura portuária e uma rede de 27 tratados de livre comércio.
Este é o primeiro acordo de livre comércio fechado pelo Mercosul desde 2019, quando houve um entendimento com a União Europeia e com o EFTA (Suíça, Noruega, Islândia, Liechtenstein). Os dois acordos, no entanto, hoje enfrentam obstáculos em meio à alta do desmatamento na Amazônia e críticas à política ambiental brasileira.
Ontem, na mensagem que enviou à cúpula do Mercosul, Bolsonaro ressaltou ainda o papel do Brasil, que trabalhou “com afinco” para a conclusão do acordo do bloco com Cingapura. O mandatário brasileiro aproveitou a manifestação para destacar medidas de seu governo para o enfrentamento de efeitos da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Estamos trabalhando internamente para combater as causas do aumento de preços dos combustíveis e da energia, que nos últimos meses vinha afetando o poder de compra do povo brasileiro. Ampliamos há pouco o aumento do auxílio emergencial às famílias de baixa renda, que continuam a ser o foco prioritário das nossas ações”, concluiu.
Fonte: Valor Econômico

