Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro — Brasília e São Paulo
26/10/2022 18h36 Atualizado há 11 horas
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou na noite desta quarta-feira seu plano de manter os juros em patamar elevado “por período suficientemente prolongado”, deixando a taxa básica (Selic) nos atuais 13,75% ao ano. Desta vez, a decisão foi unânime, contando com o apoio de dois membros que haviam votado por aumentar mais os juros na reunião de setembro.
O colegiado reiterou que se manterá “vigilante” e continuará avaliando se a estratégia será “suficiente” para levar a inflação à meta. Em comunicado muito semelhante ao da reunião anterior, o BC repetiu que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. “O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, afirmou.
Como faz a cada novo trimestre, o Copom deslocou para frente o seu horizonte relevante, para quando o BC entende que a política monetária tem o seu efeito máximo para baixar a inflação, e passou a atribuir o mesmo peso para as metas de inflação dos anos de 2023 e a 2024.
O colegiado optou por dar ênfase, na sua decisão sobre juros, à inflação acumulada em 12 meses até junho de 2024, período para o qual projeta uma variação de preços de 3,2%. Antes, o foco era o período de 12 meses até março de 2024, para o qual projetava uma variação do índice de 3,5%.
Nessa nova projeção, a inflação estimada pelo colegiado fica mais próxima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário nacional (CMN) para o ano calendário de 2024, de 3%. A estimativa de inflação do Copom para o ano-calendário de 2024 foi revista de 2,8% para 2,9%.
A perspectiva do Copom para a inflação deste ano permaneceu em 5,8%, o que significa que deverá ficar não apenas acima do centro da meta, de 3,5%, mas também estourar o intervalo de tolerância, de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. O Copom pouco pode fazer para baixar a inflação deste ano, já que as altas de juros levam tempo para se transmitir pela economia e surtir efeito nos preços.
Para o ano que vem, o Copom elevou a sua projeção de inflação de 4,6% para 4,8%. Também nesse caso a inflação supera a meta, definida em 3,25%, e o teto do intervalo de tolerância, que admite inflação de até 4,75%. Em tese, o colegiado poderia manejar a política monetária para cumprir o objetivo em 2023, mas há alguns meses decidiu mirar um horizonte mais distante. “O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários”, justificou.
O Copom reconheceu que houve queda recente na inflação, mas indicou que o progresso ainda não é suficiente. “Apesar da queda recente concentrada nos itens voláteis e afetados por medidas tributárias, a inflação ao consumidor continua elevada. As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.”
Para o Copom, os riscos de a inflação superar o projetado se equilibram com as chances de ficar abaixo. Entre os itens que podem puxar os preços para cima, o colegiado citou uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, um nível de ociosidade mais apertado que o previsto, além de incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos adicionais, que já estariam “parcialmente incorporados” nas expectativas do mercado. Por outro lado, segundo o comunicado, uma queda adicional dos preços das commodities, desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e a manutenção dos cortes de impostos em 2023 estão entre os fatores de baixa.
O BC ressaltou que a economia sinalizou ritmo mais moderado de crescimento desde a última reunião. O colegiado também observou que o ambiente externo “mantém-se adverso e volátil”. “O ambiente inflacionário segue pressionado, enquanto o processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas, tornando as condições financeiras mais apertadas”, ressaltou. Segundo o comunicado, o comitê notou também “maior sensibilidade” dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados e disse que a dinâmica externa inspira “maior atenção para países emergentes”.
Fonte: Valor Econômico

