Seis em cada dez startups do setor farmacêutico focam o consumidor final
Por Jacilio Saraiva — De São Paulo
07/04/2022 05h04 Atualizado há 6 horas
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Seis em cada dez startups (58,9%) do setor farmacêutico desenvolvem soluções exclusivamente para o consumidor final. O restante (41,1%) mantém contratos com empresas e seus clientes. É o que indica estudo da plataforma de inovação Distrito, que mapeou 40 negócios no segmento. Entre as inovações, há operações que funcionam como farmácias 100% on-line ou que facilitam a entrega em domicílio de medicamentos prescritos em receitas digitais.
Na Pill Farmácia Digital, uma das apostas é a venda de produtos com periodicidade de remessa definida pelo consumidor, principalmente para medicação recorrente. Fundada em 2021, a expectativa é faturar R$ 7 milhões em 2022, diz o co-fundador Bruno Ramos. Para atrair clientes, além de operar como uma farmácia on-line, oferece frete grátis na cidade de São Paulo.
Ramos, que foi vice-presidente da boutique de M&A Singular Partners e participou de negociações de compra e venda no varejo farmacêutico, diz que adota o conceito de “dark pharmacy” – apenas com um centro de distribuição, sem unidades físicas. O modelo, relata, permite trabalhar com preços mais em conta para o consumidor. A Pill recebeu investimentos e consultoria da investidora Coruja Capital. O plano é abrir até duas “dark pharmacies” nos próximos meses e reduzir o tempo de envio dos produtos, estimado em uma hora, na capital paulista.
Na Mevo, fundada em 2017 como Nexodata e desde março com a nova denominação, o diferencial é permitir a compra on-line de medicamentos indicados por receita médica em farmácias credenciadas. Antes, operava apenas no modelo B2B (entre empresas), oferecendo a hospitais e clínicas sistemas para a emissão de prescrições digitais. Agora, quando o paciente recebe uma receita digital emitida pelo software da empresa pode levar a anotação nas farmácias ou comprar o medicamento on-line. É possível também, pelo celular, visualizar as opções de lojas que vendem os remédios prescritos.
Pedro Dias, presidente e co-fundador da Mevo, diz que a ideia é descomplicar a vida dos usuários, médicos e farmacêuticos, que sempre precisavam de uma receita em papel para finalizar as vendas. O número de farmácias parceiras passou de 18 mil, em março de 2021, para 25 mil. Já a quantidade de instituições de saúde que usam a tecnologia para emitir as receitas saltou de dez, em março de 2020, para 300. Seis milhões de prescrições on-line foram despachadas desde 2017.
“Com o avanço da telemedicina, o volume de pacientes atendidos cresceu onze vezes, nos últimos 12 meses”, diz Dias. No ano passado, a então Nexodata captou R$ 35 milhões em uma rodada de investimentos que contou com participação do Meli Fund, fundo do Mercado Livre. A LTS Investments, do empresário Jorge Paulo Lemann, já havia apoiado a startup, que prevê ampliar, em breve, a equipe de 100 para 150 funcionários.
Na opinião de Giovanni Oliveira, diretor de operações da Farma Ventures, venture builder dedicada ao varejo farmacêutico, o ano promete mais oportunidades para as startups do ramo. “Muitas empresas estão buscando investimentos em inovação aberta”, diz.
Criada em 2020 pelas redes de farmácias Drogal e Indiana, com mentoria da agência de investimentos Top Capital, a Farma Ventures seleciona e desenvolve negócios com o objetivo de alavancar soluções inovadoras e promover a aproximação dos empreendedores com grandes grupos. Tem oito negócios no portfólio – quatro de Minas Gerais, três de São Paulo e um do Rio de Janeiro. O conjunto é avaliado em R$ 46 milhões. “A meta é fecharmos o ano com 20 startups”, diz Oliveira.
Estão no radar da Farma Ventures empresas de automação de PDVs, de controle de preços e estoque, além de serviços de saúde e de gestão de pessoal. Após selecionar as investidas, ela entra como co-fundadora das operações e garante apoio estratégico, acesso ao mercado farmacêutico e a fundos de investimento. A companhia já ajudou a captar R$ 2,1 milhões.
Uma das investidas, a paulista XLZ, é dona de uma plataforma digital que conecta varejistas farmacêuticos e fornecedores. “Os fornecedores podem antecipar os recebíveis [notas fiscais] de modo simples e sem intermediação bancária”, diz o CEO e fundador Valmir Fernandes, que espera superar a marca de R$ 500 milhões em antecipações em 2022 – em 2019 alcançou R$ 220 milhões. “Já atendemos mais de 650 farmácias em todo o Brasil.”