O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quinta-feira, 7, que escolheu o atual presidente do Conselho de Assessores Econômicos (CEA, na sigla em inglês), Stephen Miran, para ocupar, até 31 de janeiro, o cargo de diretor no Conselho do Federal Reserve (Fed), equivalente ao Banco Central americano.
“Enquanto isso, continuaremos buscando um substituto permanente”, escreveu o republicano em sua rede, a Truth Social.
Miran é um crítico declarado da gestão de política monetária conduzida pelo presidente do BC americano, Jerome Powell, que nos últimos meses vem sendo alvo de pressão de Trump, em uma campanha que inclui ofensas e ameaças de demissão porque o Fed não reduz os juros básicos da economia dos EUA.
Reportagem do jornal The New York Times lembra que, no primeiro governo Trump, Miran trabalhou no Departamento do Tesouro, então sob comando de Steven Mnuchin. Depois, ingressou na Hudson Bay Capital Management, um fundo de hedge, como estrategista sênior. Registros da campanha federal mostram que Miran fez doações para a campanha de reeleição de Trump.
Desde que retornou ao governo, Miran supervisiona o trabalho na Casa Branca para produzir pesquisas sobre os efeitos econômicos das políticas do presidente. Nessa função, ele tem se mantido firme em seu apoio à agenda de Trump, produzindo, por vezes, relatórios questionados por economistas, observa o NYT.
Miran repetiu a afirmação de Trump de que tarifas elevadas não causariam aumento significativo dos preços ao consumidor. Sob sua liderança, o Conselho de Assessores Econômicos produziu um relatório que argumentava que o custo dos impostos expansivos sobre importações adotados por Trump recaíram principalmente sobre fornecedores estrangeiros que não podiam se dar ao luxo de perder o acesso ao mercado americano.
Por vezes, opiniões de Miran contradizem as projeções da maioria dos economistas, e até mesmo alguns dos dados iniciais, depois que um relatório de inflação mostrou que bens como roupas estavam ficando mais caros.
“Claro, eventualmente, um meteoro vai cair ou algo assim, mas estamos esperando e já faz muitos meses, e essa evidência simplesmente não surgiu”, disse Miran, no mês passado, à CNBC.
Antes de ingressar no governo, Miran propôs desvalorizar o dólar americano para tornar as importações americanas mais competitivas. Ele também ressaltou os custos de o dólar ser a moeda de reserva mundial. Após assumir o cargo de principal assessor econômico da Casa Branca, recuou dessas ideias.
No ano passado, Miran escreveu uma proposta de 24 páginas com Dan Katz, que agora trabalha no Departamento do Tesouro, sobre como reformar o Fed. Eles acusaram o banco central de “pensamento de grupo que levou a erros significativos de política monetária, ao mesmo tempo em que permitiu ao Fed a flexibilidade para expandir imprudentemente sua competência para áreas inerentemente políticas, como racionamento de crédito e regulamentação bancária”.
Eles também escreveram que os governadores do Fed deveriam ser proibidos de servir no poder executivo por quatro anos após o fim de seu mandato para “isolar ainda mais os membros do conselho do processo político diário”.
Miran também criticou diretamente Powell por, segundo ele, contribuir para o aumento da inflação após a pandemia.
“Powell estava errado política e economicamente quando instou o Congresso a ‘aplicar grande’ estímulo fiscal em outubro de 2020”, escreveu Miran nas redes sociais em setembro. Ele acrescentou: “Sabemos o que aconteceu depois.”
Na quarta-feira, 6, Miran reconheceu na CNBC que os indicadores econômicos recentes — incluindo relatórios pessimistas sobre empregos e produção — não estavam “à altura”. Mas sustentou, “alguns ventos contrários significativos para a economia acabaram de se transformar em enormes ventos favoráveis”, apontando para a aprovação do projeto de lei de impostos e políticas de Trump e as novas tarifas do presidente como uma fonte do boom que se aproxima.
No dia seguinte, poucas horas antes de sua nomeação ser anunciada, Miran foi à Fox Business Network para elogiar Trump e prever que as políticas do presidente sobre impostos e comércio resultariam em um “aumento material no crescimento econômico”.
Como é a transição
O nome de Miran ainda precisa receber o aval do Senado. Se confirmado, Miran ocupará o posto deixado pela diretora do banco central Adriana Kugler, que anunciou sua renúncia ao cargo na semana passada.
A renúncia dela será efetivada nesta sexta-feira, 8. Trump reforçou que Stephen “está comigo desde o início do segundo mandato, e sua expertise no mundo da economia é incomparável. Fará um trabalho excepcional”.
A renúncia de Adriana Kugler foi anunciada na sexta-feira, 1º. Ela ocupava a posição desde 13 de setembro de 2023 e enviou sua carta de demissão a Trump. Segundo o texto oficial, ela retornará ao meio acadêmico, assumindo novamente uma cadeira na Universidade de Georgetown.
Ainda na sexta-feira, Trump citou a renúncia da diretora para pressionar Powell a pedir demissão. Em publicação na Truth Social, Trump repetiu a alcunha de “Atrasado Demais” (“Too Late Powell”) para se referir ao presidente do Fed. Só nesta sexta-feira, foram pelo menos seis ocasiões em que o republicano criticou o chefe do banco central americano.
“Ela sabia que ele estava agindo errado em relação às taxas de juros. Ele também deveria renunciar!”, escreveu. /Com André Marinho e Pedro Lima
Fonte: Estadão

