Por Eduardo Magossi, Valor, com Dow Jones — São Paulo
22/06/2022 11h35 · Atualizado
O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, disse nesta quarta-feira que os dados recentes de inflação mostram que o banco central precisa acelerar a alta de juros.
Durante sessão de perguntas e respostas depois de prestar depoimento ao Comitê Bancário do Senado americano, o dirigente do BC dos Estados Unidos disse que a meta do Fed é restaurar a estabilidade de preços nesse novo cenário econômico e para isso precisa levar rapidamente os juros para território neutro. Com a alta efetivada na semana passada de 0,75 ponto percentual, o juro ficou entre 1,50% e 1,75% ante um juro neutro estimado em 2,5%.
Powell também reconheceu que a alta dos juros efetivada pelo Fed não vai ajudar a deter o aumento dos preços da gasolina e de alimentos, que são custos que estão impactando mais os consumidores americanos. Segundo ele, o caminho agressivo que o Fed tomou visa moderar a inflação, mas tem pouco poder sobre problemas de abastecimento, que são aqueles que têm afetado os preços de petróleo e alimentos.
Powell disse que usa a alta dos juros para moderar os gastos das famílias, para elevar os preços dos ativos e fortalecer o dólar, o que contribuiria para restringir o processo inflacionário.
No discurso, o presidente do Fed disse que o banco central americano planeja continuar elevando as taxas de juros até ver uma prova clara de que a inflação está desacelerando para a meta de 2% da autoridade monetária.
“Temos as ferramentas de que precisamos e a determinação necessária para restaurar a estabilidade de preços”, disse ele ao Comitê Bancário do Senado.
Suas observações ressaltam o desafio que o banco central americano enfrenta ao aumentar as taxas de juros no ritmo mais rápido desde a década de 1980 para desacelerar a economia e reduzir a inflação.
A taxa de referência dos Fed Funds, atualmente na faixa entre 1,5% e 1,75%, é historicamente baixa, mas nos níveis que prevaleceram no início de 2020, antes da pandemia fazer com que as autoridades do banco central americano reduzissem a taxa para quase zero. O Fed manteve a taxa perto de zero até março passado.
As novas projeções das autoridades divulgadas na semana passada mostraram que todos os 18 membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) esperam aumentar a taxa de juros para pelo menos 3% este ano, com a maioria vendo-a subir para uma faixa entre 3,25% e 3,5% até dezembro. Isso excederia em um ponto percentual o nível mais alto alcançado após a crise financeira de 2008, em 2018.
“Antecipamos que os aumentos contínuos das taxas serão apropriados”, disse Powell. Ele disse que os custos dos empréstimos começaram a aumentar no outono passado em antecipação aos aumentos das taxas do Fed este ano, e as condições financeiras “agora se apertaram significativamente”.
A taxa dos Fed Funds, uma taxa overnight sobre empréstimos entre bancos, influencia os custos de empréstimos em toda a economia, incluindo taxas de hipotecas, cartões de crédito e empréstimos comerciais. A Mortgage Bankers Association informou nesta quarta-feira que a média de hipotecas fixas de 30 anos subiu para 5,98% na semana passada, de 5,65% na semana anterior, para o nível mais alto desde 2008. Esse foi o maior aumento de uma semana nas taxas de hipoteca desde 2009.
O depoimento de Powell não fez referência direta às difíceis compensações que a autoridade monetária poderia enfrentar no próximo ano, especialmente se suas medidas políticas enfraquecerem o mercado de trabalho, mas não reduzirem a inflação de maneira convincente.
Durante a audência no Comitê Bancário do Senado, a senadora Elizabeth Warren, a democrata de Massachusetts, notou que o Fed deve se certificar de que seus aumentos de taxas não empurrem os americanos para as filas do desemprego. “A inflação é como uma doença, e os remédios precisam ser adaptados ao problema específico. Caso contrário, você pode tornar as coisas muito piores”, disse Warren a Powell.
“Você pode realmente levar a economia a uma recessão”, disse ela. O Fed não tem controle sobre os preços globais do petróleo que estão elevando os preços do gás, disse Warren. “O que é pior do que inflação alta e desemprego baixo?” perguntou Warren. “Inflação alta e recessão com milhões de pessoas desempregadas”, respondeu ela. “Espero que você considere isso antes de levar esta economia a um precipício”, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico
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