Por Dow Jones — Nova York
17/11/2022 11h51 · Atualizado há uma hora
Os republicanos conquistaram a maioria na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos nas eleições para o Congresso deste ano, encerrando um controle democrata na casa que já durava quatro anos e acabando com poder unificado do partido de Joe Biden em Washington.
Com a oposição em maioria na Câmara, Biden vai enfrentar duras negociações para aprovar suas agendas principais no Congresso, e há grande chances de pautas prioritárias dos democratas ficarem paradas.
Abaixo trazemos como os republicanos vão moldar questões-chave da política americana nos próximos dois anos.
Impostos
O fim do controle democrata na Câmara impedirá Biden de cumprir as principais metas da campanha para 2020, incluindo o aumento das taxas de impostos sobre empresas e famílias de alta renda.
Após aprovar leis tributárias significativas no atual Congresso, outras prioridades do governo Biden, incluindo novos impostos sobre dividendos, estarão mortas em um governo dividido. Enquanto isso, o poder de veto de Biden impedirá que os republicanos revoguem as novas leis tributárias aprovadas por ele. Os republicanos conduzirão audiências de supervisão do Internal Revenue Service (IRS, o imposto de renda dos EUA) e buscarão restrições sobre como a agência usa seus novos recursos.
Alguma nova legislação tributária ainda é possível graças ao projeto bipartidário para expandir os incentivos fiscais para a poupança da aposentadoria. Pode haver um acordo para estender os incentivos fiscais que terminaram neste ano e impedir alguns aumentos de impostos programados para entrar em vigor no próximo ano sob uma lei aprovada em 2017, que prevê taxas de imposto individuais mais baixas, uma dedução padrão mais alta e uma dedução de 20% para empresas de capital fechado estão programadas para expirar após 2025.
Os legisladores do Partido Republicano veem os cortes de impostos como uma medida positiva para estimular o crescimento econômico e dizem que os contribuintes merecem a certeza de saber que as medidas vão continuar. Os democratas dizem que os cortes foram muito direcionados às famílias de alta renda. A questão não será resolvida de maneira célere e os legisladores provavelmente discutirão sobre isso antes das eleições de 2024.
Mercados
O limite de empréstimos do país e a regulamentação financeira serão assuntos observados de perto em Wall Street nos próximos dois anos.
Alguns legisladores do Partido Republicano sinalizaram disposição em usar as negociações para aumentar ou suspender o limite da dívida do país como forma de exigir cortes de gastos, o que pode gerar um conflito partidário de alto risco, que podem ocorrer no segundo semestre de 2023.
Quando o limite de dívida, de aproximadamente US$ 31,4 trilhões, for atingido e o Departamento do Tesouro esgotar as medidas de emergência, os legisladores precisarão aumentar o limite ou o governo seria forçado a atrasar, ou suspender os pagamentos de suas obrigações, potencialmente causando um calote nos pagamentos de títulos. Esse cenário provavelmente abalaria os mercados financeiros e a economia dos EUA, que enfrenta risco de recessão.
Reguladores financeiros em Washington, incluindo o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), estão cogitando impor mais restrições para a fusão de grandes bancos regionais e exigir requisitos regulatórios para grandes bancos construírem maiores reservas financeira
Inflação
O retorno de um governo dividido fará pouca diferença na maneira como Washington provavelmente lidará com a inflação, porque os legisladores de ambos os partidos concordam amplamente que o Fed é responsável por tomar medidas que restringirão a demanda para reduzir os preços altos.
Mesmo antes de perder o controle da Câmara, a Casa Branca ficou sem espaço para pressionar por mais gastos devido à resistência do senador democrata Joe Manchin, que teme que um aumento de gastos possa alimentar a alta da inflação.
Em agosto, Biden usou uma prerrogativa presidencial para aprovar cerca de US$ 400 bilhões em perdão de empréstimos estudantis que, segundo economistas, poderiam contribuir para uma inflação mais alta.
Os republicanos podem tentar forçar novos cortes de gastos, como fizeram após assumir o controle do Congresso durante o primeiro mandato do governo Obama. Os aumentos agressivos das taxas de juros do Fed neste ano provavelmente desaceleraram o crescimento econômico no próximo ano mais rápido do que qualquer política fiscal.
Política externa
A guerra na Ucrânia e a competição com a China devem dominar as agendas de política externa de ambas as partes nos próximos dois anos. Os republicanos provavelmente usarão sua maioria para questionar os gastos dos EUA em conflitos estrangeiros e investigar a tomada de decisões do governo Biden no cenário global.
O apoio do Congresso para o envio de recursos à Ucrânia está começando a se fragmentar, já que muitos republicanos na Câmara questionam se o dinheiro seria melhor gasto no combate à China e contra os problemas econômicos enfrentados pelos EUA, segundo legisladores e funcionários do Congresso de ambos os partidos. Pesquisas mostram que os eleitores republicanos se opõem cada vez mais em ajudar a Ucrânia.
A competição com a China continua a ser um tema que democratas e republicanos enfatizam como uma prioridade de segurança nacional. Os republicanos poderiam pressionar por mais políticas de confronto, reforçando as relações entre EUA e Taiwan e por mais barreiras comerciais. Eles podem tentar traçar paralelos entre a perda de empregos nos EUA e a concorrência da China antes das eleições de 2024.
A tumultuada e mortal retirada do governo Biden do Afeganistão em 2021 pode ser o foco de novas investigações. Os republicanos acusaram o governo de não agir rápido o suficiente para evacuar os americanos e parceiros afegãos do país. Biden defendeu os esforços de retirada de seu governo e disse que não queria continuar o que ele criticou como uma “guerra eterna”.
Aborto
O governo dividido significa que os confrontos sobre o aborto e o acesso à métodos de contracepção provavelmente continuarão. Uma mudança legislativa federal sobre o tema é improvável, já que os legisladores estaduais buscam codificar o acesso ao aborto ou restringi-lo ainda mais.
Os membros do Partido Republicano continuarão a impedir os esforços dos democratas para garantir que o direito ao aborto seja garantido em todos os EUA. Tais esforços, aprovados duas vezes na Câmara, não conseguiram obter apoio suficiente do Senado.
Os democratas do Senado e Biden provavelmente conseguirão bloquear qualquer pressão republicana por mais proibições federais. O senador republicano Lindsey Graham propôs a proibição do aborto após 15 semanas da concepção em todo o país, com algumas exceções, embora alguns membros de seu partido tenham dito que a questão deveria ser deixada para os Estados. O Comitê de Estudo Republicano, a bancada conservadora mais influente da Câmara, apoiou legislação do deputado Mike Kelly, que proibiria abortos após a detecção de batimento cardíaco fetal.
Os republicanos podem tentar bloquear outros esforços do governo, como um fundo federal que Biden apoia para mulheres que precisam tirar uma folga do trabalho ou encontrar cuidados infantis enquanto se preparam para fazer um aborto.
Fonte: Valor Econômico

