/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/c/v/xDY1mUQn2Xk7aKB4UL5w/foto14carr-101-cbn-b2.jpg)
“Aqui a partitura é o protocolo”, diz Victor Piana de Andrade, diretor-geral do hospital A.C. Camargo. O médico patologista, pesquisador, professor, que aprendeu sobre negócios em Harvard e também à frente do próprio laboratório e de outras instituições médicas, tem um olhar especial para a gestão, moldado por diferentes experiências. “Aqui todos são especializados e se reúnem todos os dias para combinar a partitura do que vão tocar, ensaiam a música todos os dias”, conta, se referindo ao modelo de trabalho implementado no hospital, que divide o atendimento em 13 centros de referência para cada tipo de câncer. Cada trilha de cuidado percorre horizontalmente a organização, desde a parte médica até a corporativa.
Andrade explica essa visão integrada sobre processos e pessoas no novo episódio do podcast CBN Professional, uma parceria do Valor com a rádio “CBN”. Tirar o melhor proveito da inteligência coletiva que já existia na instituição tem sido um dos desafios que o médico executivo decidiu buscar. “A gente está pondo na mesma sala de aula médicos e corporativos. E ali, o alinhamento do vocabulário é muito bom. Sobe a régua do conhecimento para todos, mas o ganho colateral foi a integração das pessoas”, explica. “Cada um consegue expressar os seus desejos e dificuldades e começa a entender como é diversa a perspectiva para um único problema e como só todos juntos vamos conseguir, de fato, fazer o progresso que precisamos.”
Ser médico patologista requer tomar decisões difíceis todos os dias, conta, lembrando o início da carreira. “Você assina 200, 300 laudos por dia e está definindo a vida das pessoas”, diz. A patologia também coloca o médico no centro de várias especialidades. “Para fazer bem o meu trabalho, eu tinha que conversar com cirurgiões, oncologistas clínicos, radioterapeutas, radiologistas”. Em Vitória (ES), ele tinha o próprio laboratório, mas mudou-se para São Paulo, aos 29 anos, para estudar e trabalhou no Fleury, onde depois assumiu o primeiro cargo de gestão como gerente médico.
Como sempre gostou de pesquisa, em 2009, decidiu deixar o emprego para estudar no Memorial Sloan Kettering, em Nova York. “Foi um freio de arrumação”, argumenta. Lá, por dois anos, ele mergulhou no estudo de técnicas genômicas, “o que agora é o futuro da oncologia”, explica. Ele voltou para o Brasil e foi trabalhar no A.C. Camargo, onde já tinha atuado antes de ir. “Eu voltei com a mala cheia de ideias”, conta. “Eu atuava como patologista e coordenava a residência. Eu queria fazer os residentes aprenderem genética, genômica de tumores, queria continuar a pesquisar, aquele caldeirão”, diz.
Com a troca do CEO no hospital, veio o convite para ele atuar como diretor-médico, com a missão de promover uma mudança na gestão do conhecimento e de pessoas. Ele diz que se sentiu animado, mas que não sabia muito o que fazer. Decidiu fazer então um MBA, e a CEO na época, Vivien Navarro Rosso, decidiu mandá-lo para a Universidade Harvard. “Fui beber na fonte do professor Michael Porter”, afirma. “Entendi os sistemas de saúde de diversos países e que os problemas são, ao mesmo tempo, similares pela questão da saúde, mas distintos pela forma como a saúde é vivenciada ou regulada em cada lugar.”
Foi de lá que ele trouxe a ideia de transformar o A.C. Camargo em um Cancer Center. “É como se cada centro de referência fosse uma unidade de negócios, que na prática são unidades de cuidados clínicos”, conta. “Cada câncer é diferente, portanto, os tratamentos serão diferentes, o consumo de estrutura, a necessidade de profissionais diferentes, a jornada do paciente é diferente, assim como o custo, a receita, o investimento, a margem de contribuição.”
Há vinte anos, Andrade diz que busca alinhar o melhor do conhecimento médico e da gestão corporativa. “A gente precisou desenvolver as pessoas para chegar a essa inteligência única. Acho que eu, sendo médico, funciono como um maestro para orquestrar isso tudo.”
No episódio, ele fala ainda como funciona a nova arquitetura funcional no A.C. Camargo, sobre os avanços dos estudos de câncer no Brasil, a razão de 40% dos cânceres poderem ser evitados e como a sociedade e, em especial, as empresas precisam entender que as pessoas podem voltar a ser produtivas após vencerem a doença. O episódio completo pode ser ouvido no site da CBN, no Spotify, Apple Podcasts ou visto no YouTube do Valor.
Fonte: Valor Econômico