Com a troca do comando do Banco Central (BC) no radar e o endurecimento do discurso por um integrante que é forte candidato a assumir o comando da autoridade monetária, a alta de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) já parece ser um jogo certo, segundo gestores de recursos de referência. A Selic está hoje em 10,5% ao ano.
Com um déficit nominal de 10%, nível que o país só atingiu duas vezes, na crise da pandemia e durante a “confusão” do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), tem algo ajudando a economia e o Banco Central não deve ter alternativa a não ser elevar a Selic como passou a sinalizar nas últimas semanas, disse André Jakurski, sócio-fundador da JGP, ao participar de evento do BTGCotação de BTG Pactual.
“A pressão que tem no ‘pipeline’ de inflação é verdadeira, não tem nada a ver com déficit de 0,3%, 0,4%, 0,7%, só se fala nisso…não vai fazer diferença no curto prazo, no longo prazo faz, o nosso déficit vai passar de 84%, 85% no fim do governo Lula, mas no curto prazo, no efeito de mercado, não. O mercado busca certas referências, mas se aumentar o juro em 1 [ponto percentual] 1,5 não sei se vai fazer uma diferença tão dramática [para a atividade]”, afirmou. “Acho que o BC tem uma missão, não está dentro da meta de inflação perseguida, determinada pelo Conselho Monetário Nacional.”
Por mais que o gestor acredite que o Brasil pudesse rodar com uma meta de 3,5%, acima dos 3% atuais, o roteiro recomenda que a autoridade monetária preserve seu mandato.
Para André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, como o déficit primário foi de 2,5% no ano passado e para este a estimativa é que caia para 0,5%, já haveria uma contração fiscal que faria diminuir o déficit nominal. Não seria o caso de esperar em vez de colocar uma variável fora do lugar para consertar outra?
Jakurski considerou que, se o BC em transição de mandato não tivesse que comprovar a sua credibilidade, seria normal avaliar um pouco mais. No meio do ruído, com ataques do presidente Lula a Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, o nome mais cotado para o posto, o diretor de política monetária Gabriel Galípolo, passou a adotar um discurso mais duro pró-aperto monetário. “Se vai aumentar ou não, eu não sei, mas sei que a regra do BC é que se a inflação está fora meta tem que aumentar os juros. É só isso, mecanicamente, que analiso.”
Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, afirmou que a situação chegou a esse ponto porque o dólar começou a subir e a moeda tem impacto no preço dos alimentos. Com isso, Brasília se assustou e começou a articular uma reconquista da credibilidade. Foi dando mais confiança para o BC e no discurso de que vai controlar o déficit.
“As duas coisas estão em processo de acontecer, não acho que se subiria o juro somente com a inflação fora meta, talvez mantivesse, esperasse um pouco mais, mas a conjunção das coisas, depois de tudo que Galípolo falou, ficou no córner. O BC não pode ser o cão que ladra, mas não morde. Ele foi além”, afirmou.
Com previsão de gastos da ordem de R$ 1,6 trilhão com previdência e outros benefícios sociais em 2025, o gestor disse que na conta das operações de arbitragem, os juros importam. “Quando o fundamento é ruim, parte da atração [de investimentos] para a moeda, para carry [carrego], [o aumento] faz diferença”, afirmou Stuhlberger. Se aumentar a Selic dos 10,5% atuais para 12% e Estados Unidos começarem a cortar as suas taxas referenciais, o Brasil poderia ser beneficiado.
Todos os dirigentes de BCs quando assumem precisam ganhar a sua credibilidade, ressaltou Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX. “O Galípolo, na minha visão, está numa situação muito confortável para uma puxada de juros”, afirmou. Com a economia crescendo e os gastos aumentando não vai ter refresco no ano que vem, não está claro como o governo vai tapar o buraco da arrecadação, disse.
“A comunicação de alta de juros pelo BC já está na imprensa, no político, já foi combinada com Lula, a inflação está acima da meta, a economia está performando bem (…) Não vai parecer loucura [aumentar], vai ser em benefício dele em relação à credibilidade. Ele entregar a alta, ser a pessoa que está guiando isso, vai ser um ganho para nunca mais precisar discutir se o BC do Galípolo pode subir juros ou não.”
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