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A área de gestão de fortunas do UBS no Brasil ajustou a sua bússola de risco para juros mais altos por mais tempo aqui e nos Estados Unidos e para um cenário de maior volatilidade adiante. Com a quebra de expectativas de cortes pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), a sucessão na Casa Branca, a escalada do dólar e a percepção de que a Selic permanecerá em 10,5% ao ano, o investidor não precisa correr para extrair valor de ativos que embutem maior potencial de retorno, como bolsa, prefixados ou títulos longos atrelados à inflação.
No plano macroeconômico, a preocupação com a trajetória da dívida brasileira ganhou ênfase em relação à cena externa e fez com que os ativos locais tivessem desempenho pior do que a média de seus pares emergentes no primeiro semestre: houve desvalorização do real, das ações e alta sem trégua das taxas futuras de juros, nominais e reais.
Em resposta a isso, o UBS diminuiu a parcela em bolsa na carteira e aumentou as posições de “carregamento” de juros, em títulos pós-fixados, para aproveitar as taxas de dois dígitos. Enquanto o câmbio balança e não há gatilhos claros para diminuir o sentimento de aversão, vale aproveitar o bom retorno da renda fixa.
“No final das contas, o que desata esse nó é a percepção sobre o programa fiscal brasileiro adiante”, diz Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos (CIO) para o Brasil do UBS Global Wealth Management, ao compartilhar com o Valor as mudanças na alocação. “A gente reconhece que a NTN-B [Nota do Tesouro Nacional série B] pagando 6,40% de juro real [6,5% ontem] é muito atrativo, reconhece que a bolsa está super descontada, tudo isso é verdade. Mas não precisa fazer isso agora.”
Na bolsa, o estrangeiro já vendeu liquidamente mais de R$ 40 bilhões em ações neste ano, com o Brasil fora do radar do capital externo. Já o investidor local já tem 10,5% do CDI de partida. Até aqui, o UBS estava sobrealocado em ações no Brasil nas carteiras recomendadas, por imaginar que à medida que os juros cedessem, os investidores aproveitariam os preços no chão. Não foi bem assim.
“Reconheço que está descontada, mas não posso estar muito acima da média histórica se tenho uma alternativa na renda fixa que remunera bem, com volatilidade mais baixa, se não vejo um catalisador de preço rapidamente mexendo na bolsa”, diz Telo.
Desde abril, quando já estava claro que as reduções dos juros americanos viriam mais tarde e em dosagem menor, a descompressão nas taxas dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos não foi acompanhada pelos ativos no Brasil. “Quebrou um pouco essa correlação benigna, que quando melhorasse lá fora, melhoraria aqui”, diz Telo. “Do segundo trimestre para frente, gradualmente é sobre a situação interna, porque o mercado fez a conta: não tem força suficiente lá fora, não tem tanto corte para, independentemente do que aconteça aqui, os ativos andarem. Precisa ter uma combinação de melhora lá fora e uma história doméstica que garanta que a trajetória da dívida/PIB é sustentável.”
A questão fiscal brasileira foi para o centro da discussão e não há um desfecho previsto. Ainda falta o governo anunciar o contigenciamento de gastos, que pode ocorrer no fim do mês ou só quando a revisão do orçamento para 2025 avançar no calendário. Na ausência de um choque de expectativas guiado por cortes profundos de gastos e o cumprimento da meta fiscal, os investidores tendem a ficar retraídos, evitando posições estruturais de tomada de risco, segundo Telo.
Outros movimentos que o UBS fez foi reduzir a parcela em prefixados e encurtar a posição em juro real. Embora não esteja no cenário base um aumento da Selic, após a decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) pela manutenção da taxa, carregar títulos de crédito indexados ao CDI parece ser a melhor escolha. “Isso reduz a volatilidade e tem uma remuneração boa ainda”, diz Telo. “ No caso do prefixado, tem altas de juros embutidas até o final do ano, o que acho que neste momento é menos provável, não precisa subir. Mas tem que esperar o tempo passar e não ter notícias novas negativas.”
O câmbio é uma variável que tem trazido apreensão, com o real entre as moedas mais desvalorizadas no ano, entre pares emergentes ou desenvolvidos. “O prêmio da renda fixa fica lá, porque enquanto o câmbio não para de se deteriorar, os agentes econômicos não têm confiança. A hipótese de ter que reancorar expectativas com [alta de] juros não sai do cenário.”
O executivo acrescenta que pelo nível de reservas cambias e a boa forma das contas externas, o real tinha até potencial para se apreciar. Só que com os ruídos locais, os juros altos têm sido insuficientes para segurar o câmbio.
Em estratégias ligadas a juro real, o executivo do UBS diz que há muito valor a capturar e que, historicamente, a NTN-B é um bom ativo. “Qual é a dúvida? A mesma coisa que aconteceu com o câmbio está acontecendo com a NTN-B, com os ativos ligados à inflação, que ainda não pararam de abrir [o aumento das taxas]. Todo dia tem uma marcação [atualização de preços] de mercado mais difícil.”
A mudança de comando no Banco Central no fim do ano, com o fim do mandato de Roberto Campos Neto, é outra fonte de ruídos, com o embate aberto pelo presidente Lula contra a política monetária atual. “Foi positiva a unanimidade [de votos] do Banco Central, um sinal muito importante a sensibilidade do comitê em relação às incertezas que o mercado mostrava preocupação”, diz Telo. “Todo Banco Central do mundo quando começa, tem que estabelecer a reputação, é assim mesmo.” Um ganho institucional é o fato de o mandato presidencial no Brasil não coincidir com a troca no BC. “Essa orientação que o BC está dando de 10,5% estável até o fim do ano, ela foi dada de forma unânime, então o mercado já tem uma referência de como trabalhar.”
Os últimos meses do ano coincidem com a eleição à presidência nos EUA. Se Donald Trump vencer a disputa pode haver mudanças na política de imigração e nas tarifas de importação. São elementos que podem pressionar a inflação americana, contribuindo para juros elevados por mais tempo. É uma combinação que joga a favor do dólar forte, o que não costuma ser bom para emergentes.
Na carteira em reais há posição estrutural em bolsa global, mas um pouco subalocada em relação à média histórica. Com o esperado pouso suave da economia americana, há oportunidades na renda fixa lá fora também, diz Telo. “Este ano foi um ano em que o dólar andou bastante e tem uma oportunidade de ganho reforçado nessas posições globais.” Mesmo com uma subida das taxas nominais dos títulos do Tesouro dos EUA por conta da eleição. “Pode ter um sustozinho no final do ano, mas no médio a longo prazo a gente vê os ‘yields’ dos títulos americanos corporativos e soberanos caindo.”
Fonte: Valor Econômico

