/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/K/0/7pjaW8SwmWGP7HssM2rQ/arte07int-201-consumo-a9.jpg)
Os consumidores europeus estão poupando mais do que na era pré-pandemia, segundo dados que colocam em evidência a clara e persistente divergência em relação aos americanos, cujo maior otimismo têm impulsionado a recuperação econômica dos EUA.
Durante a pandemia, a poupança disparou tanto na Europa quanto nos EUA, uma vez que os consumidores foram forçados a ficar em casa. Desde então, os americanos retomaram os hábitos de consumo, mas os europeus não conseguiram superar o sentimento de insegurança econômica após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
No período de três meses até junho, a taxa de poupança das famílias na zona do euro aumentou para 15,7%, o maior nível em três anos, bem acima da média anterior à pandemia, de 12,3%, segundo dados divulgados pela Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia, na sexta-feira.
Embora as taxas não sejam diretamente comparáveis, a tendência é bem diferente à dos EUA, onde os gastos têm ajudado a impulsionar a recuperação econômica. A taxa de poupança individual no país foi de 5,2% no segundo trimestre, abaixo da média de 6,1% para o período de 2010 a 2019.
“A taxa de poupança mais baixa nos EUA tem ajudado a impulsionar o consumo, que tem sido o principal motor do crescimento americano e uma razão-chave pela qual a economia dos EUA tem crescido mais rápido do que a economia europeia”, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics. “O consumidor americano vem impulsionando o trem da economia global.”
O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA deverá crescer 2,6% em 2024, impulsionado pelos fortes gastos dos consumidores, de acordo com as projeções mais recentes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em comparação o crescimento de apenas 0,7% na região do euro e 1,1% no Reino Unido.
Em setembro, a economia americana superou de longe as expectativas dos analistas e criou 254 mil empregos em termos líquidos, sinal da continuidade da expansão dos EUA, segundo dados divulgados na sexta-feira.
A força do mercado de ações e os altos preços de imóveis ajudaram a incrementar a riqueza das famílias americanas, segundo Zandi. Na Europa, onde investir ações não é uma prática tão disseminada, o efeito da valorização dos ativos tem sido menor.
De acordo com Zandi, os proprietários de imóveis na Europa têm mais financiamentos imobiliários de curto prazo, o que os leva a economizar mais em antecipação a pagamentos de juros mais elevados em novos empréstimos, enquanto muitos proprietários nos EUA congelaram os juros nos menores patamares históricos, em financiamentos pré-fixados de 15 e 30 anos.
“A trajetória geral dos balanços patrimoniais nos EUA tem sido muito mais forte e, assim, as famílias americanas possivelmente estão em uma posição em que se sentem mais confortáveis em manter uma poupança relativamente baixa”, disse Nathan Sheets, economista-chefe do Citigroup. “O consumidor europeu simplesmente está muito, muito cauteloso, enquanto o consumidor americano está muito mais confortável em gastar, gastar, gastar.”
No Reino Unido, os consumidores também se mostram cautelosos. A taxa de poupança das famílias britânicas no segundo trimestre subiu para 10%, o maior nível em três anos, bem acima da média de 7,5% do período de 2010 a 2019, apesar das revisões para baixo, segundo dados oficiais divulgados na semana passada.
Simon MacAdam, economista da firma de consultoria Capital Economics, diz que os ganhos de patrimônio das famílias europeias acumulados durante os “lockdowns” contra a covid-19 se evaporaram desde então. Ele observa que as famílias europeias estão investindo mais em moradia do que antes da pandemia, o que também empurra para cima a taxa de poupança da região do euro. O aumento dos salários ainda não impulsionou a confiança e os gastos, segundo o analista.
A escalada do conflito no Oriente Médio pode estar influenciando no clima de cautela dos europeus, mais dependentes que os EUA do fornecimento de fontes de energia da região. O fraco crescimento econômico também afetou o moral; a produção teve retração na Alemanha no trimestre passado.
“Os europeus economizam mais porque continuam inseguros quanto ao futuro com a guerra nas redondezas e às dificuldades da Alemanha”, disse Samy Chaar, economista-chefe do banco Lombard Odier. “Muita coisa mudou para eles, e não de modo positivo.”
Economistas advertem que os números da poupança são notoriamente difíceis de estimar, pois representam a diferença entre dois números incertos (renda e consumo), e costumam estar sujeitos a revisões.
A OCDE prevê que as taxas harmonizadas de poupança das famílias – sem contar os investimentos de capital – na Alemanha e na zona do euro continuarão acima da média anterior à pandemia e superiores às dos EUA, no mínimo, até 2025.
A organização, com sede em Paris, também projeta que o Reino Unido terá taxas de poupança mais altas em 2025 do que as observadas antes da pandemia.
Fonte: Valor Econômico

