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Os investidores americanos devem começar a semana colocando na balança se a decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de se retirar da campanha eleitoral e apoiar a vice-presidente Kamala Harris, aumenta ou diminui as chances de Donald Trump reconquistar o governo.
Nas semanas que se passaram desde o desastroso debate que desencadeou as preocupações quanto à capacidade do Biden, de 81 anos, de cumprir outro mandato presidencial, os mercados financeiros foram reduzindo as apostas nas chances de sucesso dele.
Em termos gerais, passaram a preferir operações de compra e venda de ativos que, segundo se presume, seriam beneficiadas por uma vitória do republicano Trump, favorável a uma política fiscal mais frouxa, a tarifas de importação mais altas e a uma regulamentação mais fraca. Como consequência, ações da sete maiores de tecnologia caíram 4,8% na semana passada.
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Essas operações ainda se traduziram em sustentação ao dólar, na alta dos rendimentos dos títulos de dívida dos EUA e na valorização das ações dos bancos e de empresas das áreas de saúde e de energia, bem como o bitcoin. A dúvida dos investidores é se deveriam manter essas posições.
Os mercados poderiam ficar instáveis enquanto aguardam para ver se Harris terá a indicação de seu partido e tentam descobrir se ela conseguirá arregimentar força suficiente para desafiar a liderança de Trump.
“Os investidores devem esperar um aumento na volatilidade”, disse Dave Mazza, executivo-chefe da Roundhill Financial, antes do anúncio de domingo. “Se a vice-presidente Harris conseguir mobilizar-se rapidamente para entrar em uma disputa real contra Trump, então a expectativa é que a volatilidade persista. No entanto, se Trump continuar a avançar nas pesquisas e os investidores virem sua vitória como inevitável, então o ‘Trump Trade’ [apostas que se beneficiariam de uma vitória do republicano] dominará e a volatilidade diminuirá.”
Há poucos dados históricos para prever como os mercados reagirão. O exemplo mais recente de um presidente em exercício que não tentou um segundo mandato foi Lyndon Johnson em 1968. Uma nova chapa democrata traria “hesitações para o Trump trade, enquanto os mercados recalibram as probabilidades”, escreveu Grace Fan, diretora-gerente de análises de políticas internacionais na GlobalData TS Lombard, em uma nota de 17 de julho. Essas apostas “provavelmente não se mexerão muito”, no entanto, se Harris acabar sendo, de fato, a candidata.
Em termos gerais, acredita-se que o dólar ganhará um impulso se a conclusão dos investidores for a de que aumentou a probabilidade de uma presidência de Trump. A combinação preferida por Trump, de baixos impostos e altas tarifas, é vista como fator de aumento da inflação e das taxas de juros, o que tornaria o dólar mais atraente. A moeda também tem maior demanda em períodos de incerteza graças a seu status de porto seguro para os investidores.
Entre os possíveis perdedores diante de um dólar em alta estão o peso mexicano e o yuan chinês. Na semana passada, o dólar se desvalorizou em relação ao yuan e ao iene japonês, depois de a “Bloomberg Businessweek” publicar uma entrevista de junho com Trump na qual ele disse que o dólar forte tem prejudicado a competitividade americana, algo também mencionado no passado por seu companheiro de chapa, J. D. Vance.
“Não acreditamos que esta seja a operação correta”, disseram estrategistas do Barclays Plc, em relatório. “Um segundo mandato de Trump implicaria em mais força do dólar, em nossa opinião, e a recente queda oferece bons níveis para retomar nossas recomendações de [posições] compradas”, como a do dólar contra o yuan.
A conclusão de que um governo Trump significaria mais inflação também se infiltrou no maior mercado de títulos do mundo e os investidores aderiram a uma combinação de comprar notas de curto prazo e vender as de longo prazo – e que faz a inclinação da curva dos juros ficar mais acentuada.
“Conforme aumentam as chances de Harris, também aumentam as chances democratas de ganhar a Câmara dos Deputados”, disse Steven Englander, estrategista do Standard Chartered Bank, em Nova York. “Se isso ocorrer, então os temores de mais estímulos fiscais podem diminuir e tirar certa pressão sobre os juros e o dólar americano. Mas ainda se está bem no começo do que pode ser uma campanha muito diferente da esperada até duas semanas atrás.”
A possibilidade de uma vitória republicana impulsionou partes do mercado que, segundo presumem os investidores, serão beneficiadas pela mão reguladora mais leve de Trump ou por seus pontos de vista sobre a imigração e o petróleo.
Em junho, Trump disse aos republicanos no Senado que, caso eleito, retomaria as perfurações de petróleo no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, no Alasca, revertendo uma decisão do governo Biden de cancelar arrendamentos na região.
“Eu gosto de commodities e de ações relacionadas a commodities, porque realmente acho que o risco geopolítico tem aumentado recentemente, uma vez que alguns competidores podem ver isso como uma fraqueza e tentar se aproveitar do que veem como uma confusão nos EUA”, disse Peter Tchir, chefe de estratégia macroeconômica na Academy Securities.
Empresas dos setores de fontes de energia renováveis e de consumo discricionário “podem sofrer” se Trump vencer a presidência com um Congresso republicano, escreveu Solita Marcelli, diretora de investimentos em países da América da UBS Global Wealth Management, em nota em junho.
As ações de prisões de capital privado, como a GEO Group e a CoreCivic ., têm se valorizado com base nas opiniões linha-dura de Trump sobre imigração. Entre as firmas que podem se beneficiar de um menor peso regulatório estão as seguradoras de saúde UnitedHealth e Humana e os bancos.
Fonte: Valor Econômico

