Apesar do enfraquecimento do sentimento do consumidor e das pressões regulatórias, a Coca-Cola parece estar melhor posicionada do que alguns de seus concorrentes do setor de alimentos e bebidas, graças à sua diversidade de produtos e presença geográfica global.
A gigante das bebidas divulgará os resultados do segundo trimestre nesta terça-feira (22), antes da abertura do mercado. Analistas consultados pela FactSet esperam que a empresa registre um lucro por ação de US$ 0,83, um centavo a menos do que no mesmo período de 2024. A expectativa é que as vendas aumentem 1,7%, chegando a US$ 12,6 bilhões.
Como muitas empresas, a Coca-Cola enfrenta um ambiente desafiador para o consumidor, à medida que os americanos reduzem os gastos devido à inflação e ao temor de recessão. A adoção dos medicamentos para perda de peso baseados em GLP-1 também reduziu ainda mais o apetite dos consumidores por bebidas açucaradas.
Enquanto isso, a indústria de refrigerantes está enfrentando riscos regulatórios crescentes com o movimento “Make America Healthy Again” da administração do presidente Donald Trump, liderado pelo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr.
Kennedy, que culpa os refrigerantes pela epidemia de obesidade e diabetes nos EUA, solicitou a diversos Estados que proíbam a compra de refrigerantes com o programa de vale-alimentação (“food stamps”). Algumas dessas solicitações já foram aprovadas pelo Departamento de Agricultura do país, o que pode reduzir as vendas da Coca-Cola no mercado americano. No entanto, o impacto deve ser limitado, dada a escala da empresa.
Na semana passada, Trump declarou que a Coca-Cola teria concordado em adoçar sua bebida principal com açúcar de cana nos EUA, após décadas usando xarope de milho com alto teor de frutose (HFCS). A Coca-Cola não confirmou essa mudança. Se for verdade, a troca pode aumentar os custos de produção da empresa, já que a produção doméstica de açúcar é insuficiente e as importações enfrentam tarifas elevadas.
Ainda assim, em comparação com outras empresas do setor de alimentos e bebidas, a Coca-Cola está menos exposta à fraqueza do mercado americano. Os EUA representam 40% da receita total da empresa. No primeiro trimestre, a receita comparável cresceu 6% em relação ao ano anterior, impulsionada por um forte crescimento no volume de unidades vendidas na Ásia-Pacífico, Europa, Oriente Médio e África, mesmo com uma queda de 3% na América do Norte.
A gigante das bebidas também possui um portfólio diversificado, o que a ajuda a amortecer parte das dificuldades. A empresa lidera o mercado de refrigerantes com baixo ou zero teor calórico, com marcas como Coca-Cola Diet e Coca-Cola Zero. Também vende outras bebidas, como sucos, leite, café e chá. A Fairlife, marca de leite rico em proteínas adquirida em 2020, tem sido um importante motor de crescimento.
A administração da empresa prevê que a desvalorização das moedas estrangeiras cause um impacto negativo de 3% na receita líquida comparável do segundo trimestre e de 5% a 6% no lucro por ação comparável. A dinâmica do comércio global, incluindo tarifas, também pode afetar a estrutura de custos da Coca-Cola, mas a incerteza deve ser “administrável”, disse a empresa em abril.
A Coca-Cola apresenta maior poder de precificação e crescimento sólido de volume em comparação com seus pares, graças aos seus esforços em marketing, inovação e execução, escreveu o analista do Morgan Stanley Dara Mohsenian em nota no mês passado. A gestão comentou recentemente que tem equilibrado o crescimento de volume em algumas regiões com o crescimento de preços em outras, acrescentou o analista.
As ações da Coca-Cola subiram 12,5% no ano, sendo negociadas atualmente a US$ 70,07.
Fonte: Valor Econômico