Especialistas veem risco de que fim de testes obrigatórios resultem em ocultação de novas ondas epidêmicas
Por Agências Internacionais — De Pequim
12/12/2022 05h01 Atualizado há 11 horas
Empresas de várias partes da China não puderam abrir nos últimos dias porque seus trabalhadores estão com covid-19 e muitos chineses estão temerosos de sair às ruas, apesar do levantamento de muitas restrições da política de covid-zero anunciano na semana passada. E relatos de novos surtos têm convertido a expectativa chinesa de uma rápida normalização das atividades em decepção.
Zhong Nanshan, importante epidemiologista chinês, disse ontem a veículos estatais que a cepa ômicron, prevalente na China, é altamente transmissível e que uma pessoa infectada pode transmitir o vírus para outras 18 pessoas. “Podemos ver que centenas de milhares ou dezenas de milhares de pessoas estão infectadas em várias cidades importantes”, disse Zhong.
Zhong disse acreditar que a transição da covid-zero para o estágio em que cidadãos e empresas passem a conviver com a doença como ocorre nos casos de surtos de gripe ainda será longa. “Minha opinião é que isso poderia ocorrer no primeiro semestre do ano que vem, depois de março”, disse.
Agora com mais pressa para retomar as atividades econômicas, a China suspendeu ontem as restrições aos caminhoneiros – que por meses desaceleraram o fluxo de carga no país. Os motoristas que levam cargas de longa distância não precisarão mais se submeter a quarentenas nem a testes de covid frequentes.
Ao mesmo tempo em que alivia as medidas, porém, Pequim se preocupa em evitar que surtos prolongados levem a um colapso da estrutura de saúde. A China está estabelecendo mais instalações de terapia intensiva e tentando reforçar hospitais ao mesmo tempo em que alivia os controles da covid-zero – que havia quase dois anos vinha confinando milhões de pessoas em suas casas, afetando gravemente o crescimento econômico e provocando protestos pelo país.
O governo do presidente Xi Jinping segue, oficialmente, comprometido em conter a transmissão do vírus. Mas as medidas mais recentes sugerem que o regime vai tolerar mais casos sem impor longas quarentenas ou fechar empresas e paralisar viagens – à medida que se aproxima o período de maiores deslocamentos do Ano-Novo Chinês.
Na quinta-feira, o gabinete de Xi determinou uma “mobilização total” dos hospitais, incluindo o aumento do número de funcionários, para assegurar sua “eficácia no combate” à doença e o aumento do suprimento de medicamentos, segundo informou a imprensa estatal. Autoridades foram instruídas a acompanhar a saúde de todas as pessoas em suas áreas com 65 anos ou mais.
Não está claro o quanto o número de casos aumentou desde que Pequim encerrou, na semana passada, as testagens obrigatórias de até uma vez por dia em muitas áreas. Há temores de que a supressão dos controles alimente uma onda oculta de covid-19.
O número oficial de casos está caindo, mas os dados já não cobrem mais grandes partes da população depois que os testes obrigatórios terminaram na quarta-feira em muitas áreas. O levantamento da obrigatoriedade faz parte de mudanças dramáticas que confirmaram que Pequim está tentando se juntar gradualmente aos EUA e outros países que acabaram as restrições a viagens e outras, e tentam conviver com o vírus.
O governo informou ontem 10.815 novos casos, incluindo 8.477 sem sintomas. Isso representou apenas um quarto do pico diário da semana anterior, de mais de 40 mil, mas representa somente pessoas que são testadas após serem internadas em hospitais ou para empregos em escolas e outros locais de alto risco.
O governo informou na quinta-feira, que seus funcionários garantirão um “acesso justo” a tratamento e medicamentos para as áreas rurais. Os controles da China mantiveram suas taxas de contágio baixas, mas esmagaram o já fraco crescimento econômico e provocaram reclamações sobre o crescente custo humano. O número oficial de mortos é de 5.235, comparado a 1,1 milhão nos EUA. A contagem total oficial de casos da China, de 363.072, aumentou quase 50% em relação ao nível de 1º de outubro, após uma série de surtos em todo o país.
Os protestos começaram em 25 de novembro, depois que 10 pessoas morreram em um incêndio em Urumqi, no noroeste do país. Internautas disseram que pessoas e bombeiros podem ter sido impedidos de deixar o local porque as portas haviam sido bloqueadas como parte das medidas de contenção da covid-19.
As autoridades negaram, mas o desastre tornou-se um foco de indignação popular. O governo de Xi prometeu reduzir o custo e as interrupções depois que a economia encolheu 2,6% nos três meses encerrados em junho, em relação ao trimestre anterior. Isso foi depois que Xangai e outros centros industriais foram fechados por até dois meses para combater os surtos.
Analistas dizem que a economia provavelmente está encolhendo no atual trimestre. As importações caíram 10,9% em novembro, em relação ao mesmo período do ano passado, em um sinal de demanda fraca. Alguns analistas reduziram suas previsões de crescimento anual para menos de 3%, menos da metade do crescimento robusto de 8,1% do ano passado. Não está claro se alguma das mudanças foi uma resposta aos protestos.
Fonte: Valor Econômico