A China estabeleceu uma meta de crescimento econômico de “cerca de 5%” em 2024, mesma meta de 2023, um objetivo que exigirá mais medidas de estímulo à medida que os desafios aumentam, dizem especialistas.
A meta deste ano foi anunciada nesta terça-feira em Pequim pelo primeiro-ministro chinês, Li Qiang, na leitura do “Relatório de Trabalho do Governo”, como parte da abertura da reunião anual do Congresso Nacional do Povo (NPC, na sigla em inglês), o início da sessão legislativa anual do país.
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O premiê da China, Li Qiang, anunciou metas econômicas do país para 2024 — Foto: Ng Han Guan/AP
A meta divulgada é superior às estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial para o crescimento chinês este ano, sugerindo confiança entre os líderes chineses sobre a sua capacidade de reverter a desaceleração da economia.
Embora alguns economistas e observadores externos tenham questionado a integridade dos dados oficiais chineses, a meta de crescimento do governo é observada de perto como um sinal do otimismo de Pequim sobre a trajetória da economia e da sua vontade de estimular a atividade empresarial.
Os economistas dizem que um crescimento de cerca de 5% este ano não será fácil de conseguir, dada a lista de desafios que Pequim enfrenta, incluindo uma crise imobiliária prolongada, pressões deflacionárias persistentes e uma procura morna dos consumidores, além das crescentes tensões geopolíticas com o Ocidente.
As fricções comerciais deverão intensificar-se este ano, uma vez que as fábricas da China produzem mais do que a sua economia interna parece capaz de absorver, especialmente em veículos elétricos e painéis solares.
Economistas consultados pelo “The Wall Street Journal” previram que Pequim estabeleceria uma meta de crescimento de cerca de 5% para o produto interno bruto (PIB) deste ano, embora o consenso do mercado espere uma expansão de 4,6%.
A cúpula política da China estabelece metas para o PIB desde 1994, exceto no ano de 2020, atingido pela pandemia de covid-19. Até agora, só não conseguiram cumprir a meta duas vezes, incluindo em 2022, quando o crescimento de 3% ficou muito aquém dos 5,5% colocados como alvo oficial.
Quando a China estabeleceu a sua meta de crescimento anual de cerca de 5% para 2023, o otimismo sobre uma forte recuperação pós-pandemia era elevado, com o fim das rigorosas restrições da covid-19 que isolaram o país em relação ao mundo durante três anos.
Àquela altura, a meta de cerca de 5% era considerada confortavelmente alcançável, marcando a meta de crescimento mais baixa em mais de um quarto de século de planejamento econômico.
Em vez disso, a recuperação pós-covid desapareceu após algumas semanas, e o governo teve de implementar uma série de medidas durante o verão e o outono para fazer com que o crescimento do PIB chegasse aos 5,2%.
Para este ano, alcançar uma expansão de cerca de 5% exigiria um crescimento anualizado em relação ao trimestre anterior para uma média de 5,3%, acima dos 4,2% em 2023, que excluía o aumento repentino da reabertura do primeiro trimestre, escreveram analistas da Capital Economics numa nota na semana passada, alertando que Pequim poderá estar subestimando o desafio de manter a mesma meta do ano passado.
Nos últimos meses, as autoridades chinesas lançaram medidas de apoio à economia, incluindo a redução de taxas de juros bancários para injetar mais liquidez no sistema financeiro do país, além de medidas de estímulo ao seu endividado setor imobiliário.
Mas novos dados apontam para a potência limitada de tais medidas, com a atividade industrial ainda em contração e as vendas de casas novas caindo para patamares mínimos na história.
Os economistas esperam amplamente que a política orçamental assuma a liderança no apoio à economia este ano, com qualquer estímulo de política monetária restringido por necessidades moderadas de financiamento e um yuan chinês fraco.
Assim, altos funcionários não sinalizaram nenhum estímulo do tipo “bazuca” este ano, dadas as preocupações com a crescente dívida pública e os riscos financeiros sistêmicos.
Com os governos locais em toda a China sobrecarregados com dívidas, os economistas dizem que o governo central de Pequim terá de assumir mais responsabilidade no financiamento direto de qualquer estímulo.
Argumentam que a liderança da China também deve tomar medidas decisivas para reduzir os riscos ligados à dívida este ano, ao mesmo tempo que pressiona por mudanças fiscais significativas que possam reduzir a dependência excessiva das autoridades locais na venda de terrenos, uma fonte de financiamento local que despencou nos últimos anos no meio da crise imobiliária.
No relatório lido pelo premiê, a previsão para a taxa de desemprego no país é de cerca de 5,5%. Prevê-se a criação de 12 milhões de novos empregos urbanos e inflação ao consumidor de 3%. As metas para 2024 foram iguais às estabelecidas para 2023.
Pequim planeja aumentar enormemente os gastos com ciência e tecnologia este ano, com o orçamento destinado a isso crescendo 10%, para 370,8 bilhões de yuans (US$ 51 bilhões), muito superior ao aumento de 2% do ano passado, de acordo com o relatório orçamentário desta terça-feira.
Está previsto também que as despesas com a educação cresçam 5% este ano, face aos planos de um aumento de 2% no ano passado.
A China planeja aumentar os gastos militares em 7,2%, para 1,67 trilhão de yuans, o equivalente a cerca de US$ 232 bilhões, em linha com o aumento do ano anterior.
Li disse que os militares “dedicariam grande energia ao treinamento em condições de combate”, à medida que o país busca defender seus interesses e soberania.
Sobre a questão territorial mais sensível da China – o estatuto da autogovernada ilha de Taiwan, que Pequim reivindica como parte da China – Li reiterou as promessas da liderança de “opor-se resolutamente às atividades separatistas que visam a ‘independência de Taiwan’ e à interferência externa”.
Notavelmente, o relatório de Li retirou referências à “unificação pacífica” com Taiwan contidas em relatórios anteriores.
Fonte: Valor Econômico

