Por Assis Moreira — De Davos (Suíça)
23/05/2022 05h00 Atualizado 23/05/2022
O plano da China para ampliar o Brics com outros grandes emergentes sofre resistência no grupo, ainda mais no turbulento contexto geopolítico atual, conforme o Valor apurou. O plano é visto mais como interesse de Pequim de liderar os emergentes e não ficar isolada com a crise causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
A China está pressionando os parceiros, com seu plano, que não é novo, mas que agora é motivado pela conjuntura global. Mas a avaliação entre os sócios do grupo (que inclui Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) é de que nesse cenário de guerra – mesmo se Pequim emergir como grande potência – é irrealista ampliar o Brics.
Para importantes observadores, num mundo “tem condições normais de temperatura e pressão”, sem a guerra da Ucrânia, faria sentido ter a expansão do bloco – por exemplo, indo na direção de um E7 (Emerging 7), em contraposição ao G7 (grupo das sete maiores economias ricas). E7 já é um conceito usados nos mercados para destacar o peso econômico do Brasil, Rússia, Índia e China e mais México, Indonésia e Turquia. A África do Sul continuaria como sócio.
No entanto, agora com a guerra provocada pela Rússia, e levando em conta a “aliança incondicional” entre China-Rússia, a expansão do Brics seria visto como um acelerador da fragmentação global, e seria complicado comunicar o movimento na cena internacional.
Uma fonte nota que não é o momento para fazer isso, porque vai parecer que Brics ampliado estaria se contrapondo ao hemisfério ocidental. No caso do Brasil, por exemplo, o interesse é justamente fortalecer a relação com o hemisfério ocidental com a candidatura para entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e impulsionar reformas estruturais.
A China convidou nove países para participar das atividades do grupo em sua atual Presidência rotativa do Brics. É algo normal. Mas expansão definitiva é outra coisa. Até agora não se discutiu critérios para escolha de eventuais futuros sócios. Uma lista dos países que poderiam entrar no Brics precisará agora ser debatido, negociado, acordado. Não é possível nem dizer que cada país tem suas preferências, até porque cada um deverá fechar antes uma posição interna sobre o tema.
Também será preciso responder que tipo de grupo é o Brics. Funciona bem em cooperação econômica, desenvolvimento sustentável e finanças. Foi assim que conseguiu criar o Novo Banco do Desenvolvimento (NDB). Mas é muito difícil chegar a consenso em temas políticos entre os cinco. Basta ver a declaração dos ministros de Relações Exteriores, na semana passada, quando abordam a guerra na Ucrânia. O documento relata as posições de cada um, pede mais diálogo, mas nem tem como elaborar uma posição comum.
A definição de países que seriam relevantes para entrar no Brics também causa dificuldades regionais. A África do Sul tem problemas enormes sobre qual país apoiar vindo da África, em meio à rivalidade econômica regional com a Nigéria. China, Rússia e Índia têm questões geopolíticas a resolver entre si. O Brasil tem uma situação singularizada como maior economia da América Latina.
A Argentina tem se oferecido para ser sócia, aparentemente visando se aproximar mais também das redes de financiamento da China, na interpretação de uma fonte. Até agora, Brasília apoia a adesão argentina basicamente ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics. “Conversas preparatórias” ocorrem entre o banco e o governo argentino.
Fonte: Valor Econômico
