Por Nikkei Asia, Valor — Pequim
21/09/2023 03h04 Atualizado há 6 horas
Pequim continua focada em injetar dinheiro na sua indústria de chips, numa corrida tecnológica contra os Estados Unidos, em vez de financiar poderosas medidas de estímulo, retardando ainda mais a sua recuperação econômica após uma recessão induzida pelo setor imobiliário.
A política parece refletir o objetivo do presidente chinês, Xi Jinping, de proteger a segurança econômica num contexto de tensões crescentes com Washington, em vez de alcançar um crescimento imediato.
Apesar das expectativas do mercado, o Banco do Povo da China (PBoC) optou por não cortar as taxas de juros na quarta-feira, depois de ter reduzido a taxa básica de referência para empréstimos com prazo de um ano em 0,1 ponto percentual em agosto.
Os novos empréstimos de médio e longo prazo para as famílias – uma categoria que inclui hipotecas – caíram cerca de 40% em relação ao ano anterior em agosto, o que levou alguns observadores do mercado a preverem um corte adicional na taxa com prazo de cinco anos, que é usada como taxa de juro.referencial para crédito à habitação, na próxima oportunidade.
A recente queda do yuan em relação ao dólar é vista como uma razão provável para a decisão de manter os juros. A moeda chinesa caiu para o nível mais fraco em relação ao dólar desde 2007 no início deste mês, impulsionada pela diferença entre as taxas de juros dos Estados Unidos e da China, e novos cortes arriscariam exacerbar o declínio da moeda.
Um declínio descontrolado da moeda poderia acelerar a fuga de capitais. A China registrou saídas líquidas de US$ 23,4 bilhões através de contas bancárias nos primeiros oito meses deste ano. Se a tendência se mantiver para o ano todo de 2023, será o primeiro ano de saídas em quatro anos.
A recuperação econômica da China tem sido fraca, uma vez que o mercado imobiliário permaneceu em recessão nos últimos dois anos. A perturbação causada pela política de tolerância zero com a covid-19 alimentou um profundo sentimento de incerteza entre empresas e famílias.
O governo realizou mesas-redondas com o setor privado e empresas estrangeiras para procurar soluções, mas as medidas que apresentou até agora, como a flexibilização da regulamentação imobiliária, careceram de força.
A China respondeu à crise financeira de 2008 com um pacote de estímulo de 4 trilhões de yuans (US$ 548 bilhões às taxas atuais), e alguns especialistas apelaram agora a despesas fiscais dessa escala, mas não há indicações de que Pequim esteja planejando repetir tais despesas.
As pesadas dívidas dos governos locais são um obstáculo, e alguns também citaram o lento crescimento das receitas fiscais. O “sistema fiscal da China depende de um modelo de crescimento liderado pelo investimento que está no fim”, afirmou num relatório recente o Rhodium Group, com sede nos Estados Unidos.
As receitas fiscais atingiram 13,8% do produto interno bruto (PIB) no ano passado, uma queda de quase 5 pontos percentuais em relação a 2014. Embora os cortes fiscais sejam um fator, a Rhodium aponta que as receitas estão em queda devido à desaceleração do investimento em duas áreas: infraestruturas e mercado imobiliário.
Confrontado com restrições orçamentárias, o governo central está se concentrando na segurança econômica, tomando medidas como fomentar um setor nacional de semicondutores e expandir a produção de veículos eléctricos. À medida que os Estados Unidos aumentam as restrições à exportação de chips avançados, Pequim está supostamente preparando um fundo de semicondutores de 300 bilhões de yuans.
No âmbito da iniciativa de modernização industrial “Made in China 2025” anunciada em 2015, o governo intensificou os subsídios a dez setores-chave, incluindo tecnologia da informação, máquinas-ferramentas e veículos de novas energias.
Os subsídios às empresas com ações do tipo “A” listadas na China continental duplicaram, passando de cerca de 125 bilhões de yuans em 2015 para 250 bilhões de yuans em 2022, segundo a empresa de investigação Wind.
Pequim anunciou na segunda-feira incentivos fiscais ampliados para empresas de semicondutores e máquinas-ferramenta, oferecendo uma dedução fiscal de 120% sobre gastos com pesquisa e desenvolvimento por cinco anos.
Em contrapartida, o governo tem sido cauteloso em relação a medidas como os pagamentos diretos às famílias utilizados pelas economias avançadas durante a pandemia. À medida que um mercado de trabalho fraco deixa as famílias relutantes em gastar, persistem preocupações quanto à possibilidade de a economia cair em deflação e num baixo crescimento crônico.
Fonte: Valor Econômico

