Acordo entre as farmacêuticas envolve a produção e comercialização de produto voltado para cicatrização na área de gastroenterologia
Por Stella Fontes e Ivo Ribeiro — De São Paulo
07/06/2022 05h02 Atualizado há um dia
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Omilton Visconde Junior, presidente da Cellera (à esq.) e Rafael Suarez, presidente da Ferring no Brasil e líder na AL: parceria em desenvolvimento de produto — Foto: Celso Doni/Valor
A brasileira Cellera Farma acaba de firmar um acordo com o laboratório suíço Ferring para produção e comercialização de um medicamento inovador para cicatrização na área de gastroenterologia. É o primeiro passo de uma parceria que poderá ser mais abrangente no futuro.
Para a Cellera, que tem como sócios o empresário Omilton Visconde Júnior e a gestora de private equity Principia Capital Partners, esse primeiro projeto representa transferência de tecnologia, ocupação de capacidade instalada da fábrica de Indaiatuba (SP) e novo salto de faturamento, com direito de primeira escolha de comercialização do novo fármaco.
Já a Ferring, que está presente em 56 países, passa a contar com produção local de um de seus fármacos e se valerá da capilaridade da Cellera para levá-lo a profissionais da saúde e farmácias brasileiros em todo o país. A biofarmacêutica, especialista em fertilidade, gastroenterologia e urologia, colocou no Brasil um de seus 12 centros de inovação e quer avançar em pesquisa e desenvolvimento localmente.
O novo medicamento, um gel que combina duas moléculas já existentes para acelerar o processo de cicatrização de fissura anal e controlar a dor, foi desenvolvido no país, no centro da Ferring – em projetos futuros, a Cellera poderá inclusive se juntar à multinacional nesta etapa.
O fármaco entrará na fase 3 de estudos clínicos em 2023 e pode chegar ao mercado em meados de 2025. Até agora, os investimentos no produto já alcançaram entre R$ 15 milhões e R$ 17 milhões, e outros R$ 5 milhões devem ser dispendidos até o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já na fase de lançamento (“go-to-market”), os investimentos estão estimados em R$ 50 milhões. “O produto será importante para as duas empresas”, diz o presidente no Brasil e líder para a América Latina da Ferring, Rafael Suarez.
Segundo a multinacional, a escolha da Cellera como parceira levou em conta a qualidade de seus ativos produtivos, que atendem às exigências de agências internacionais, e a disposição para investir em inovação. Além disso, a proposta é que os medicamentos desenvolvidos pela parceria possam ser internacionalizados sem necessidade de repetição dos estudos clínicos lá fora, explica o diretor de P&D e assuntos regulatórios da Ferring, Renato Faro.
Presidente da Cellera, Omilton Visconde Júnior afirma que a farmacêutica brasileira aposta em parcerias para crescer, ao mesmo tempo em que evita exposição a produtos comoditizados, em linha com o que a Ferring tem a oferecer. Com atuação nas áreas de sistema nervoso central (SNC) e gastroenterologia, a farmacêutica tem alguma participação em pediatria e avalia a entrada em ortopedia. “Nosso foco é inovação”, ressalta.
Visconde Júnior ficou conhecido por empreender sequencialmente no setor de saúde no país. Entre outras movimentações, ele vendeu a Biosintetica para o Aché em 2005 e, anos depois, vendeu a Segmenta, de soros hospitalares, para a Eurofarma. Em 2017, deu forma junto com o sócio de private equity à Cellera, resultado da compra do Instituto Terapêutico Delta e da empresa MIP Brasil Farma.
Para este ano, a previsão é que a farmacêutica brasileira fature R$ 500 milhões, dez vezes mais do que o registrado em 2017. O plano, conforme o empresário, é buscar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) quando a empresa alcançar a marca de R$ 1 bilhão – prevista para três a quatro anos.
A Ferring, formada em 1950, pertence a um só dono e está no Brasil desde 1985. Mundialmente, o grupo teve receita de €2 bilhões e investe 20% da sua receita por ano em P&D, disse Suarez.
Fonte: Valor Econômico