O setor de saúde suplementar deve mais um ano de resultado negativo. O crescimento da receita e os reajustes autorizados pelo regulador não têm sido suficientes para compensar a alta dos custos com tratamentos de saúde, aliada à maior frequência de uso de planos. A situação é mais crítica, segundo associações do setor, nos produtos de contratação individual/familiar, cujo teto de reajuste neste ano ficou em 9,63%, abaixo do que esperavam. Os planos individuais representam cerca de 20% do total da saúde suplementar, que hoje cobre perto de 50 milhões de vidas.
Operadoras evitam tratar abertamente do assunto. SulAmérica e Amil, por exemplo, informaram que temas setoriais devem ser tratados pelas entidades representativas, se referindo ao índice de reajuste e às dificuldades do setor. Já a NotreDame Intermédica alegou indisponibilidade do porta-voz.
Uma das críticas do setor é sobre a metodologia que a Agência Nacional de Saúde (ANS) usa para definir reajustes nas mensalidades. Para a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 13 grupos de operadoras, a agência não considera custos relevantes para o setor. “A sinistralidade das carteiras, a diferença entre modalidades de negócios, a regionalização de produtos, o fim da limitação de terapias e a velocidade da incorporação de procedimentos e medicamentos na lista de coberturas obrigatórias não são considerados”, afirma Vera Valente, diretora-executiva da federação. “O índice acaba ficando descolado do avanço real de custos verificado no setor.”
Relatório da agência de classificação de risco Fitch Ratings mostra a deterioração da rentabilidade da indústria de seguros de saúde como um todo. Embora o volume de prêmios tenha crescido, em média, 10% nos últimos dois anos, o aumento dos gastos no período foi maior, de 17%, o que gerou prejuízo operacional em 2021 e 2022. O retorno sobre patrimônio líquido médio caiu de 14%, de 2018 a 2020, para 6,6% nos últimos dois anos.