O governo Trump disse à Universidade Harvard que ela não poderá mais matricular estudantes estrangeiros, desferindo um golpe ainda maior na instituição após congelar bilhões de dólares em financiamento federal e levar sua luta contra as maiores universidades dos Estados Unidos a um nível sem precedentes.
O governo revogou a certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio da Universidade Harvard (SEVP), o que significa que a instituição não poderá mais matricular estudantes estrangeiros. Segundo o Departamento de Segurança Interna (DHS), os estudantes estrangeiros já matriculados precisarão ser transferidos para outras instituições ou perderão seu status legal no país.
Em um comunicado divulgado nesta quinta-feira (22), o DHS acusou a liderança da universidade de “criar um ambiente inseguro no campus ao permitir que agitadores antiamericanos e pró-terrorismo assediem e agridam fisicamente indivíduos, inclusive muitos estudantes judeus, além de comprometer o outrora respeitado ambiente acadêmico da instituição”. O departamento também acusou a liderança de Harvard de colaborar com o Partido Comunista Chinês.
Harvard respondeu afirmando que a medida do governo é ilegal. “Estamos totalmente empenhados em manter a capacidade de Harvard de receber estudantes e acadêmicos internacionais, vindos de mais de 140 países e que enriquecem imensamente a universidade – e esta nação”, disse um porta-voz em comunicado. “Estamos trabalhando rapidamente para fornecer orientação e suporte aos membros de nossa comunidade.”
Em abril, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, exigiu que Harvard submetesse os registros de qualquer atividade violenta ou ilegal de estudantes estrangeiros até 30 de abril, caso contrário a entidade perderia a certificação do governo federal para o programa de vistos estudantis. Segundo a própria universidade, quase 6.800 estudantes – 27% de todo o corpo discente – são estrangeiros, um aumento em relação aos 19,6% registrados em 2006.
“Este governo está responsabilizando Harvard por fomentar a violência, o antissemitismo e colaboração com o Partido Comunista Chinês em seu campus”, disse Noem nesta quinta-feira (22). “É um privilégio, e não um direito, para as universidades matricular estudantes estrangeiros e se beneficiarem de seus pagamentos de mensalidades mais altas para ajudar a aumentar suas doações multibilionárias.”
O bloqueio à matrícula de estudantes estrangeiros deve agravar ainda mais as pressões financeiras a que Harvard vem sendo submetida. Embora o governo Trump tenha reduzido o financiamento a pesquisas e criticado iniciativas de diversidade em outras universidades, nenhuma foi tão duramente atingida por sua tentativa de reformar o ensino superior quanto Harvard.
A instituição processou várias agências do governo americano por bloquear os recursos federais, depois que o governo exigiu mudanças em sua governança, na forma de admissão de alunos e na contratação de professores, além do fim da admissão de estrangeiros considerados hostis aos valores americanos e do fim da imposição da diversidade de pontos de vista.
Trump também defendeu a revogação do status de isenção fiscal da universidade, uma medida que Harvard, sediada em Cambridge, Massachusetts, advertiu que teria “graves consequências para o futuro do ensino superior nos EUA”.
Harvard, a mais antiga e rica universidade dos EUA, tornou-se um alvo para a Casa Branca em meio à campanha do governo para reformular profundamente as principais instituições de ensino superior do país. Essas universidades passaram a ser alvo de críticas após os protestos pró-Palestina que eclodiram após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 e da resposta israelense na Faixa de Gaza. O governo Trump afirma que está tentando combater o antissemitismo e ampliou seus ataques para incluir iniciativas de diversidade e o que considera viés ideológico de esquerda.
O presidente de Harvard, Alan Garber, reagiu, dizendo que a universidade “não renunciará à sua independência ou aos seus direitos constitucionais”. Garber, que é judeu, tem reiterado que Harvard está disposta a colaborar com o governo no combate ao antissemitismo – algo que ele admite ser um problema no campus -, mas afirma que as exigências da Casa Branca ameaçam a liberdade acadêmica.
O “The New York Times” informou a ação do governo em relação aos estudantes estrangeiros. A medida dá continuidade ao ataque do governo Trump à liberdade de expressão e à autonomia universitária, disse Robert Shireman, um ex-sub-secretário adjunto de Educação do governo Obama, hoje pesquisador sênior da Century Foundation.
“Os acadêmicos estrangeiros trazem enormes benefícios para os EUA”, disse Shireman. “Esta é uma tentativa maliciosa de sufocar o intercâmbio de ideias, impondo em seu lugar um controle centralizado sobre os estudos científicos e históricos.”
Fonte: Valor Econômico

