O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse que um mercado de trabalho aquecido tem tornado a tarefa de controlar a inflação um desafio, pois o processo de levar o crescimento inflacionário de volta à meta tem sido mais lento do que o esperado.
“Tem sido desafiador ter um processo de desinflação com o mercado de trabalho aquecido, especialmente em mercados emergentes como o Brasil”, disse Campos Neto no sábado (24), na conferência anual do Federal Reserve de Kansas City, em Jackson Hole, Wyoming. Ele também afirmou que os aumentos dos preços ao consumidor estão acelerando em toda a América Latina.
“O Brasil sempre teve um histórico de inflação mais alta do que outros mercados emergentes, mas estamos neste momento em que o processo de desinflação está estagnado”, disse ele. Parte disso “tem a ver com como você continua esse processo com o mercado de trabalho aquecido?”
Os formuladores de políticas liderados por Campos Neto mantiveram as taxas de juros estáveis no Brasil em 10,5% após suspenderem em junho um ciclo de flexibilização que durou quase um ano. A inflação anual atingiu o limite da meta em julho, e os indicadores de atividade superaram as estimativas. Além disso, os banqueiros centrais têm monitorado o mercado de trabalho em busca de sinais de novas pressões inflacionárias, à medida que os custos dos serviços aumentam.
Programas de transferência de renda do governo, antes usados para suavizar os impactos da pandemia no mercado de trabalho, aumentaram recentemente, disse Campos Neto no sábado (24). No entanto, a melhoria nas expectativas sobre o cenário fiscal do país ajudou a reduzir as taxas de juros do Brasil no passado, apoiando a ideia de que quanto mais coordenadas são as políticas fiscal e monetária, “mais eficaz você é”, disse o presidente do Banco Central.
Banqueiros centrais em todo o mundo “precisam entender que a inflação está convergindo, mas o processo teve um custo significativo para a sociedade”, disse ele.
Em uma série de discursos públicos nesta semana, muitos membros do Banco Central, incluindo Campos Neto, disseram que permanecem dependentes dos dados e evitaram dar orientações sobre o rumo das taxas de juros. Campos Neto afirmou que a inflação no Brasil deve desacelerar nos próximos meses, acrescentando que o banco está disposto a aumentar os custos de empréstimos, se necessário.
Ainda assim, traders e um número crescente de economistas esperam que o Banco Central reverta o curso e comece a aumentar as taxas de juros já no próximo mês.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou as altas taxas de juros como um obstáculo ao crescimento, em breve nomeará um substituto para Campos Neto antes do fim do mandato do atual presidente em dezembro.
O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, aliado de Lula e favorito para se tornar o próximo presidente, disse esta semana que um aumento está em pauta para a próxima decisão sobre a taxa de juros em setembro.
Analistas consultados pelo Banco Central preveem que os aumentos dos preços ao consumidor permanecerão acima da meta de 3% até pelo menos 2027.
Fonte: Valor Econômico
