O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou durante audiência pública na Câmara dos Deputados que as decisões sobre intervenções no câmbio são colegiadas e que são feitas se houver alguma disfuncionalidade. A fala sobre o câmbio aconteceu em resposta a uma pergunta do deputado Paulo Guedes (PT-MG), que alegou que a autoridade monetária “não fez nada” para enfrentar a alta do dólar.
Campos Neto apontou que a decisão de não fazer a intervenção foi tomada olhando todas as variáveis e entendendo que “naquele momento” não tinha disfuncionalidade grande em relação a outros mercados, o que tinha era uma percepção de piora de risco do Brasil”.
“O que significa disfuncionalidade? É uma palavra difícil, às vezes você precisa interpretar. Bom, o preço saiu muito do fundamento? Teve uma operação que gerou gap de liquidez? Ou seja, teve uma operação que foi muito grande em um período curto de tempo e o mercado não conseguiu se adaptar? Tem várias coisas que nós discutimos.”
Na segunda-feira da semana passada, o dólar foi a R$ 5,86, maior nível desde março de 2021, com temores de desaceleração brusca nos EUA e aversão global ao risco, além de efeito da reversão do “carry trade” no Japão, operação em que investidores captam recursos em mercados com juros mais baixos para ganhar no diferencial em países com taxas altas.
De acordo com o presidente do BC, toda vez que o mercado está nervoso, há discussão se é hora de fazer intervenção. Campos Neto ressaltou que o BC tem muitas reservas e “vai fazer intervenção se preciso”. Atualmente, o BC tem US$ 365,9 bilhões em reservas.
Campos Neto ressaltou que a área do câmbio está sob um diretor indicado pelo governo Lula, o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo. “Nós discutimos muito com outros diretores também. Não é uma decisão somente do presidente”, disse. O presidente do BC disse que “é uma decisão de colegiado” e a discussão sobre o câmbio acontece no dia a dia.
Na audiência pública, Campos Neto respondeu questões sobre a condução da política monetária. Ele ressaltou que a meta de inflação, em 3% para este ano, é definida pelo governo. “A gente quer trazer a inflação para a meta porque é nosso mandato e o mandato foi dado pelo governo.” O presidente do BC ainda disse que quatro membros da diretoria da instituição foram indicados pelo atual governo e que “estamos em consonância total”. Ele ressaltou que as últimas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) têm sido unânimes. “Teve duas falas de diretores, inclusive diretores que foram apontados por esse governo dizendo, olha, ‘nós vamos fazer o que tiver que fazer para a inflação atingir a meta e se tiver que subir os juros, e se for necessário, vai ser feito”.
Fonte: Valor Econômico

