Instituto tem trabalhado no desenvolvimento de uma nova geração de vacinas contra covid-19
Por Marcos de Moura e Souza — De São Paulo
16/05/2022 05h00 Atualizado há 5 horas
Fornecedor da primeira vacina contra covid-19 usada no Brasil, o Instituto Butantan está levando em conta um cenário no qual o coronavírus continuará circulando pelos países, inclusive pelo Brasil, por pelo menos mais cinco anos. E que isso deverá fazer com que governos adotem campanhas anuais de reforço na imunização.
Esse é um cenário que divide especialistas, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não se posicionou claramente a respeito da necessidade de que os países passem a adotar em seu calendário de vacinação anual novas doses do imunizante contra covid, como é feito com a gripe.
Apesar das incertezas epidemiológicas e da indefinição sobre a necessidade ou não de campanhas de reforço, o Butantan, assim como diversos players da indústria farmacêutica, tem trabalhado no desenvolvimento de uma nova geração de vacinas contra covid-19, disse ao Valor o novo diretor de negócios do instituto do governo paulista, Hubert Guarino.
A nova geração da Coronavac – que vem sendo desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com Butantan – levará em consideração a variante ômicron e suas subvariantes, que têm presença dominante em diversos países, entre eles o Brasil. As vacinas atuais ainda usam como plataforma o vírus original identificado inicialmente na China no fim de 2019.
A OMS ainda não apresentou uma recomendação sobre a formulação das futuras vacinas.
“Em algum momento, quando houver informações e conhecimento suficientes em relação a esse novo vírus, a OMS vai ter e se posicionar e fazer uma recomendação sobre qual deverá ser a composição das futuras vacinas, que possam manter as pessoas protegidas contra as variantes circulantes”, disse Guarino.
Enquanto isso, a indústria farmacêutica investe nas pesquisas e no desenvolvimento de suas novas vacinas anticovid.
E, se existem dúvidas sobre a composição das vacinas de próxima geração e sobre a rotina ser adotada nos próximos anos em relação ao reforço na proteção contra covid, Guarino repete uma avaliação que para muitos médicos e pesquisadores é algo incontestável: que o coronavírus continuará circulando ainda por anos.
“Considerando a capacidade de mutação que ele tem, é muito improvável que nos próximos cinco anos você possa imaginar que o coronavírus deixará de circular. A tendência é que seja mais como o que acontece com a influenza, a gripe: um vírus com o qual nós vamos ter que conviver”, afirma.
“Eu não vejo como o Brasil poderá deixar de adquirir e deixar oferecer doses de vacina contra covid-19 para sua população.”
Há muitas questões ainda em aberto e, lembra ele, tudo vai ser em função da epidemiologia. “Mas penso que nos próximos cinco anos continuará ser necessário proteger a população contra o vírus e as suas mutações.”
Nascido em Paris, Guarino passou parte de sua infância e adolescência com a família no Rio. Voltou para a França, onde estudou e se formou na escola de administração e negócios. Iniciou sua vida profissional no grupo Rhodia e nos anos 90 estava de volta ao Brasil, como diretor da Sanofi Pasteur. Foi quando o laboratório forneceu vacinas para a primeira campanha de imunização contra a gripe. “Na época, em 1995, eram vendidas 5 mil doses por ano; em 1999 foram 15 milhões de doses da vacina.”
Guarino assumiu há poucos dias o cargo de diretor de negócios do Butantan. Uma de suas missões será abrir portas para exportações de vacinas do Butantan, sobretudo para a América Latina.
O instituto, que teve um papel-chave no começo da campanha de vacinação contra covid-19 no Brasil, não chegou a exportar doses do imunizante.
No ano passado, o Butantan vendeu 100 milhões de doses da Coronavac para o ministério. E no início deste ano mais 10 milhões. O instituto tem capacidade de produzir 200 milhões de doses de vacinas por ano – contra influenza, covid e outras doenças. Uma vez que a nova unidade fabril (cujas obras estruturais foram finalizadas há algumas semanas) estiver operando, a capacidade produtiva vai saltar para cerca de 300 milhões de doses.
Guarino lembra que atender ao Ministério da Saúde é a primeira prioridade do Butantan. Depois, vem a possibilidade de fornecimento a outros países.
O instituto fez duas exportações recentes da sua vacina contra influenza: uma para o Uruguai e outra para a Nicarágua.
Fonte: Valor Econômico