O Brasil tem sido parte integrante dos principais mandatos de investidores internacionais, diz Fernando Cortez, diretor de distribuição da gestora Schroders no país. “Sem dúvida, se houver um movimento de diversificação para emergentes, seja em dívida, seja em renda variável, o Brasil vai captar recursos. Embora seja um momento de incertezas e de volatilidade, que vai continuar nos próximos meses, sob o ponto de vista de ‘valuation’, o mercado é atrativo.”
Ele cita que, na renda variável, as ações que compõem o Ibovespa têm sido negociadas com um preço/lucro (P/L, parâmetro que dá uma ideia do prazo de retorno do capital investido) de seis a sete vezes, um dos menores múltiplos da série histórica, com um retorno em dividendos da ordem de 12%. “Quando se coloca isso nos modelos de alocação quantitativa versus outros emergentes, o Brasil está numa posição boa.”
Em janeiro, até o dia 26, o estrangeiro tinha trazido liquidamente R$ 9,92 bilhões para o secundário da B3. Em 2022, o capital externo colocou quase R$ 100 bilhões, enquanto outros investidores locais tiraram seus recursos.
Em relatório, a equipe de renda variável da Guide Investimentos escreve que o fluxo que tem inundado a bolsa brasileira tem surpreendido e que o movimento pode estar relacionado ao “valuation” atrativo, a dois desvios abaixo da média histórica, e também a perspectivas de maior crescimento no Brasil e chances de corte de juros. Já as economias desenvolvidas estão às voltas com políticas de aperto monetário e a sombra de uma recessão. “Outro ponto que chama a atenção no Brasil é que o lucro das empresas vem crescendo, favorecido pela alta das commodities.” E não se trata de uma “armadilha” de valuation em que a ação parece barata mas a expectativa é de resultados mais baixos, notam os analistas. A avaliação é que as companhias têm resistido bem à desaceleração econômica.
Na bolsa local, Cortez, da Schroders, afirma que as principais oportunidades estão em setores de “valor”, bloco que abarca, por exemplo, bancos, concessionárias de serviços públicos e ações ligadas à cadeia de commodities.
Com a reabertura da economia chinesa, após restrições impostas pela política de covid zero no país, Cortez diz que a gestora tem mapeado, desde o fim do ano passado, os ativos que podem se beneficiar desse tema. Minério e petróleo são as preferências.
Quando olha as opções entre os emergentes, o capital externo mostra disposição para alocar no Brasil, quer ouvir uma boa história, diz Eduardo Ventura, executivo que lidera o private banking do Citi no país. “Não é uma posição grande para ele, mas os movimentos costumam ser mais rápidos. Na distribuição da alocação, não é a maior parcela, mas olha no relativo e quer ver algo de longo prazo interessante. Se o país se ajudar, a narrativa deixa de ser apenas tática [de curto prazo]”, afirma.
Rafael Bisinha, especialista em mercados locais do Citi, acrescenta que o Brasil “está bem na foto” quando se olha para a fronteira agrícola, o espaço para ampliar a produção de energia renovável ou mesmo fóssil. Além disso, ele cita que iniciativas tomadas no passado vêm maturando, já há investimentos contratados em parcerias público-privadas. “Me parece que isso vai continuar andando porque, na gênese do negócio, há os mesmos atores que participaram lá atrás”, diz. “Tem fruto para colher, isso não pode ser subestimado.”
Fonte: Valor Econômico

