Jane Fraser está animada com o Brasil. A CEO global do Citi vê o país em trajetória ascendente, com bons fundamentos econômicos e algumas vantagens num mundo em transformação – ser grande produtor de alimentos e de energia limpa, por exemplo.
A executiva, que já foi presidente do banco para a América Latina, afirma que o país aparenta estar, de alguma forma, “subvalorizado” hoje. “Parece, para mim, que o Brasil pode surpreender para melhor.”
Fraser também se mostra mais confortável com a situação atual das contas públicas brasileiras que seu antecessor, Michael Corbat. Numa entrevista no fim de 2018, o executivo disse que o banco poderia reduzir investimentos se o país não avançasse em reformas fiscais. “Estamos genuinamente otimistas, desde que o governo continue o fazendo o que está fazendo”, diz a executiva.
A CEO do Citi concedeu entrevista ao Valor na quarta-feira, durante rápida visita ao país, em que esteve com o presidente Lula e o ministro Fernando Haddad em Brasília, depois de passar alguns dias na Argentina e antes de seguir para o México. Leia os principais trechos:
Valor: O Citi passa por uma grande reformulação. Sua visita está relacionada a isso?
Jane Fraser: É uma visita normal, eu não vinha há um tempo, era hora de voltar. Não tem a ver com nossa estratégia. É sempre útil estar presencialmente, ouvir, conhecer pessoas, saber o que está acontecendo. O Brasil está claramente em uma trajetória muito boa. Enquanto no resto do mundo o crescimento está suavizando, vemos aceleração aqui, e fundamentos muito fortes. É interessante vir, falar com clientes, saber do que estão precisando, como estão vendo a situação, como podemos realizar conexões ao redor do mundo. Vemos muitos brasileiros na Ásia, há muito interesse do Oriente Médio no Brasil.
Valor: Essa visão positiva sobre o Brasil vai resultar em mais investimentos para o país?
Fraser: Vamos dar nosso melhor para ajudar a fazer isso acontecer. São tempos interessantes, porque os fundamentos econômicos estão muito bons ou melhorando. Fiquei impressionada de ver o avanço real dos salários, do emprego, a Selic caindo, a inflação melhorando, a expectativa de um crescimento acelerando gradualmente. Não será um crescimento louco, mas acelerando ao longo do ano. É uma dinâmica diferente da que vemos em muitos países. A Europa está em estagnação, os EUA estão vendo uma suavização, então é um momento interessante para o Brasil. Em segundo lugar, quando vemos as dinâmicas mudando no mundo, o Brasil tem fortalezas em alimentos, energia, toda a questão verde. E quem não ama o empreendedorismo brasileiro? Há empresas muito interessantes, inovadoras. É como se, sob alguns aspectos, o Brasil fosse um país subvalorizado no momento. Não por nós, é claro. Globalmente, há tensões entre China e Estados Unidos, eleições em vários lugares. O Brasil parece ser um país que pode passar por tudo isso, não importa como diferentes cenários se desenrolem. O Brasil tem escala. O México também, e está recebendo atenção em função do “nearshoring” [aproximação das cadeias produtivas do mercado consumidor]. Parece, para mim, que o Brasil pode surpreender para melhor.
Fonte: Valor Econômico

