06/06/2022 – Jornalista: DANIEL REIS
Choque de juros nos Estados Unidos e na Europa, lockdown na China e conflito entre Rússia e Ucrânia. Juntas, essas circunstâncias têm criado a ?tempestade perfeita? nas bolsas de valores mundiais e penalizado os ativos da renda variável. No acumulado do ano, Nasdaq e S&P 500 acumulam quedas de 23,13% e 14,34%, respectivamente. Já o Ibovespa, após ter registrado queda de 10,10% em abril, se recuperou em maio e agora tem ganho geral de 5,99% em 2022.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, explica que a volatilidade atual na renda variável é incomum, especialmente para as bolsas americanas, e ocorre em momentos de forte correção e de ?quase pânico?. Ele também diz acreditar que a Bolsa nacional deve ter uma performance ainda melhor no médio e longo prazo. Segundo ele, ainda não é o momento de ir às compras, a não ser que o investidor tenha muito estômago.
No entanto, diz, a bolsa está muito barata e há oportunidades. Estamos vivendo um momento de muitas incertezas no mundo. Qual é o maior desafio para o investidor de renda variável? As bolsas brasileiras acabaram sofrendo um contágio, com a fuga de investidores preocupados com as bolsas do exterior. A bolsa brasileira era o grande destaque mundial e subiu 35% em dólar do início do ano até março. Estruturalmente, o Brasil ainda é uma boa oportunidade. O que ocorreu foi a reprecificação de risco do mundo e a mudança da trajetória dos juros nos EUA.
Olhando a médio e longo prazos, o Brasil ainda tem muita chance de se recuperar. As altas que víamos eram das commodities, principalmente Petrobras, Vale, PetroRio, siderúrgicas e bancos. Por outro lado, quem sofreu demais foram as small caps (empresas avaliadas em até R$ 2 bilhões), porque são ações de baixa liquidez. Quando os grandes investidores saem, o efeito é dramático. Mas é importante lembrar que no ano que vem teremos um ciclo de cortes de juros no Brasil, com muito espaço para alta da bolsa brasileira. Não estou falando que o Brasil está bombando, mas não há sinais de recessão.
O Brasil está resiliente e o preço dos ativos não está compatível com a situação estrutural macroeconômica do País. Onde estão as oportunidades? A bolsa brasileira está muito barata. Temos grande chance de uma boa recuperação no segundo semestre. Não é para sair comprando bolsa agora, só se você tiver muito estômago e uma capacidade de ficar nas posições por muito tempo, porque a correção americana ainda não acabou.
E como identificar o momento de ir às compras? Os clusters (aglomerações) de volatilidade são interessantes para observarmos. Quando as bolsas estão caindo 3% e 4% ao dia, é um sinal de que os nervos estão à flor da pele. Quando voltarmos para uma oscilação mais normal, quedas de 1% e 0,5%, é o sinal de que os mercados se acalmaram e digeriram o choque de juros dos EUA. Eu olharia isso para aí sim começar a montar posições no Brasil.
Claro, não pode esperar demais senão o Brasil pode voltar rápido e ficar caro. A ideia é comprar ao som dos canhões e vender ao som dos violinos. Quais setores estão valendo a pena? Para o curto prazo, commodities, que foram bem castigadas com o lockdown na China. Bancos também, que estão surfando esse cenário de juros altos. Para médio e longo prazo, destaco mid e small caps, as cíclicas domésticas. Quando o Brasil voltar a crescer no ano que vem e a Selic voltar a cair, aí haverá um espaço muito grande para essas ações.
Há alguns meses, a China anunciou um programa de investimentos em infraestrutura. O Sr. acredita que essa medida pode reverter a desaceleração da economia chinesa? Assim que passar essa onda de covid, o governo vai pisar no acelerador com toda a força. É difícil prever quando vai passar, mas me parece que, lá para julho, os estímulos virão com força e isso será mais uma carga para preços de commodities. Além das commodities, toda a cadeia do agronegócio se beneficia.
O investidor brasileiro precisa observar a China mais de perto? Hoje 10% das exportações brasileiras vão para os Estados Unidos e 30% vão para a China. A China é tão importante para o Brasil quanto os Estados Unidos. Claro que os EUA têm o peso das finanças, mas deveríamos desenvolver essa cultura no Brasil de olhar para a China. Investir já é um pouco mais delicado, tem ETFs que replicam grandes empresas da bolsa de Xangai, operacionalmente é relativamente tranquilo. Mas eu sou um pouco cético em relação ao pequeno investidor sair fazendo investimentos em outros países sem o devido estudo.
Fonte: O Estado de S.Paulo

