
Apesar do nome, o SoftBank não é um banco. O grupo japonês é uma das maiores empresas de investimento do mundo com foco em tecnologia. A companhia fundada em 1981 tem como característica a visão de longo prazo. Nos anos 80, percebeu que o computador pessoal iria se tornar algo massivo e investiu na Microsoft. Na década seguinte, fez o mesmo com a internet. Agora, o foco é inteligência artificial. Não há pressa para vender participação e sair com lucro.
“O SoftBank investiu US$ 20 milhões no Alibaba (plataforma de e-commerce chinesa fundada em 1999) antes do IPO (abertura inicial de capital, na sigla em inglês). O Alibaba se torna a maior empresa de internet da China. E aquela posição de US$ 20 milhões chegou a valer US$ 2 bilhões. Um investidor normal diria: ‘Investi US$ 20 milhões, agora vale US$ 2 bilhões. Vou vender’. O Masa (Masayoshi Son, fundador do SoftBank) falou: ‘Eu acredito que isso vai continuar criando muito valor. Vou continuar’. Esses US$ 20 milhões, no momento de pico, chegaram a valer mais de US$ 300 bilhões. Um bom investidor não é só aquele que acerta, é aquele que sabe qual o momento de sair”, diz Alex Szapiro, head do SoftBank no Brasil e managing partner para a América Latina.
Nesta conversa com o Estadão, ele explica as estratégias do grupo no Brasil e na América Latina.

O SoftBank não é um banco. O que ele é?
Muita gente se confunde com isso. Entre outras operações, o SoftBank tem três fundos de venture capital (que compra participação em empresas). Um fundo de US$ 100 bilhões, que é o Vision Fund 1, já totalmente alocado. Temos um fundo de pouco mais de US$ 60 bilhões, que é o Vision Fund 2, e o fundo da América Latina, que a gente chama Latin America Vision SoftBank VC. É um fundo de US$ 8 bilhões que alocamos na América Latina, grande parte no Brasil. O SoftBank tem empresas de telefonia (as operadoras americanas Sprint e T-Mobile, hoje unificadas); o Masa é o maior acionista da Arm, empresa de chip que concorre com a Nvidia. Mais recentemente, se tornou um dos maiores investidores da OpenAI.
E por que o nome SoftBank? Vocês não fazem captação, não têm clientes, né?
Na verdade, exceto o Vision Fund 1, que é um fundo que tem capital externo, todo o resto, geralmente, é capital proprietário. Mas a história começa na capacidade de enxergar o futuro. O Masa entendeu que computador pessoal, o PC, iria se tornar algo massivo. Bateu na porta do Bill Gates (fundador da Microsoft) e disse: “Eu sou a pessoa mais capaz para te representar no Japão”. E aí nasce SoftBank, que é basicamente uma empresa que vai vender software.
Um banco de software.
Um banco de software.
E como surgiu o interesse por investimentos no Brasil e na América Latina?
Marcelo Claure (atualmente vice-presidente do grupo Shein) começou o fundo da América Latina. A conta era: se a América Latina representa mais ou menos 5% do PIB mundial e eu estou montando um fundo de US$ 100 bilhões, eu deveria colocar 5%, ou US$ 5 bilhões, para a América Latina. Esse foi nosso primeiro fundo. Depois veio outro, de US$ 3 bilhões. Então, foi um pouco nesse conceito que se formou, em 2019, o SoftBank América Latina. O Masa acerta no mercado de computador pessoal, nos anos 80. Depois, olha a internet e fala: “Essa é a próxima coisa do futuro. Torna-se investidor no Alibaba, com US$ 20 milhões, antes do IPO (abertura inicial de capital, na sigla em inglês). O Alibaba se torna a maior empresa de internet da China. Aquela posição de US$ 20 milhões no IPO chegou a valer US$ 2 bilhões. Um investidor normal diria: “Investi US$ 20 milhões, agora vale US$ 2 bilhões. Vou vender”. Ele disse. “Eu acredito que isso vai continuar criando muito valor. Vou continuar. Esses US$ 20 milhões, no momento de pico, chegaram a valer mais de US$ 500 bilhões. Um bom investidor não é só aquele que acerta, é aquele que sabe também qual o momento de sair.
E qual a visão dele sobre a América Latina?
Eu acho que a gênese desse investimento foi que o capital iria ser muito importante para grandes mudanças. Em nosso portfólio na América Latina, temos mais de 77 empresas investidas.
Pode citar algumas?
Tem várias. QuintoAndar, Petlove, Nubank, Banco Inter, Creditas, Kavak, Witex…
Da maneira que o mundo está se desenhando, com o fator Trump, como vocês escolhem as empresas?
Olhamos várias coisas. Logicamente, a qualidade do time, a tese. Investimos hoje só em tecnologia e IA. Olhamos o tamanho do mercado. Muitas vezes a capacidade da empresa de pegar aquilo que ela está fazendo e exportar o modelo de negócio para o mundo. Um exemplo é o Wellhub (plataforma de academias de ginástica). É um ótimo exemplo de empresa brasileira que se tornou uma empresa global com foco em empresas). Tem operações nos EUA, na Europa. Olhamos para rentabilidade e crescimento. Mas muitas vezes é muito mais o plano. Você faz um plano para a empresa, não obrigatoriamente tem de dar lucro quando a gente está investindo, mas tem de provar que há alguma razão para uma eventual queima de caixa. Ok, estou gastando porque estou lançando um novo mercado ou porque há uma área para a gente investir. Somos investidores do Rappi. O Rappi investiu num negócio que é o Rappi Turbo, de entrega. Você faz a compra no supermercado e ele entrega em até 15 minutos. São pequenos armazéns espalhados pelos bairros de São Paulo, casas que a gente chama de dark store. Essa é uma empresa que teve de investir até chegar à rentabilidade.
Em uma projeção para quatro, cinco anos, quais seriam os setores que têm maior atração para vocês?
A nossa tese recente é IA, onde empresas com grande domínio de dados podem ter uma vantagem competitiva.
Fonte: Estadão

