Por Matheus Prado, Gabriel Roca e Igor Sodré — De São Paulo
30/06/2022 05h05 Atualizado há 6 horas
O mercado acompanhou de perto a divulgação do relatório da PEC dos Combustíveis, apresentado na manhã de ontem pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Com a previsão de despesas que totalizam R$ 38,75 bilhões e o reconhecimento de Estado de emergência, o texto alimentou as preocupações fiscais entre os agentes e contribuiu para uma piora do “risco Brasil” e a queda do Ibovespa, enquanto houve uma correção dos excessos nos mercados de câmbio e de juros futuros.
De acordo com a IHS Markit, o risco Brasil medido pelos contratos de cinco anos do CDS subiu a 302 pontos, em novas máximas desde maio de 2020, ao mesmo tempo em que o Ibovespa recuou 0,96%, para 99.622 pontos, abaixo, portanto, do nível psicologicamente importante dos 100 mil pontos.
“O maior problema com as últimas propostas não é o custo, mas a possível deterioração adicional na credibilidade das instituições brasileiras”, afirma o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, ao citar como exemplos a Lei Eleitoral e o teto de gastos. “As medidas tomadas para justificar a expansão ou criação de benefícios diretos para segmentos da população a menos de cem dias das eleições cria um precedente preocupante, que pode ser explorado em eleições futuras”, enfatiza.
Na medida em que as eleições se aproximam, as discussões sobre alternativas à versão atual do teto de gastos devem ganhar impulso no segundo semestre, observa Secemski, em relatório enviado a clientes. “Embora nenhuma proposta real esteja sobre a mesa neste momento, esperamos que o ruído aumente nos próximos meses, porque os mercados tendem a ser muito sensíveis a essas discussões devido à incerteza inerente envolvida no complicado – e muitas vezes imprevisível – processo legislativo das emendas constitucionais.”
Na bolsa, a diminuição do apetite por risco se materializou na queda das ações das empresas mais representativas do Ibovespa. Os papéis ordinários da Petrobras caíram 1,37%, enquanto os preferenciais recuaram 0,88%. Ainda entre as “blue chips”, Itaú PN cedeu 1,03%, Bradesco PN caiu 1,73% e Vale ON perdeu 0,83%, em um dia também negativo para os preços do petróleo e do minério de ferro nos mercados internacionais.
“O imbróglio fiscal segue pesando muito nos negócios. Estamos vendo um esforço muito grande por parte do Legislativo e do Executivo para passar mais emendas e gastar mais, com a eleição à vista. Assim, entendo que o Ibovespa deve continuar volátil até o pleito, haja vista que o fluxo de investimento estrangeiro também foi perdendo força ao longo do ano”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Nos últimos dias, inclusive, os juros de longo prazo, que são bastante sensíveis aos debates sobre os rumos das contas públicas, têm flertado com as máximas do ano. Ontem, porém, houve um alívio no mercado, ajudado pelo exterior, onde os rendimentos dos Treasuries exibiram forte queda. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuou de 12,84% para 12,765% na B3.
Além de fatores externos, o recuo dos juros futuros foi potencializado pela queda do dólar contra o real. A moeda americana recuou 1,38% no mercado à vista e encerrou o dia a negociada a R$ 5,1922. Esse movimento destoou do comportamento do dólar no exterior e esteve atrelado à formação da Ptax de fim de mês, que costuma aumentar a volatilidade no mercado.
Fonte: Valor Econômico

