A decisão se dá em meio a preocupações de que o presidente Donald Trump imponha tarifas sobre produtos farmacêuticos
A japonesa Eisai e sua parceira americana Biogen vão transferir parte da produção dos ingredientes ativos de seu tratamento para a doença de Alzheimer, o lecanemab, para os EUA, em meio a preocupações de que o presidente Donald Trump imponha tarifas sobre produtos farmacêuticos.
O lecanemab foi aprovado nos EUA em 2023 como o primeiro medicamento do mundo a retardar o declínio cognitivo associado ao Alzheimer. O tratamento também recebeu aprovação no Japão, China, Europa e outros lugares, com seu uso se espalhando gradualmente.
A americana Biogen cuida da fabricação do lecanemab. A empresa produz os ingredientes ativos em uma fábrica na Suíça e, em seguida, processa e embala o medicamento em uma fábrica no estado americano da Carolina do Norte antes de fornecê-lo domesticamente e para outros países.
A Biogen está se preparando para construir uma linha de produção de ingredientes ativos em sua fábrica na Carolina do Norte e solicitará licenças de construção às autoridades regulatórias. A empresa parece determinada a iniciar a produção nos EUA dentro de um a dois anos. A produção na fábrica suíça não será descontinuada.
A japonesa Eisai considera a planejada produção de ingredientes ativos nos EUA uma medida de redução de custos, mas também serve para mitigar os efeitos de potenciais tarifas americanas sobre produtos farmacêuticos.
Detalhes sobre as possíveis tarifas, como prazo, países-alvo e escopo, não estão claros, mas as principais empresas farmacêuticas já estão tomando medidas.
Em fevereiro, a Eli Lilly anunciou planos de investir US$ 27 bilhões nos EUA para construir três fábricas de ingredientes ativos e uma fábrica de terapia injetável.
“Nesses quatro novos locais, a Lilly espera criar mais de 3 mil empregos para trabalhadores altamente qualificados”, disse a empresa em um comunicado à imprensa.
O CEO da Pfizer, Albert Bourla, disse em uma conferência de saúde em Boston, em março, que “se algo acontecer, tentaremos mitigar isso transferindo de locais de fabricação no exterior para os locais de fabricação aqui”.
Um executivo farmacêutico japonês disse que “dependendo da situação, talvez tenhamos que desistir de expandir instalações em outros países e considerar investir em instalações nos EUA”.
Em uma pesquisa de 2025 com 176 empresas japonesas divulgada em março pela KPMG Consulting e Thomson Reuters, 66,1% das empresas citaram mudanças de política pela nova administração dos EUA como um risco de segurança econômica e geopolítico, superando o fortalecimento das restrições à China, com 59,1%, e a guerra na Rússia e Ucrânia, com 36,3%.
Quanto aos riscos e questões futuras a serem abordadas, 30% das empresas citaram a necessidade de revisar as cadeias de suprimentos.
Os EUA são o maior mercado farmacêutico, representando 40% das vendas globais. Suas importações em 2023 atingiram US$ 203,2 bilhões em termos de desembaraço aduaneiro, superando em muito as exportações, que ficaram em US$ 100,9 bilhões, informa a Japan External Trade Organization.
Com os EUA sendo considerados particularmente dependentes da China e da Índia para ingredientes ativos, é possível que as tarifas de Trump se estendam a esse setor.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/f/J/B0E1AjSkaf8u97yoOREg/432206489.jpg)
Fonte: Valor Econômico